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quarta-feira, 22 de maio de 2019

Auguste Comte

Auguste Comte

O filósofo francês Auguste Comte é considerado o pai da sociologia e o fundador do positivismo.
Considerado o “pai” da sociologia e fundador do método positivista, Comte é um dos pensadores de maior influência da França no século XIX.*
Considerado o “pai” da sociologia e fundador do método positivista, Comte é um dos pensadores de maior influência da França no século XIX.*
Quem foi Auguste Comte?

Nascido em Montpellier, na França, no ano de 1798, Isidore Auguste Marie François Xavier Comte foi um filósofo francês que ficou conhecido por ter sido o primeiro a sintetizar a necessidade de uma ciência da sociedade (Sociologia) e por ter fundamentado, pela primeira vez, a teoria positivista.
Comte era filho de uma família monarquista francesa tradicional e católica. Estudou na cidade de Montpellier até mudar-se para Paris, onde ingressou na Escola Politécnica. Após o fechamento temporário da Escola Politécnica, Comte retornou à sua cidade natal para estudar na Faculdade de Medicina.
Em 1817, retornou à Escola Politécnica, em Paris, mas foi expulso por liderar manifestações dentro da instituição. Comte passou a escrever para jornais e dar aulas particulares, até que começou a trabalhar como secretário do Conde de Saint Simon, filósofo francês progressista que se autoproclamava um socialista (como ainda não existia o socialismo científico, de Marx e Engels, ele é classificado hoje como socialista ou socialista utópico).
Saint Simon introduziu Comte no círculo intelectual francês de sua época e influenciou-o em muitos aspectos, o principal deles é o entendimento de que haveria uma marcha progressiva constante na história da humanidade, ou seja, que a humanidade sempre caminharia para o desenvolvimento. Também são ideias de Saint Simon que influenciaram o jovem Comte: a noção de que existem leis sociais — assim como a natureza obedece às leis da Física — e de que o conhecimento científico aperfeiçoa o ser humano.
Comte passou a dedicar-se à formulação de sua doutrina positivista e, em 1822, publicou o Plano de trabalhos necessários para a reorganização da sociedade. O filósofo começou a redigir o seu Curso de Filosofia Positiva em 1830 e terminou o último dos seis volumes apenas no ano de 1842.
Nos primeiros escritos, Comte já planejava um esboço da Sociologia, a qual nomeou de “Física Social”, em referência à semelhante organização por leis entre as ciências da natureza e a ciência da sociedade. O termo “sociologia” surgiu somente nos volumes do Curso de Filosofia Positiva.
Comte já havia rompido o trabalho com Saint Simon devido à incompatibilidade de ideais. Em 1947, o filósofo fundou o que ele chamou de Religião da Humanidade, ou Religião Positivista. Essa seria uma doutrina que daria lugar à religião comum, colocando o homem e o desenvolvimento do estágio positivo da humanidade (a ciência e a crença no cientificismo) no lugar da ideia comum de Deus.
As ideias de Comte conquistam adeptos fora da França, inclusive no Brasil – os militares que lideraram a Primeira República inspiraram-se na doutrina positivista. O filósofo morreu no ano de 1857, em Paris, aos 59 anos.

Sociologia

Auguste Comte é considerado o “pai” da Sociologia. O filósofo é o primeiro a teorizar a necessidade de uma ciência que estudasse a sociedade, a fim de reorganizá-la e colocá-la nos trilhos certos para o maior desenvolvimento possível.
Mesmo sendo de família monarquista, o filósofo apostava no acerto da Revolução Francesa: o fim do Antigo Regime. Para ele, os ideais republicanos soavam como o despertar de um novo tempo que abriria caminho para as ciências e a tecnologia desenvolverem-se plenamente. Porém, a Revolução Francesa havia deixado um período de caos e instabilidade social na França.
Revolução Industrial, impulsionada na primeira metade do século XIX, principalmente pelo motor movido a vapor, também era crucial para o desenvolvimento. No entanto, muitos problemas tinham resultado da grande explosão demográfica dos centros urbanos decorrente da Revolução Industrial, como o desemprego, a miséria e a forte desigualdade social. Comte enxergava que seria necessário criar uma ciência que conseguisse teorizar todos esses fatores para apontar possíveis saídas para eles.
O motor a vapor foi a principal inovação que impulsionou a Revolução Industrial.
O motor a vapor foi a principal inovação que impulsionou a Revolução Industrial.

Comte propôs uma ciência chamada, em um primeiro momento, de Física Social e, depois, de Sociologia. Era essa que seria capaz de aplicar o método de observação e experimentação das ciências da natureza na sociedade. Esse método encontraria as mesmas estruturas e leis que existem na Física, porém na sociedade. Nascia aí a Sociologia, que seria mais bem delimitada, mais tarde, com o pensador Émile Durkheim, que criou um método de operação próprio para a Sociologia.

Positivismo

Comte também foi o primeiro teórico a estabelecer as raízes do positivismo. Segundo o pensador, o positivismo era o que o ser humano tinha criado de mais profundo e organizado: a observação e o entendimento da natureza com base no trabalho científico. Politicamente, o positivismo seria expresso pelo trabalho integrado entre ciência e política, visando ao desenvolvimento da sociedade. Para explicar a sua teoria positivista, o filósofo estabeleceu a Lei dos Três Estados, que descrevia os três estágios de desenvolvimento da humanidade.
  1. Estado teológico: o ser humano, em seus primórdios, necessitava encontrar explicações para os fenômenos naturais. Essas explicações eram fornecidas por narrativas mitológicas e religiosas, pois, ao não conseguirem explicar a natureza, os homens criaram seres sobrenaturais para fundamentarem as suas explicações.
  2. Estado metafísico: esse segundo ponto de desenvolvimento consiste no início da Filosofia. O ser humano já não se contentava mais com as explicações religiosas e passou a formular teorias racionais para conjecturar as possíveis causas dos efeitos observados na natureza. Nesse estágio, ainda há a prevalência do raciocínio sem a observação da própria natureza.
  3. Estado positivo: esse estágio seria o mais desenvolvido da humanidade. O ser humano entendeu que, para encontrar respostas sobre a natureza, ele deveria procurar as explicações na própria natureza. Nesse ponto, haveria o desenvolvimento das ciências e de um modo de pensar o mundo por meio do entendimento desse como algo que está dado fisicamente. O estágio positivo seria marcado pela Física, pela Biologia (ciência que, junto com a Sociologia, seria a mais desenvolvida para Comte) e pela busca incessante do progresso.

Influências

Auguste Comte foi fortemente influenciado por Saint Simon, principalmente pelo entendimento da História enquanto marca de uma marcha constante rumo ao progresso. Também foi influenciado por cientistas, como Newton e Galileu. Algumas especulações positivistas podem ter relação com a teoria evolucionista, de Darwin, mas não como as ideias de Herbert Spencer (também um dos primeiros postuladores da Sociologia), que formulou o Darwinismo Social. No entanto, não se pode dizer que Comte tenha sido influenciado por Darwin, até mesmo por questões cronológicas.
Comte influenciou a teoria sociológica de Émile Durkheim, que elaborou uma crítica ao pensamento comtiano. O positivismo junto ao Materialismo Histórico Dialético, de Karl Marx, representam dois expoentes antagonistas, mas que explicam os dois rumos principais pelos quais a Filosofia e a historiografia do século XIX caminharam.

Curso de Filosofia Positiva

Comte organizou um curso de Filosofia que resultou na escrita da obra Curso de Filosofia Positiva, dividida em seis tomos e escrita entre 1830 e 1842. O livro trata de diversos assuntos, como a necessidade do estabelecimento da Sociologia e a importância de recorrer-se à ciência, pois o progresso inteiro e pulsante da humanidade estaria no conhecimento científico.
No entendimento de Comte, a ciência não deveria ser vista como uma forma de acúmulo de conhecimento pelo próprio conhecimento, mas porque esse acúmulo resultaria no desenvolvimento da humanidade. O ser humano consegue, por meio da ciência, entender a natureza, a complexa sociedade (com a Sociologia), desenvolver as tecnologias que melhoram a sua vida e modificar o seu meio político. A política seria, na teoria comtiana, fortemente influenciada pelo conhecimento científico, que ensinaria a necessidade da ordem para a obtenção da glória e do progresso.

Frases

"O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim."
"Todos os bons intelectos têm repetido, desde o tempo de Bacon, que não pode haver qualquer conhecimento real senão aquele baseado em fatos observáveis."
"Viver para os outros não é somente a lei do dever, mas também a da felicidade."
"Saber para prever a fim de poder."
*Credito da imagem: Lefteris Papaulakis / Shutterstock
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
PORFíRIO, Francisco. "Auguste Comte"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/auguste-comte.htm>. Acesso em 27 de abril de 2019.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Aristóteles

Aristóteles

Aristóteles classificou e sistematizou o pensamento filosófico alcançado até então, iniciando o período sistemático da Filosofia Antiga.

Aristóteles, à esquerda, conversando com seu pupilo, Alexandre, imperador da Macedônia.
Aristóteles, à esquerda, conversando com seu pupilo, Alexandre, imperador da Macedônia.

Aristóteles operou significativas mudanças naFilosofia Antiga, produzida na região da Grécia. Tal produção filosófica já havia passado pelos períodos cosmológico (pré-socrático) e antropológico (socrático) e iniciava, então, o seu período sistemático.
Os estudos aristotélicos influenciaram pensadores medievais da Escolástica, principalmente Alberto Magno e Tomás de Aquino. Também foram influenciados por ele filósofos empiristas da Modernidade, que retomaram a ideia de que o conhecimento também é obtido por meio da prática, operando uma radical e mais completa elaboração da tese do conhecimento como fruto dos sentidos corpóreos e das experiências práticas. Aristóteles também estudou Lógica, MetafísicaPolíticaÉticaCiências Naturais (tendo escrito tratados sobre Biologia e Física), Retórica e Estética.

Quem foi Aristóteles? 

Aristóteles nasceu na cidade de Estagira, na Macedônia, em 384 a.C. Foi um dos três grandes filósofos da Grécia Antiga, tendo convivido e estudado com Platão. Sabe-se que, em sua juventude, teve uma sólida formação em ciências, o que influenciou bastante a sua produção filosófica. Ainda jovem, o filósofo foi para Atenas, onde conheceu o seu mestre Platão e foi estudar na Academia — centro de estudos e discussões sobre Filosofia e Política fundado pelo professor de Aristóteles nos arredores de Atenas.
Após anos de estudos na Academia, Aristóteles passou a lecionar na instituição, aprofundando-se em seus estudos sobre temas da Filosofia Platônica (de forte inspiração socrática) — que iam de conhecimentos de Ética e Política até questões como o conhecimento da verdade e a formação das ideias. Na medida em que estudava tais temas, Aristóteles formulava as suas próprias teorias, o que o levou a um afastamento intelectual das ideias platônicas e marcou uma cisão muito grande dele com o seu mestre, representada na valorização do conhecimento empírico.
Contam as suas biografias que, na ocasião da morte de Platão, Aristóteles (que já lecionava há muito tempo na Academia) esperava um cargo de gestão na instituição de ensino. Ao não receber esse cargo, o pensador desligou-se da Academia e partiu de Atenas para a cidade de Artaneus, na Ásia Menor, tornando-se consultor e conselheiro político entre os anos de 347 e 343 a.C.
Nesse último ano, ele resolveu retornar à Macedônia e, na ocasião, tornar-se preceptor de Alexandre, herdeiro do império macedônico. Em 335 a.C., na ocasião da posse de Alexandre como imperador devido à morte de seu pai, Aristóteles seguiu de volta para Atenas e fundou, em um local próximo à cidade, o seu Liceu — um centro de estudos de filosofia e esportes para os jovens atenienses.

Principais ideias

→ Sistematização

Antes de Aristóteles, os estudos de Filosofia compreendiam uma mistura de AstronomiaFísicaMatemática, Cosmologia, PolíticaÉtica, Estética, Retórica, entre outras áreas do conhecimento. O filósofo foi o primeiro a classificar e a sistematizar essas áreas, desenvolvendo estudos específicos sobre cada tema.

→ Política e Ética

Aristóteles foi um defensor do sistema político democrático pelo qual Atenas já havia passado, tendo escrito um livro sobre isso. Também escreveu tratados de Ética, em que afirmava a necessidade da busca de uma moderação das ações humanas baseada na prudência, para que a vida em sociedade levasse os cidadãos à felicidade.

→ Metafísica

Tendo aprimorado os estudos platônicos sobre o assunto e, em certa medida, afastando-se um pouco das ideias de seu mestre, Aristóteles escreveu um tratado de dez livros chamado “Estudos de Filosofia Primeira”, que, mais tarde, seria conhecido por “Metafísica”. Esses estudos, segundo o próprio filósofo, tratavam sobre o ser em geral, ou seja, seriam uma espécie de ciência geral, mãe de todas as ciências.

→ Lógica

Aristóteles fundamentou as primeiras noções da Lógica Clássica, baseada na argumentação e na Retórica. Em seus estudos, que buscavam algumas noções metafísicas, como a divisão das categorias do que se fala, ele buscou uma forma de linguagem que fosse formalmente válida e que buscasse argumentos que fossem fundamentados em premissas. Surgiu aí a noção de silogismo.

→ Empirismo

Sendo o primeiro filósofo a fundamentar a necessidade do conhecimento prático advindo da observação e da atenção aos sentidos do corpo, Aristóteles deixou em seu legado intelectual o conhecimento empírico, que mais tarde ressoaria na Filosofia Escolástica e na Filosofia Moderna, chamando a atenção dos pensadores para o entendimento dos efeitos do mundo com base em suas causas.
Isso representou um afastamento do modelo de conhecimento platônico, baseado na busca intelectual pela Ideia, que seria puraeterna imutável. Platão considerava que o conhecimento advindo dos sentidos seria imperfeito enganador. Na pintura apresentada abaixo, o pintor renascentista Rafael Sânzio mostra essa discordância entre os dois pensadores ao compor a cena com Platão apontando para cima, como quem aponta para o Mundo das Ideias, e Aristóteles com a mão espalmada para o chão, como quem defende que o conhecimento está aqui, no mundo material.

Platão e Aristóteles em recorte do plano central da Escola de Atenas, pintura renascentista de Rafael Sanzio.*

Obras

Das 22 obras deixadas por Aristóteles, especula-se que algumas podem ter sido, na verdade, compilações e anotações de seus alunos do Liceu tiradas durante as aulas do mestre. Os historiadores não sabem, ao certo, a autoria correta dessas obras, com exceção das principais.
A seguir, estão selecionados alguns dos principais escritos de Aristóteles:

  • Metafísica: conjunto de dez livros, escritos como “Estudos de Filosofia Primeira” e reunidos e renomeados mais tarde por Andrônico de Rodes como “Metafísica”. Tratavam de um conhecimento geral sobre o ser e como o conhecemos, ou seja, uma espécie de ciência geral que tinha como objeto o próprio ser e não recortes dele (como a Matemática é um recorte do ser que estuda apenas as relações numéricas — uma parte de todo o ser).
  • Categorias: pequeno livro sobre Lógica que apresenta a necessidade da classificação e separação de conceitos diferentes para o tratamento de assuntos diferentes, a fim de que equívocos sejam evitados. Seria uma espécie de distinção das diversas categorias do pensamento.
  • Physica: tratado de oito livros com observações de Aristóteles sobre a Ciência da Natureza.
  • Da alma, ou Sobre a alma: escritos sobre a noção dos antigos de alma, que equivale, para nós, à noção de mente. O filósofo trata de assuntos relacionados a como o ser humano constitui-se com base em sua personalidade e a como essa alma atua na distinção entre nós e os outros animais.
  • Ética a Nicômaco: livro que fala sobre Ética expondo as noções de virtude, racionalidade prática (uma racionalidade voltada para o cotidiano e o convívio político) e eudaimonia (uma noção dos gregos antigos de que haveria um guia — a consciência — para as nossas ações).
  • Política: livro em que o pensador defendeu as suas teses sobre a organização política das cidades, baseada na ação ética individual e no exercício da democracia, além de um conjunto de fatores que levariam os cidadãos à vida perfeita.

Frases

“O belo é o esplendor da ordem.”
“O homem é, por natureza, um animal político.”
“O homem é um animal de linguagem.”
“Nada do que existe em potência torna-se ato senão por algo que já existe em ato.”

Resumo

  • Nasceu em Estagira, na Macedônia.
  • Interessou-se por Ciências da Natureza.
  • Foi discípulo de Platão, aluno e professor da Academia.
  • Foi professor do imperador Alexandre, o Grande.
  • Fundou a sua escola filosófica em Atenas, o Liceu.
  • Sistematizou e separou o conhecimento filosófico da Antiguidade.
  • Escreveu sobre diversos assuntos, como Ética, Política, Ciência, Metafísica e Lógica.
Fonte de referência, estudos e pesquisa: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/aristoteles.htm

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Alegoria da Caverna

Alegoria da Caverna






Para explicar o movimento de passagem de um grau de conhecimento para o outro, no Livro VII da República, Platão narra o Mito da Caverna, alegoria da teoria do conhecimento e da paideia platônicas. Para conhecermos esse mito, precisamos retomar, noutro nível, a exposição da teoria do conhecimento feita nas aulas anteriores, pois essa versão apresentada deixou de lado a beleza, a dramaticidade e as metáforas que tecem o Livro VI da República.

Para dar a entender ao jovem Glauco o que é e como se adquire o conhecimento verdadeiro, Sócrates começa estabelecendo uma analogia entre conhecer e ver.
Ilustação do Mito da Caverna
Todos nossos sentidos, diz Sócrates, mantêm uma relação direta com o que sentem. Não é esse, porém, o caso da visão. Para que a visão se realize, não bastam os olhos (ou a faculdade da visão) e as coisas coloridas (pois vemos cores e são elas que desenham a figura, o volume e as demais qualidades da coisa visível), mas é preciso um terceiro elemento que permita aos olhos ver e às coisas serem vistas: para que haja um visível visto é preciso a luz. A luz não é o olho nem a cor, mas o que faz com que o olho veja a cor e que a cor seja vista pelo olho. É graças ao Sol que há um mundo visível. Por que as coisas podem ser vistas? Porque a cor é filha da luz. Por que os olhos são capazes de ver? Porque são filhos do Sol: são faróis ou luzes que iluminam as coisas para que se tornem visíveis. A visão é, assim, uma atividade e uma passividade dos olhos. Atividade, porque é a luz do olhar que torna as coisas visíveis. Passividade, porque os olhos recebem sua luz do Sol.
Conhecer a verdade é ver com os olhos da alma ou com os olhos da inteligência. Assim como o Sol dá sua luz aos olhos e às coisas para que haja mundo visível, assim também a ideia suprema, a ideia de todas as ideias, o Bem (isto é, a perfeição em si mesma) dá à alma e às ideias sua bondade (sua perfeição) para que haja mundo inteligível. Assim como os olhos e as coisas participam da luz, assim também a alma e as ideias participam da bondade (ou perfeição) e é por isso que a alma pode conhecer as ideias. E assim como a visão é passividade e atividade do olho, assim também o conhecimento é passividade e atividade da alma: passividade, porque a alma precisa receber a ação das ideias para poder contemplá-las; atividade, porque essa recepção e contemplação constituem a própria natureza da alma.
Assim como na treva não há visibilidade, assim também na ignorância não há verdade. A  e a  são para a alma o que a cegueira é para os olhos e a escuridão é para as coisas: são privações (privação de visão e privação de conhecimento).
Sob a analogia da luz, a diferença entre o sensível e o inteligível se apresenta assim:
MUNDO SENSÍVELMUNDO INTELIGÍVEL
Sol
Luz
Cores 
Olhos 
Visão
Treva, cegueira 
Privação de luz
Bem 
Verdade

Ideias
Alma racional ou inteligência 
IntuiçãoIgnorância, opinião 
Privação de verdade
Essa analogia é o tema do Mito da Caverna, narrado por Sócrates a Glauco para fazê-lo compreender o sentido da paideia filosófica, isto é, da dialética e do conhecimento verdadeiro.
Imaginemos, diz Sócrates, uma caverna subterrânea separada do mundo externo por um alto muro. Entre este e o chão da caverna há uma fresta por onde passa alguma luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa.
Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos ali estão acorrentados, sem poder mover a cabeça na direção da entrada, nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros, pois não podem mover a cabeça nem o corpo, e sem se ver a si mesmos porque estão no escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna.
Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres, animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam. Nesse ponto, Glauco diz a Sócrates que o quadro descrito por ele lhe parece algo estranho, incomum e inusitado. Sócrates, porém, diz-lhe que os prisioneiros "são semelhantes a nós". E prossegue. Os prisioneiros se comunicam, dando nomes às coisas que julgam ver (sem vêlas realmente, pois estão na obscuridade) e imaginam que o que escutam, e que não sabem que são sons vindos de fora, são as vozes das próprias sombras e não vozes dos seres reais. Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas? Tomam sombras por realidade, tanto as sombras das coisas e dos homens exteriores como as sombras dos artefatos fabricados por eles. Essa confusão, porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros e sim as condições adversas em que se encontram. Por isso Sócrates indaga: que aconteceria se fossem libertados dessa condição de miséria e, "retornando à sua natureza, pudessem ver as coisas e ser curados de sua ignorância?". Essa pergunta é um tanto grave. De fato, para os prisioneiros, o único mundo real é a caverna, portanto, a obscuridade na qual não podem se ver nem ver os outros não é percebida como tal e sim experimentada como realidade verdadeira. 
E a caverna é para eles todo o mundo real, pois não sabem que o que vêem na parede do fundo são sombras de um outro mundo, exterior à caverna, uma vez que não podem virar a cabeça para ver que há algo lá fora e que é de lá de fora que outros homens lhes enviam imagens e sons.
Ora, se para os prisioneiros o mundo real é a caverna, como poderiam sair da ilusão se não sabem que vivem nela?
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando as durezas de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a ação da luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade porque está obrigado a decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou nas sombras em que sempre viveu. Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz) porque seus olhos não conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas. Seu primeiro impulso é retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto. Embora esteja reconquistando sua verdadeira natureza, o sofrimento que essa reconquista lhe traz é tão grande que se sente atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar a caverna, onde tudo lhe é familiar e conhecido.





A descrição platônica é dramática: o caminho em direção ao mundo exterior é íngreme e rude; o prisioneiro libertado sofre e se lamenta de dores no corpo; a luz do Sol o cega; ele se sente arrancado, puxado para fora por uma força incompreensível. Platão narra um parto: o parto da alma que nasce para a verdade e é dada à luz.
Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por causa da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais regressar a ela. No entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.

Assim como a subida foi penosa, porque o caminho era ingrato e a luz, ofuscante, também o retorno será penoso, pois será preciso habituar-se novamente às trevas, o que é muito mais difícil do que se habituar à luz. De volta à caverna, o prisioneiro fica cego novamente, mas, agora, por ausência de luz. Ali dentro, é desajeitado, inábil, não sabe mover-se entre as sombras nem falar de modo compreensível para os outros, não sendo acreditado por eles. Torna-se objeto de zombaria e riso, e correrá o risco de ser morto pelos que jamais se disporão a abandonar a caverna. Impossível aqui não identificar a figura de Sócrates na do prisioneiro que se liberta, retorna e é morto pelos homens das sombras. A caverna, explica Sócrates a Glauco, é o mundo sensível onde vivemos. O fogo que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (do Bem e das ideias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis, que tomamos pelas verdadeiras, e as imagens ou sombras dessas sombras, criadas por artefatos fabricados de ilusões. Os grilhões são nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos, nossas paixões e opiniões. O instrumento que quebra os grilhões e permite a escalada do muro é a dialética. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena do ser, isto é, o Bem, que ilumina o mundo inteligível como o Sol ilumina o mundo sensível. O retorno à caverna para convidar os outros a sair dela é o diálogo filosófico, e as maneiras desajeitadas e insólitas do filósofo são compreensíveis, pois quem contemplou a unidade da verdade já não sabe lidar habilmente com a multiplicidade das opiniões nem se mover com engenho no interior das aparências e ilusões. Os anos despendidos na criação do instrumento para sair da caverna são o esforço da alma para libertar-se. Conhecer é, pois, um ato de libertação e de iluminação. A paideia filosófica é uma conversão da alma voltando-se do sensível para o inteligível. Essa educação não ensina coisas nem nos dá a visão, mas ensina a ver, orienta o olhar, pois a alma, por sua natureza, possui em si mesma a capacidade para ver.



O Mito da Caverna apresenta a dialética como movimento ascendente de libertação do olhar intelectual que nos livra da cegueira para vermos a luz das ideias. Mas descreve também o retorno do prisioneiro para convidar os que permaneceram na caverna a sair dela, ensinando-lhes como quebrar os grilhões e subir o caminho. Há, assim, dois movimentos: o de ascensão (a dialética ascendente), que vai da imagem à crença ou opinião, desta para as matemáticas e destas para a intuição intelectual e a ciência; e o do descenso (a dialética descendente), que consiste em praticar com outros o trabalho para subir até às ideias.
Os olhos foram, portanto, feitos para ver, a alma foi feita para conhecer. Os primeiros estão destinados à luz solar, a segunda, à fulguração/revelação da ideia. A dialética é a técnica que liberta os "olhos do espírito".
O relato da subida e da descida expõe a paideia como dupla violência necessária para a liberdade e para a realização da natureza verdadeira da alma: a ascensão é difícil, dolorosa, quase insuportável; o retorno à caverna, uma imposição terrível à alma libertada, agora forçada a abandonar a luz e a felicidade. A dialética, como toda técnica, é uma atividade exercida contra uma passividade, é um esforço para obrigar uma dÚnamij  a se atualizar, um trabalho para concretizar um fim, forçando um ser a realizar sua própria natureza. No Mito da Caverna, a dialética leva a alma a ver sua própria essência ou forma (), isto é, conhecer, vendo as essências ou formas, para descobrir seu parentesco com elas, pois a alma é parente da ideia como os olhos são parentes da luz.

Bibliografia

PRÉ-SOCRÁTICOS, Col. "Os Pensadores", vol. 1, seleção de textos e supervisão do prof. Dr. José Cavalcante de Souza, São Paulo,
Abril Cultural, 1978.

Bibliografia Complementar

CHAUI, M. Filosofia, Série Novo Ensino Médio, Volume Único, São Paulo, Editora Ática, 2004.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia - dos pré-socráticos a Aristóteles, Volume 1, São Paulo, Cia. das Letras, 2002.
COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia: História e Grandes Temas, São Paulo, Ed. Saraiva, 7a tiragem, 2005.






KIRK, G.S., RAVEN, J. E. & SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos, Lisboa, Fund. Calouste Gulbenkian, 1994.


Fonte de referência, estudo e pesquisa: https://www.algosobre.com.br 

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