Ação de Indenização por Desmoronamento do Prédio Confinante - Modelo de Peça Jurídica
Ação
de Indenização por Desmoronamento do Prédio Confinante - Falha na realização de
obras ocasionando desmoronamento e afetando a estrutura de prédio confinante,
que era utilizado para locação. Há nexo de causalidade entre o evento e o
resultado.
EXCELENTÍSSIMO(A)
SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA XXª VARA CÍVEL DA COMARCA DE XXXX
XXXX, (qualificação) e XXXX
(qualificação), portador do CPF/MF sob o n° XXX.XXX.XXX-XX e RG: XXXX,
(qualificação), portadora do CPF/MF sob o n°XXX.XXX.XXX-XX, residentes e
domiciliados nesta XXXX, na Rua XXXX, por intermédio de seu procurador judicial
infra-assinado (cfr. procuração em anexo, doc. XX), inscrito na OAB/XX sob o n°
XXX, com escritório na Rua XXXX, onde recebe notificações e intimações, vêm
muito respeitosamente perante Vossa Excelência, propor:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS,
CUMULADA COM LUCROS CESSANTES
com
fundamento no artigos 403, 946, 950, 952, do Código Civil e artigo 701, do
Código de Processo Civil, dentre outras disposições legais aplicáveis à
espécie, contra:
- XXXX, (qualificação), endereço
eletrônico: XXX,residente e domiciliado na Rua XXXX; e XXXX, pessoa jurídica de
direito privado, com sede cujo representante legal Sr. XXXX, poderá ser
localizado na Rua XXXX, o que fazem pelas seguintes razões de fato e de direito
adiante expostas:
I
- DOS FATOS
Os Autores (casados entre si, em regime
de comunhão de bens) são, desde XXXX, proprietários de um terreno com
benfeitorias (na Rua XXXX), objeto de transcrição n° XXX, do Cartório do
Registro de Imóveis da XXXX, Circunscrição - doc. XX, em anexo - que, em parte
de sua lateral direito (de frente para quem olha da rua XXXX) faz divisa com um
terreno situado na Rua XXXX, no qual havia uma casa que o réu XXXX, demoliu,
pretendendo iniciar a construção de um edifício, para sua moradia.
No primeiro semestre do corrente ano
(aproximadamente no mês de XXXX), iniciaram-se as escavações, sem que fosse
tomada qualquer cautela para proteger as casas vizinhas.
Pouco tempo depois do começo das
escavações, uma das casas erigidas no terreno dos Autores (casa esta cuja
parede de fundos fazia divisa com o terreno do dono da obra) apresentou
rachaduras, e o canto do muro que está ao lado desse imóvel caiu.
Notificado extrajudicialmente, o dono da
obra e ora Réu XXXX, mandou proceder aos reparos.
Não obstante a constante preocupação que
vinha sendo manifestada pelos moradores das casas vizinhas, os réus continuaram
a proceder as escavações, sem ao menos construírem a usual “cinta de concreto”
como uma providência para evitar desmoronamentos e deslizamentos.
O dono da obra e ora Réu XXXX,
acompanhava - como ainda hoje o faz - diariamente o trabalho da empresa
empreiteira (XXXX) e do engenheiro civil (XXXX), e assegurava aos proprietários
dos imóveis vizinhos que se responsabilizava por quaisquer danos que viessem a
ocorrer, bem como providenciaria a imediata reconstrução - às suas expensas -
de casas, muros e qualquer espécie de benfeitorias que viessem a ruir.
As escavações, como mostra a extensa
prova fotográfica acostada com a inicial, continuaram de forma mais negligente
possível, chegando a atingir o subsolo do imóvel dos Autores até que, na noite
do dia XX de XXXX de XXXX, vieram a ruir: toda a parte de trás da referida
casa; todo o muro construído ao lado esquerdo da casa (para quem olha de
frente) e uma churrasqueira construída junto ao muro. Pouco tempo depois, outra
parte do muro dos Autores veio também apresentar uma grande rachadura, que
aumenta a cada dia que passa.
Através de inúmeros contatos verbais, os
Autores pleitearam, junto ao réu XXXX, a reparação dos danos.
Inicialmente, o aludido Réu assegurou
que reconstruiria tudo, e assumiria todas as responsabilidades através de um
“Termo de Compromisso.”
No entanto, eram promessas falsas, pois
apenas providenciou a reconstrução parcial do muro que está ao lado da casa que
ruiu, de propriedade dos Autores. Mesmo interpelado extrajudicialmente, deixou
transcorrer o razoável prazo que lhe foi concedido, sem manter qualquer contato
com os ora Autores.
II
- DA ESPECIFICAÇÃO DOS DANOS OCORRIDOS
A) DA CASA
A casa que ruiu tinha cerca de XXX
metros quadrados, assim dividida: XX quartos, sala, cozinha e banheiro.
Era de construção mista (madeira e
alvenaria). A parede que fazia divisa com o terreno sobre o qual está sendo
erigido o edifício abrangia um dos quartos, parte da cozinha e todo o banheiro.
Já se encontrava no terreno dos Autores
quando foi adquirido sendo que, ao longo dos anos, sofreu pequenas reformas
(tais como troca de portas, vidros, telhas) e pintura constante, para fins de
conservação. Há mais de uma década vinha sendo continuamente usada para fins de
locação.
Em face do desabamento da parede de
trás, e da escavação feita por baixo da terra onde a casa estava assentada,
toda a sua estrutura ficou comprometida. Os quadrados de tijolos, sobre os
quais se apoiava parte da construção, estão tortos e rachados.
O peso do telhado, em parte suspenso,
está fazendo - como se diz na linguagem popular - o “telhado fechar.” A casa
está inclinando para o lado esquerdo, para quem a olha de frente, ameaçando
desabar sobre outra casa, ao lado dela. Enfim, trata-se de imóvel
irrecuperável, devendo a indenização corresponder ao equivalente em dinheiro,
do preço de um imóvel com características similares.
O valor da indenização, deverá
corresponder a importância de R$ XXX,00 (XXX reais), consoante o menor
orçamento em anexo, tendo como base o custo de imóveis semelhantes,
apresentados por empresas de construção de casas pré-fabricadas.
B) DO CANO DE ÁGUA
Com o desabamento daquele imóvel, rompeu
um cano de água que passava por baixo dele, e se destinava a abastecer a casa
vizinha (na qual reside a filha dos autores, XXXX).
O dono da obra mandou consertar o cano,
mas o deixou passando sobre a calçada, não procedente à instalação subterrânea,
como era devido.
O reparo, consoante o item 4°, do menor
orçamento em anexo, corresponde a importância de R$ R$ XXX,00 (XXX reais).
C) DO MURO COM A CHURRASQUEIRA ANEXA
O muro que originariamente havia ao lado
da casa desabada tinha cerca de XX Metros de comprimento (XXX metros e XXX
centímetros) metros de altura. Era de tijolo, devidamente rebocado e pintado.
Anexo a ele, havia uma churrasqueira, com iluminação.
Com o desabamento da casa, do muro e da
churrasqueira, a residência da filha dos Autores ficou pendurada à beira do
imenso buraco.
Como já mencionado, o dono da obra
mandou reconstruir apenas XXX (XX metros e XX centímetros) de muro. Não rebocou
e não pintou sequer a pequena parte reconstruída. E tampouco providenciou a
feitura de nova churrasqueira e a reinstalação da luz que sobre ela existia.
Embora o mestre de obra, a pedido da filha dos Autores, tenha mandado colocar
terra junto ao muro, não foi reposta a grossa camada de pedra brita que ali
havia, para impedir a formação de lama, quando chove.
Os reparos, consoante os itens 1, 3 e 6,
do menor orçamento em anexo, corresponde a importância de R$ XXX,00 (XXX reais).
D) DO MURO QUE PASSAVA ATRÁS DA CASA QUE
RUIU
Construído junto à parede de fundos da
casa que ruiu havia um muro que iniciava ao lado da residência da filha dos
Autores, com aproximadamente 3,17m de altura. Logo após o desabamento, o dono
da obra mandou reconstruir 1,13m deste muro, faltando por tanto 2,04m.
O custo de tal reparo foi orçado em R$ XXX,00
(XXX reais), conforme item 2, do menor orçamento em anexo.
E) DA RACHADURA NO MURO LATERAL À CASA
ONDE MORAM OS AUTORES
Depois de décadas intacto, o muro
lateral à casa onde residem os Autores veio a apresentar, em decorrência da
obra, uma extensa rachadura vertical, sem que fosse providenciado qualquer
reparo.
O custo de tal reparo foi orçado em R$ XXX,00
(XXX reais), conforme item 5, do menor orçamento em anexo.
Todos os danos ora descritos são de
amplo conhecimento dos Réus que, em mais de uma oportunidade, verificaram
pessoalmente todas as avarias.
Foram também constatados e vistoriados
por engenheiros da Prefeitura Municipal de XXXX, documento em anexo.
Estão paulatina e exaustivamente
mostrados através das fotografias anexas, acompanhadas pelos seus respectivos
negativos.
Poderão, ainda, ser descritos pelas
testemunhas arroladas.
III
- DOS LUCROS CESSANTES
Conforme já mencionado, a casa que ruiu
se destinava à locação, sendo que o aluguel constituía-se em parcela da renda
mensal dos Autores.
O último locatário foi o Sr. XXXX.
O filho dos Autores – XXXX. - manifestou
a intenção de vir morar na casa, pois pretendia vender seu apartamento para,
posteriormente, comprar outro maior.
Ficou convencionado que a casa seria
locada e, tão logo o filho dos Autores vendesse seu apartamento, seria pedida a
retomada do imóvel, se os inquilinos não concordassem em desocupá-lo
amigavelmente.
Mesmo não sendo construção nova, a casa
estava em bom estado de conservação e nunca apresentou quaisquer problemas para
quem nela residiu. Na frente dela há um pequeno jardim e o inquilino dispunha
de uma vaga para guardar seu carro. Por estar localizada em bairro central,
servido da mais ampla infra-estrutura, sempre foi extremamente disputada a
locação do imóvel.
Surgiram pessoas interessadas em
locá-lo, concordando em desocupá-lo tão logo o filho dos Autores necessitasse
da casa.
Mas os Autores ficaram impedidos de
alugá-la, porque com o início da construção, a casa passou a ficar pendurada à
beira do enorme buraco.
Seguiu-se depois o desmoronamento, que
por certo teria provocado a morte de alguma pessoa que estivesse dormindo no
quarto que fazia divisa com a obra.
Têm os Autores o inquestionável direito
de receber também indenização a título de lucros cessantes, a partir do MÊS DE XXXX
do corrente ano.
O valor de mercado do imóvel, para fins
de locação é R$ XXX,00 (XXX reais).
IV
- DO DIREITO
As inúmeras fotografias acostadas a essa
petição inicial demonstram, sem qualquer dúvida, a relação de causalidade entre
a conduta negligente e imperita dos RÉUS, e os danos sofridos pelos Autores.
Em sua consagrada obra “A Responsabilidade
Civil na Doutrina e na Jurisprudência”, Ulderico Pires dos Santos leciona:
“Quem edifica em seu terreno de acordo
com as posturas municipais exerce um direito legítimo. Mas o proprietário que
estiver diante da ameaça de sofrer prejuízos com a construção do prédio vizinho
pode impedi-lo ou exigir-lhe que se cerque de todas as cautelas capazes de
evitar-lhe qualquer dissabor.
Se não o fizer e o prejuízo ocorrer, o
responsável poderá ser civilmente responsabilizado pelos danos que a sua
construção vier a lhe causar. Nesse tipo de responsabilidade civil não se
cogita os danos, pois dentre os casos de responsabilidade sem culpa que a nossa
lei consagra os danos ao prédio contíguo é tipicamente um deles, em homenagem à
segurança, a saúde e o sossego dos vizinhos.” (artigo 1.277, do Código Civil).
Na liberdade que o artigo 1.299, do
mesmo Código outorga ao proprietário para levantar em seu terreno as
construções que entender está contida a ressalva do direito dos vizinhos e das
posturas públicas. Por isso é que os danos acarretados nesse caso ao vizinho
são indenizáveis independentemente de qualquer grau de culpa do causador do
evento.
Tamanho é o cuidado que se tem no
sentido de evitar danos aos prédios vizinhos, que por eles respondem até mesmo
quem não foi o causador das obras (RJ , Forense, 100084, pág. 11000)
E mais:
“Obviamente que, se o proprietário do
terreno contratou uma empresa construtora para fazer a edificação da qual
redundaram prejuízos de que se queixa o vizinho, a obrigação de indenizar é de
ambos solidária e subsidiariamente. Quer dizer: respondem o proprietário e o
construtor. Este por ato próprio; aquele por haver escolhido mal, sendo lícito
ao lesado, por isso, pleitear o ressarcimento de quem bem entender, isto é, de
apenas um deles, ou de ambos. Bastar-lhe-á provar o nexo causal entre a
edificação e os prejuízos sofridos pelo prédio vizinho. A culpa que no caso
pode ser discutida é na ação que o proprietário que indenizou propuser contra o
construtor, ou vice-versa. Só entre ambos se poderá cogitar de culpa.” (ob.
cit., pág. 120).
A jurisprudência já firmou o
entendimento de que:
“DIREITO DE VIZINHANÇA - CONSTRUÇÃO DE
MURO DE ARRUMO E OBRAS DE ATERRO - DANO A PRÉDIO CONFORTANTE - RESPONSABILIDADE
OBJETIVA - NEXO DE CAUSALIDADE DEMONSTRADO - INDENIZAÇÃO DEVIDA - AÇÃO
PROCEDENTE - APELO NÃO PROVIDO.
A responsabilidade civil decorrente das
relações de vizinhança está assentada na concepção da responsabilidade objetiva
e absoluta, não se exigindo para a reparação nem dolo, nem culpa, nem voluntariedade
do agente da ação lesiva, bastando a demonstração da relação de causalidade entre
a construção ou obra executada e o dano …” (Ac. n° 2615000, relatório Juiz
Maranhão de Loyola, j. em 07/04/87).
[...]
“A responsabilidade pelos danos de
vizinhança decorrentes de construção é objetiva e absoluta: nasce de só ato ou
fato lesivo da obra ou de seus trabalhos preparatórios. Não se exige, para a
reparação, nem dolo, nem culpa, nem voluntariedade do agente da ação lesiva.
Não pode sofrer desconto a indenização
por dano em prédio decorrente de construção em terreno vizinho, se a
edificação, embora não muito resistente, vinha se conservando em perfeito
estado, vez que o dano se deve, tão só, à construção superveniente.” IN - RT
675/128-12000.
V
- DAS PROVAS
Pretendem os Autores provar os fatos
alegados através de todas as provas admitidas em direito e em especial com:
a) Depoimento pessoal dos Réus, sob pena
de confesso;
b) Inquirição de testemunhas, cujo rol
segue em anexo;
c) Prova pericial, para demonstrar os
danos, se necessário; e
d) Juntada de novos documentos.
VI
- DO PEDIDO
ISTO POSTO, requer-se a Vossa Excelência
, que se digne mandar citar os Réus XXXX, esta na pessoa de seu representante
legal (….), nos endereços mencionados, para comparecerem na audiência a ser
designada e nela oferecerem contestação e produzirem provas, sob pena de revelia
e de presumirem-se como verdadeiros os fatos articulados pelos Requerentes na
inicial, nos termos do artigos 239 e 344, do Código de Processo Civil e afinal
o pedido Julgado PROCEDENTE, para condenar os Réus ao pagamento do principal
valor de R$ XXX,00 (XXX reais), valores estes compreendidos pela reconstrução
da casa R$ XXX,00 (XXX reais), e demais avarias no valor de R$ XXX,00 (XXX
reais), acrescidos de correção monetária a partir de XX e XX, data dos menores
orçamentos e juros de mora de 1% ao mês a contar da responsabilidade citação,
bem como lucros cessantes, estes representados pelos alugueres que seriam
auferidos pela locação do imóvel a partir de XX, data de demolição da casa até
a data da reconstrução da casa, a serem apurados em liquidação de sentença
acrescidos da correção monetária e dos juros de mora.
Requer, ainda a condenação dos Réus ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em
20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação.
Requer, finalmente, que a citação e
demais atos processuais, sejam realizados, se necessário, com a faculdade
contida no artigo 212, parágrafo 1°, do Código de Processo Civil.
Dá-se à causa o valor de R$ XXX,00 (XXX
reais).
Nestes termos,
Pede deferimento.
XXXX, XX de XXXX de XXXX.
_____________________________
Advogado OAB/UF
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