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Nós criamos os psicopatas
Nós criamos os psicopatas
A cidade, um organismo vivo e pulsante, é o nosso lar. Suas ruas são veias, transportando a energia da vida e as promessas do futuro. Seus edifícios são células, cada um com sua história e seu propósito. É um lugar de beleza e progresso, mas também de sombras e segredos.
Nas periferias dessa cidade, nascem sementes. Sementes que, com o tempo, podem se tornar árvores majestosas ou ervas daninhas. A maioria dessas sementes é plantada com carinho, em solo fértil, irrigadas com amor e atenção. Mas algumas, por descuido, negligência ou crueldade, caem em solo estéril e pedregoso.
E é desse solo que nasce uma criatura peculiar: o Predador do Asfalto. Ele não se parece com os outros. Seus galhos são secos, seus frutos, venenosos. Suas raízes são profundas, mas não se prendem à terra, e sim à escuridão que se esconde debaixo das fundações da cidade. Ele é, no início, um arbusto solitário, ignorado pela maioria dos cidadãos. Mas cresce, e cresce rápido, alimentado pela ausência de luz. Ele aprende a se camuflar, a imitar as flores dos jardins, a disfarçar suas folhas secas com um brilho artificial.
O Predador do Asfalto é uma criatura da cidade, mas não para a cidade. Ele não sente a energia pulsante das veias, não se importa com a história das células. Ele é o vazio que se esconde em meio à multidão, o silêncio que grita nas noites mais barulhentas. Ele aprendeu a jogar o jogo da sociedade, a seguir suas regras, a imitar seus gestos, mas sem nunca pertencer a ela. Ele é o reflexo mais escuro do que somos, um espelho trincado que nos mostra uma imagem distorcida e assustadora.
Nós o criamos.
Nós somos a cidade. Nós somos o solo pedregoso, o ar envenenado pela poluição das nossas promessas não cumpridas. Somos a falta de água, a ausência de calor. Somos o silêncio que ignora o choro, o olhar que desvia da dor. Somos a semente que não cuidamos, o jardim que deixamos murchar. E agora, temos o Predador do Asfalto caminhando entre nós.
Ele é a nossa sombra. Uma lembrança viva e perigosa de que o amor, o cuidado e a empatia são o solo mais fértil que temos. Sem eles, só resta a escuridão, a frieza e, eventualmente, a solidão de uma criatura que, por nossa negligência, foi criada.
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