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sábado, 20 de março de 2021

A imagem da besta

 A imagem da besta




Engana os que habitam na terra. Quem tem o conhecimento, tem maior poder de enganar. Estes sinais, como entendido acima, são as reformas culturais. Estas reformas resultaram na criação das escolas nos monastérios e catedrais e também criaram um verdadeiro exército de monges, que utilizavam os métodos filosóficos dialéticos neoplatônicos para adquirir conhecimento. Com este conhecimento, eles passaram a controlar a população laica. Foi a partir do sistema educacional estabelecido nos monastérios que a “besta” enganava os que “habitam na terra”.

Vamos entender a influência que este sistema deteve sobre o povo laico. No duodécimo século, as abadias se alastraram pela Europa. Cluny era a mais influente. Cister e Clairvaux também estavam entre as influentes. Cluny era uma abadia-mãe com mais de 2.000 abadias afiliadas. Além destas três principais, houveram muitas outras abadias que formavam o sistema monástico. Nas abadias e catedrais, professores se multiplicavam e se rodeavam de alunos. Um tal de Abelardo, cônego de Notre Dame, tinha tantos seguidores como jamais um conferencista conseguira ter, segundo Walker.

Cluny foi o resultado da doação de terras de um rico senhor feudal para a construção de um monastério autônomo a qualquer autoridade civil ou religiosa. Foi governada por uma série de abades notáveis, tornando-se de uma inovação no sistema monasterial. Cluny granjeou tanta influência quanto veio ser as ordens dos dominicanos e jesuítas mais tarde.

Foi considerável a influência da ordem cluniense sobre a civilização ocidental, a tal ponto que, sem exagerar, era possível falar de ´centro real da Igreja` e de ´espiritual da Europa` (…) foi através de seus antigos monges tornados papas que Cluny agiu mais fortemente sobre uma cristandade enfraquecida.” (Pierrard, p. 81 e 82)

Dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta. Ela, a “besta”, o Sacro Império Romano, representada por seus funcionários públicos, que em sua imensa maioria eram os monges, que formavam a elite pensante, incutiu na mente da população laica, inclusive dos funcionários seculares, que não podiam ser comparados em conhecimento com os clérigos, a idéia de uma república cristã onde o papa seria o supremo rei e sacerdote de toda a humanidade, como eram os antigos césares romanos.  

Hildebrando foi o maior articulador deste projeto. “Os seus planos eram mais vastos, e, num sentido, menos egoístas; só a instituição de uma permanente hierarquia, com autoridade ilimitada sobre todos os povos e reinos na face da terra, poderia satisfazer a sua ambição. Sim ele, queria organizar um poderoso estado eclesiástico, que governasse os destinos dos homens – uma poderosa teocracia ou oligarquia espiritual, com o poder de instruir o povo nos seus dogmas infalíveis, para obrigar as suas consciências a dar força à sua obediência; um estado cujo governador fosse supremo sobre todos os governadores do mundo, elegendo e depondo reis à sua vontade – pondo interdição a províncias e reinos inteiros, e sem que ninguém ousasse opor-se a isto – em suma, um vice-regente de Deus na terra, que não pudesse errar, de quem se não pudesse apelar!” (Knight, p. 128)

Pouco a pouco, forma-se entre as elites pensantes – que eram todas da Igreja – a idéia da criação de uma República Christiana que, sistematicamente, introduziria noções evangélicas no Direito e nas instituições. Esse império, herdeiro do império romano, deveria ser colocado nas mãos de um homem que a Providência designaria ao papa – que, depois de Gregório o Grande, aparecia como a mais alta autoridade do antigo mundo romano.” (Pierrard, p. 69)

A igreja era a instituição universal da época e o Papa como seu cabeça exercia em conseqüência tão grande autoridade do que qualquer outro aspirante. Em muitos sentidos, na verdade, a igreja era comparada com o Antigo Império Romano, cujo território e organização administrativa tinha se sobreposto e (…) Todos consideravam o Papa como consideravam o Imperador. A igreja tinha estes sistema legal e interno. O clero secular correspondendo para a administração burocrática do Império e à cabeça centro de tudo isto assistindo sobre o mundo inteiro, interferindo em tudo, exercendo (poder) temporal também quanto autoridade espiritual, recebendo notícias, perguntas e apelos de todas as partes e reservando para si mesmo a solução de todas as questões, em último recurso, estabelecendo Inocêncio III com a autoridade de um Trajano ou um Diocleciano.” (Lynn Thondyke. The history of medival, p. 434,435. Citado por Remington)

A influência intelectual dos monges, a participação do clero na administração pública, o poderio econômico da Igreja, a importância política que os sistemas monasteriais possuíam, os planos políticos e eclesiásticos que elaboraram, implicou-se na construção de uma “imagem à besta”. Os clérigos detinham poder sobre a sociedade e “enganavam” seus habitantes, dizendo que elaborassem um governo semelhante ao romano, que tinha um sacerdote-rei sobre os homens. Isto foi conseguido depois de 250 anos de muita luta entre o papado e os poderes temporais. Em Hildebrando (1073) o papado se firmava como o soberano da Europa. Era a “imagem da besta”, só faltava falar.

Concedido que desse espírito à imagem da besta, para que a imagem da falasse, e fizesse que fossem mortos os que não adorassem a imagem da besta. Deus soprou seu espírito no homem ele se tornou alma viva, (conforme Gênesis 2:7). Dar espírito significa dar vida própria, autonomia de vida. Este “espírito”, autonomia, se deu através da transferência gradual de poder das mãos dos imperadores para o papado. As ordens monásticas serviram de base para este processo. Foi na abadia de Cluny que se concretizou a idéia da supremacia papal e foi resultado de um secular debate. A questão central era sobre o direito de instituir poder aos bispos: era do papa, ou do imperador? O papado obteve, até certo ponto, a vitória e passou a controlar os bispos. Como estes eram em sua imensa maioria senhores feudais, ou agentes do governo, boa parte das terras da Europa, bem como uma imensa força política ficou sob a tutela do papa. A partir daí, o sistema administrativo papal alcançou um grau de aperfeiçoamento tal que era superior ao do Antigo Império Romano. Com mais poder, a “imagem da besta” estava pronta para “falar”, isto é, criar leis, ordens e normas para a sociedade. O ápice deste poder de “falar” da “besta” foi a Santa Inquisição, quando ela fez com que fossem mortos “os que não adorassem a imagem da besta”.

O papado livrou-se da influência dos imperadores, depois de um longo debate em torno da questão da eleição papal, dos bispos e demais clérigos, conhecida na história como “a querela das investiduras”. O teor desta questão era a influência do poder temporal sobre o espiritual e vice-versa. Até Henrique III foram os imperadores que nomearam os papas e bispos. Mas com sua morte, deixando em seu lugar um filho com apenas seis anos, o papado aproveitou para reverter a situação, nomeando Hildebrando como papa através do Colégio de Cardeais. Vejamos como foi este processo.

No final da Alta Idade Média, a igreja começou a libertar-se da dominação política. Iniciou-se, então, um período de supremacia do poder espiritual sobre o poder político, que se estenderia pela Baixa Idade Média” (Arruda, p. 344) “Sem controle sobre os bispos, o imperador perdia o controle sobre os duques. Ao mesmo tempo, uma grande parcela das terras da Alemanha passava para o controle da Igreja. Começava o período de supremacia do poder papal sobre o poder político dos governantes da Europa; essa supremacia se acentuou-se mais no período seguinte, a Baixa Idade Média.” (Arruda, p. 348)

As instituições políticas romanas baseavam-se nas cidades, das quais dependiam as regiões rurais circunvizinhas. A organização cristã seguiu a mesma regra. Os distritos rurais dependiam dos bispos das cidades ou elementos por eles nomeados, e por eles pastoreados exceto nos casos em que haviam ´bispos rurais`, como no Ocidente (…) Por volta do século VI deparamos com a origem do sistema paroquial na França (…) Ali o sistema expandiu rapidamente, sendo estimulado pelo costume de os grandes proprietários de terras fundarem igrejas (…) Além disso, ao tempo dos primeiros carolíngios, graças as constantes doações de terras, as propriedades da Igreja haviam crescido ao ponto de ocuparem um terço da área da França  (…) Carlos Magno renovou e expandiu o sistema metropolitano, que havia caído em desuso. No começo do seu reinado havia um único metropolita em todo o reino franco. No fim, o número havia atingido vinte e dois. Os metropolitas passara a ser chamados em geral de arcebispados.” (Walker, p. 271 e 272)

A igreja integrou-se ao sistema feudal através dos mosteiros, cujas características se assemelham às dos domínios dos senhores feudais (…) A ruralização da economia da Idade Média obrigou a Igreja a deslocar-se para o campo. Os bispados e os abades se transformaram em verdadeiros senhores feudais (…) Além disso, a Igreja tinha o monopólio da cultura. Saber ler e escrever, na Idade Média, era um privilégio de bispos, padres monges. Dessa forma, os membros do clero começaram a participar da administração pública, exercendo as funções de notários, secretários, chanceleres. A organização dos domínios da Igreja atingiu um grau bastante aperfeiçoado. Era um modelo que os membros da nobreza leiga não conseguiam imitar. Além da autoridade moral, a Igreja começava a exercer influência na administração financeira dos principados medievais.” (Arruda, p. 339, 367)

Esta transferência gradual de poder das mãos dos imperadores para o papado deu vida à imagem da besta. Antes eram os imperadores que escolhiam os bispos de seu reino e elegiam o papa. Agora, os papas já controlavam os abades que dominavam boa parcela das terras da Europa. Era a supremacia papal estabelecida. A partir de então, eles, os papas já não mais se submeteriam aos imperadores e iriam fazer o que bem entendessem, excomungando reis e interditando reinos. Veja o caso de humilhação do Imperador Henrique IV quando suplicava o perdão do papa.

A resposta de Hildebrando tornou-se um dos mais famosos decretos papais da Idade Média. No sínodo romano de 26 de fevereiro de 1076 excomungou Henrique, negou-lhe a autoridade sobre a Alemanha e a Itália, e absolveu todos os seus súditos dos seus juramentos de lealdade. Foi a mais ousada afirmação de autoridade papal jamais feita.” (Walker, p. 296)

A excomunhão de Henrique o obrigou a ir, em pleno inverno, a Canossa onde se encontrava o papa, e depois de três dias de penitência com pés descalços no portão do castelo foi recebido pelo papa graças a intercessão de alguns amigos. Este foi o maior ato de humilhação sofrido por um rei medieval ante o poder da Igreja. Inocêncio III (1198) não foi menos feliz na humilhação dos imperadores. Interditou a França e a Inglaterra e excomungou o Rei João, galgando o cimo do poder terreno.

A imagem da besta falou, isto é, criou leis que obrigavam os homens a uma obediência irrestrita ao sistema de governo papal. Quem não obedecesse seria morto. A Santa Inquisição foi um meio idealizado para descobrir quem eram os “fora-da-lei”. Este foi o mais terrível tribunal que a humanidade pode conhecer. Não havia direito de defesa.

Mas quando Inocêncio III subiu ao trono de S. Pedro no ano de 1198, ele resolveu suprimir o movimento ´herético`. A máquina que o Papa inventou para este fim, foi a ´Santa Inquisição` e seu instrumento foi Guzman Domingos, um espanhol, depois canonizado e conhecido como São Domingos. No princípio foi usado para esmagar a fé dos Albigenses nas províncias no sul da França, mas espalhou rapidamente a outros países com Alemanha, Boemia, Itália e Espanha. O papa Inocêncio IV, no ano 1252, aprovou o uso de tortura para extorquir confissões.” (Knight, p. 171)

Desde de 1229 a ´Santa Inquisição` tornou-se a máquina mais formidável de tirania religiosa que o mundo jamais vira. Seus procedimentos deram-se em segredo, advogados não eram permitidos, nem testemunhas chamadas. O motivo foi de extorquir confissões de crime ou heresias por meio de abatimento moral e físico da vítima. Para obter este fim os meios mais iníquos e revoltosos foram empregados sem escrúpulo. Foram usados sutilezas, mentira, engano e tortura mais cruel. Eram três graus de castigo. Aqueles que fizessem submissão completa era admitidos à penitência. Aqueles que não deram satisfação completa foram encarcerados para a vida. Todos os que recusaram a confessar foram condenados a ser queimados.” (Knight, p. 171 e 172)

Quanto à Igreja, para extirpar a heresia, teve que recorrer à Inquisição, que, depois do processo de investigações, havia tomado, ao tempo de Lúcio III (1184), uma forma mais precisa: os heréticos obstinados já poderiam ser entregues, pelos juízes da Igreja, à autoridade secular, mas apenas no século XIII, quando uma severa inquisição monástica foi instituída pela Santa Sé, com a ajuda das ordens mendicantes, a expressão ´braço secular` e a condenação à morte na fogueira passaram definitivamente para a legislação e o vocabulário inquisitoriais.”  (Pierrard, p. 102)

A inquisição se desenvolveu rapidamente até se tornar um órgão temível. Agia secretamente, os nomes dos acusadores não eram levados ao conhecimento dos prisioneiros os quais por uma bula de Inocêncio IV, datada de 1252, eram passíveis de tortura. O confisco dos bens do confessante era um dos seus mais odiosos e economicamente destrutivos aspectos. E sendo as autoridades seculares participantes deles, fez com que fosse mantido vivo o fogo da perseguição, que de outro modo se extinguiria.” (Walker, p. 325)

A “imagem da besta” foi um sistema de governo elaborado pela sociedade européia semelhante ao governo do Antigo Império. Teve o apoio da sociedade em geral, mais precisamente a sociedade clerical. A formação deste sistema foi um processo gradativo que durou do século IX até por fins do século XI. Através do movimento escolástico, com o apoio intelectual do sistema monasterial que também tinha a propriedade de boa porção das terras européias, foi incutido na mente da sociedade a idéia de uma república cristã. Isto contribuiu para a vitória papal na questão da investidura dos bispos. A influência papal sobre o clero aumentou enquanto a dos imperadores diminuiu. O sistema papal ganhou forças para promulgar leis. Quem não se submetesse a estas ordenanças da Igreja era passivo de tortura e até morte na fogueira. A “imagem da besta” estava consolidada e fazia que fossem mortos os que não adorassem.

Fontes de referência, estudos e pesquisa:

A imagem da besta

Professor Julio Cesar Martins


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