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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

SOLA SCRIPTURA: A CENTRALIDADE DA BÍBLIA NA EXPERIÊNCIA PROTESTANTE

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SOLA SCRIPTURA: A CENTRALIDADE DA BÍBLIA NA EXPERIÊNCIA PROTESTANTE

Visto serem as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento o livro sagrado dos cristãos, é natural que desde o início elas tenham sido objeto de grande estima e profundo interesse. Desde os primeiros séculos, a Bíblia foi amplamente utilizada para os mais variados propósitos: teológicos, catequéticos, litúrgicos, homiléticos e devocionais. Ela foi invocada não somente nos grandes debates doutrinários da Igreja Antiga, que visavam definir as verdades centrais da fé, mas, acima de tudo, era a principal fonte na qual os cristãos, fossem eles instruídos ou incultos, iam buscar orientação, consolo, encorajamento e proximidade com Deus. Enfim, ela estava no centro da identidade e autocompreensão do novo movimento.

1. Uma herança contraditória

Tão forte era o apreço pelas Escrituras entre os primeiros cristãos que muitos chegavam a usá-las de modo um tanto supersticioso. Em busca de respostas para os seus problemas, era comum abrirem a Bíblia ao acaso e lerem o primeiro versículo no qual se fixavam os seus olhos, considerando-o uma mensagem divina enviada diretamente a eles. Tal prática tornou-se tão popular que teve de ser condenada repetidamente por concílios da Igreja. Outros cristãos se sentiram profundamente desafiados por certas passagens, a ponto de tomarem decisões radicais que transformaram para sempre as suas vidas. Por exemplo, as palavras de Jesus ao jovem rico – “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me” (Mt 19.21) – levaram muitos cristãos antigos, como Antônio do Egito, Valdès de Lião e Francisco de Assis, a abandonarem tudo e se dedicarem plenamente à causa do evangelho.

Com o passar dos séculos, uma série de fatores produziu um crescente distanciamento entre a Bíblia e os fiéis. Em primeiro lugar, o surgimento de dissidências ou expressões alternativas da fé cristã, eventualmente consideradas heréticas – todas as quais apelavam para as Escrituras –, levou os líderes da Igreja majoritária a temerem e desaconselharem a leitura da Bíblia pelos leigos. Em segundo lugar, a interpretação bíblica oficial por parte da Igreja, na forma da tradição e do magistério eclesiástico, passou na prática a ser mais importante e decisiva que a própria Escritura. Através da interpretação alegórica, com sua grande flexibilidade de entendimentos, a Igreja passou a buscar fundamentação bíblica para certos dogmas que simplesmente não se encontravam claramente expressos no texto sagrado.

Finalmente, havia a questão pura e simples da acessibilidade física. Durante mais de um milênio, as cópias parciais ou integrais da Bíblia eram feitas à mão, trabalho esse realizado principalmente por monges que pacientemente redigiam os manuscritos (hoje existem cerca de 2300 manuscritos bíblicos produzidos entre os anos 300 e 1500). O fato de os livros serem copiados à mão tornava-os extremamente caros para a maioria das pessoas – copiar um livro como Isaías levava semanas ou meses. Por exemplo, no século 14, o custo de uma Bíblia podia ser equivalente ao salário de um ano inteiro de um sacerdote. Todos esses fatores contribuíram para que as Escrituras não estivessem ao alcance da maioria das pessoas.

2. A contribuição dos humanistas

A maior parte dos primeiros cristãos lia a Bíblia em grego, na versão conhecida como Septuaginta ou LXX. Nos primeiros séculos da era cristã, foram feitas traduções para vários outros idiomas, tais como o siríaco (Peshita), o armênio, o copta ou egípcio e o gótico. Algumas traduções foram feitas com propósitos missionários, como foi o caso da última mencionada: no século quarto, Ulfilas, o missionário pioneiro às tribos germânicas dos godos, traduziu a Bíblia para a língua desse povo. Todavia, a obra-prima em matéria de tradução bíblica na antiguidade foi a Vulgata Latina, produzida pelo grande erudito Jerônimo no final do quarto século e início do quinto.

Na Europa medieval, houve a predominância quase absoluta da Vulgata, sendo que as poucas traduções para as línguas vulgares abrangiam apenas algumas partes da Bíblia. Dois fatores contribuíram para a crescente difusão e popularização das Escrituras no final da Idade Média. Em primeiro lugar, a invenção da imprensa, em meados do século 15, simplificou e barateou substancialmente a produção dos livros. Outro fator, mais importante, foi a obra dos chamados humanistas bíblicos. Esses eruditos não somente começaram a estudar a Bíblia nos originais hebraico e grego, mas produziram valiosas edições críticas desses originais. Além disso, eles passaram a fazer traduções para as línguas vernaculares. Na segunda metade do século 15 e no início do século 16, a Bíblia foi traduzida para o alemão, o italiano, o espanhol, o francês, o tcheco, o inglês e outros idiomas europeus.

Essa ampla divulgação da Bíblia foi uma das molas propulsoras da Reforma Protestante. Quando Erasmo de Roterdã, o “Príncipe dos Humanistas”, publicou uma edição do Novo Testamento grego acompanhado de uma tradução latina (1516), o impacto foi enorme. Muitos sacerdotes começaram a ler as Escrituras com renovado interesse e, o que é mais importante, passaram a utilizá-las de modo mais enfático em sua pregação e ensino. Comparando os ensinos bíblicos com a tradição dogmática e magisterial da Igreja, religiosos e leigos perceberam que havia conflitos insanáveis, e sentiram que a Escritura – a Palavra de Deus – devia ter a precedência. As conseqüências abalaram a cristandade.

3. A revolução protestante

Muito antes da Reforma, houve cristãos que defenderam uma espiritualidade mais bíblica. Um exemplo bem conhecido é o sacerdote John Wyclif, do século 14, que incentivou a primeira tradução completa da Bíblia para o inglês (1384). Wyclif se apoiou nas Escrituras para contestar uma série de dogmas da Igreja Medieval e foi eventualmente condenado por heresia. Quarenta e quatro anos após a sua morte, seus ossos foram exumados e queimados, sendo as cinzas lançadas em um rio. Muitos exemplares de seus livros e da sua tradução da Bíblia foram queimados – assim como alguns de seus seguidores. Surpreendentemente, apesar da intensa repressão, quase duzentas cópias dessa Bíblia sobreviveram até os nossos dias. Como é natural, a Igreja ficou ainda mais receosa de colocar a Escritura nas mãos dos leigos. Mas havia sido desencadeado um processo irreversível.

Os humanistas seculares tinham o lema ad fontes, “de volta às fontes”, ou seja, as obras da antigüidade clássica greco-romana. Os reformadores fizeram o mesmo com a Bíblia, a fonte por excelência da tradição cristã, o registro da ação providencial e redentora de Deus na vida do mundo. Desde o início, homens como Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino afirmaram o princípio da autoridade suprema das Escrituras em matéria de fé e prática (“sola Scriptura”), e passaram a reavaliar toda a sua herança religiosa à luz desse critério. Eles concluíram que a autoridade da Bíblia é intrínseca e decorre da sua origem divina, visto ser a revelação direta, viva e pessoal de Deus aos seres humanos. Não foi a Igreja que formou a Escritura, mas vice-versa. A Igreja está edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2.20), ou seja, o evangelho que está contido nas Escrituras e é a sua essência. Cristo é o centro e a chave da revelação escrita.

Esse postulado, chamado o “princípio formal” da Reforma, teve uma série de corolários importantes. Um desses princípios colaterais foi o do “livre exame” das Escrituras. Se a Bíblia é a Palavra de Deus, escrita para a instrução e o encorajamento do povo de Deus, todo cristão tem o direito e o dever de lê-la e estudá-la. Os reformadores conheciam os riscos envolvidos nesse princípio, mas mesmo assim resolveram assumi-los. Na questão crucial da interpretação bíblica, dois fatores foram importantes. Por um lado, insistiu-se no princípio da “analogia da Escritura”, ou seja, de que a Bíblia se interpreta a si mesma. Um ponto confuso ou obscuro do texto deve ser aclarado por outros textos que falam sobre o mesmo assunto. Por outro lado, houve o entendimento de que “livre exame” não significava “livre interpretação”, meramente pessoal, subjetiva, aleatória. Os reformadores foram os primeiros a dar o exemplo nesse sentido, levando em consideração o que havia de melhor na tradição exegética da Igreja Antiga.

4. A centralidade da Palavra

O amor pela Bíblia encontrou expressão em vários desdobramentos notáveis. A vida das comunidades protestantes passou a girar em torno das Escrituras e da sua mensagem. A própria arquitetura dos templos passou a refletir as novas convicções: a decoração modesta, a ausência de imagens e do altar, o destaque dado ao púlpito e à mesa da comunhão. O foco central do culto passou a ser a pregação expositiva da Bíblia, bem como a celebração dos sacramentos da ceia e do batismo. Os pastores ficaram conhecidos como os “ministros da Palavra”.

Em contraste com a Idade Média, em que a arte sacra era considerada “a bíblia dos ignorantes”, os reformados passaram a incentivar a educação para que as pessoas pudessem ler a própria Bíblia. Paralelamente, houve uma produção sem precedentes de novas traduções em linguagem acessível ao povo. Uma das maiores contribuições de Lutero foi a Bíblia alemã (1534), um monumento literário desse idioma. Mais importante foi a Bíblia inglesa, devido à sua influência na história posterior do movimento protestante. A primeira tradução impressa foi a de William Tyndale (1525-1530), martirizado em Bruxelas em 6 de outubro de 1536. Dos seis mil exemplares do seu Novo Testamento, somente dois chegaram até os nossos dias. Ainda no século 16, surgiram várias outras versões inglesas: Bíblia de Coverdale (1535), Bíblia de Matthew (1537), Grande Bíblia (1539), Bíblia de Genebra (1560) e Bíblia dos Bispos (1568).

Como seria de se esperar, as Escrituras influenciaram poderosamente todos os aspectos do universo protestante: a teologia, a liturgia, a pregação, a hinódia, a devoção pessoal e familiar, a vida intelectual, a literatura e a arte, bem como as concepções éticas, políticas e sociais. Nos países marcados pela Reforma, o próprio idioma absorveu um grande número de palavras e expressões bíblicas. A Bíblia também esteve por trás dos grandes movimentos de revitalização das Igrejas Evangélicas, como o puritanismo inglês, o pietismo alemão e os grandes despertamentos norte-americanos. Desde o século 16, com os próprios reformadores, o estudo dos textos nas línguas originais e a adoção de princípios equilibrados de exegese e hermenêutica (como o método histórico-gramatical) têm gerado um imenso e valioso legado de reflexão bíblica.

Outra área da vida das igrejas que teve profunda conexão com as Escrituras foi o esforço missionário. Desde os primeiros contatos com povos não-cristãos, os protestantes se preocuparam em traduzir a Bíblia para as línguas nativas. Essa preocupação se intensificou a partir do final do século 18, através de homens como William Carey, que verteu as Escrituras para várias línguas do subcontinente indiano. Fator importante nesse processo foi o surgimento das grandes sociedades bíblicas – a Britânica (1804) e a Americana (1816). Através de seus agentes, os valorosos colportores, essas sociedades espalharam a Bíblia pelo mundo afora. Hoje, graças aos esforços de organizações como Tradutores Wyclif da Bíblia, são relativamente poucas as pessoas que não têm nenhuma parte das Escrituras em sua língua materna.

Conclusão

Ao se escrever sobre a importância da Bíblia para os protestantes, seria injusto esquecer a contribuição católica. Em todos os períodos da história, a Igreja Romana teve manifestações de grande apreço e valorização das Escrituras, preservando os manuscritos antigos, fazendo valiosas traduções, estudando e ensinando as Escrituras. Por outro lado, muitos protestantes não estão isentos de erros nessa área, como o biblicismo estreito e intolerante, as interpretações esdrúxulas que geraram uma multiplicidade de seitas, o uso ideológico das Escrituras para justificar práticas inaceitáveis à luz do evangelho, como a escravidão e o preconceito. No cômputo geral, todavia, não há como negar que a Bíblia ocupa um lugar de muito maior destaque nas igrejas da Reforma e que os frutos desse interesse tem sido em grande parte benéficos e enriquecedores, tanto no aspecto pessoal quanto comunitário.

Perguntas para reflexão:

1. Por que razões as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento são indispensáveis e insubstituíveis para a definição da fé cristã?
2. Quando há uma tensão ou uma divergência entre o ensino bíblico e a tradição eclesiástica, qual dos dois deve ter a precedência? Por quê?
3. Como se pode evitar o subjetivismo e a parcialidade na interpretação das Escrituras?
4. O princípio do “livre exame” das Escrituras tem tido efeitos predominantemente positivos ou negativos para as igrejas protestantes?
5. Os protestantes têm sido acusados de bibliolatria, ou seja, a tendência de se concentrarem excessivamente na Bíblia como um fim em si mesma. Como se pode evitar isso?

Sugestões bibliográficas:

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura: a doutrina reformada das Escrituras. Recife: Os Puritanos, 1998.
BEEKE, Joel e outros. Sola Scriptura: numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. São Paulo: Cultura Cristã, 2000.
BOICE, James Montgomery. O alicerce da autoridade bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova, 1986.
GEISLER, Norman; NIX, William. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 2000.
HARRIS, Laird. Inspiração e canonicidade das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes: uma breve história da interpretação. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.



Fonte de Estudos e Pesquisas: http://www.mackenzie.br

Como a Evolução substituiu a Criação...

Como a Evolução substituiu a Criação para explicar a origem da vida?


INTRODUÇÃO

Francis Bacon
Muitas vezes, quando olhamos para os livros e compêndios científicos, temos a ideia de uma ciência que parece transcender a existência humana e suas contradições. Esse posicionamento, que coloca a ciência como isenta dos outros acontecimentos da vida humana, encontra uma de suas fontes nos escritos de Bacon (século 16), que afirmava ter a ciência somente bondade e neutralidade, inerentes ao próprio processo, e que qualquer mal que ela causasse seria consequência de sua má utilização.

Tal tradição seguiu ganhando adeptos e foi reforçada por Galileu, na mesma época, o qual afirmava que a ciência não deve estar sujeita a nenhuma limitação. Os cientistas deveriam ter o direito de buscar e praticar a verdade científica sem se preocuparem com suas possíveis consequências sociais perturbadoras. Por isso, ela foi sempre tratada de maneira asséptica e completamente afastada de outras variáveis que não dissessem respeito exclusivamente aos resultados empíricos que confirmassem ou não os seus estabelecimentos teóricos eminentemente racionais. 

Dessa maneira, recebemos os fatos e informações científicas protegidos pelo véu da atemporalidade e da neutralidade, como se fossem verdades absolutas. Informações isoladas, por mais atuais que sejam, já não satisfazem mais. É necessário perceber que a ciência não é algo acabado e sim um processo, sujeito a inúmeras influências que nem sempre estão comprometidas com a busca do conhecimento, mas que representam interesses de grupos particulares.

Este artigo abordará o desenvolvimento do darwinismo, um tema importantíssimo para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, devido às suas implicações contrárias à Palavra de Deus. Queremos analisar o contexto econômico e social que favoreceu a substituição do relato bíblico da criação pela teoria da evolução nos meios acadêmicos na Inglaterra, durante o século 19, e verificar o efeito negativo dessa substituição no desenvolvimento da própria Biologia abordando a questão das origens.

Uma questão que invariavelmente é colocada por aqueles que se dedicam ao estudo das origens é saber qual ou quais as causas que levaram à rejeição do relato bíblico da criação e à aceitação da teoria evolucionista sobre a origem da vida. Durante muito tempo, a narrativa bíblica era aceita pela maioria das pessoas, mas hoje vemos um quadro diferente. Muitos cientistas veem um universo governado por leis naturais que não necessitam da ação de um Criador, e a teoria da evolução é aceita como sendo capaz de explicar a origem da vida em nosso planeta. Mas como ocorreu essa mudança ao longo do tempo?

Antes que a teoria evolucionista fosse aceita, vários conceitos, baseados em crenças religiosas, tiveram que ser descartados. A teoria geocêntrica, a fixidez das espécies e uma natureza perfeita são exemplos de ideias errôneas que foram defendidas como verdades absolutas e inquestionáveis. Quando Galileu apoiou a teoria do heliocentrismo proposta por Copérnico, colocou por terra o geocentrismo e abriu um precedente de que a verdade nem sempre residia no que a igreja ensinava. 

Mais tarde, a ideia de uma natureza perfeita e de que os próprios organismos não sofriam nenhum tipo de modificação ao longo do tempo foi totalmente descartada na revolução darwiniana. Dessa maneira, muitos estudiosos apontam para a igreja dominante como responsável pela mudança da criação pela evolução, sendo incapaz de separar a realidade bíblica de suas próprias especulações. 

Esses fatos históricos podem ser considerados como causas importantes que levaram à aceitação da teoria da evolução. Entretanto, a maneira isolada como são apresentados e desvinculados do seu contexto social e econômico não consegue demonstrar a verdadeira dimensão da realidade dessa mudança. Afinal de contas, ideias preconizadas pela igreja durante séculos por mais absurdas que fossem, não poderiam ser substituídasmeramente por outras, sem que houvesse uma tensão entre os interesses da igreja e os interesses de um grupo opositor. É exatamente esse conflito de interesses que acaba se refletindo em outras áreas, incluindo a área acadêmica, onde a produção do conhecimento pode ser subsidiada por um grupo em particular a fim de atender aos seus interesses.

Essa conclusão é apoiada numa compreensão da ciência introduzida por Thomas Kuhn, em 1962, com a publicação do livro The Structure of Scientific Revolutions [A Estrutura das Revoluções Científicas]. Essa influente obra causou imediata controvérsia ao introduzir uma visão subjetiva e irracional do empreendimento científico.

Thomas Kuhn
Kuhn propôs que a ciência, em vez de representar o acúmulo de conhecimento objetivo, é mais a adequação de dados sob conceitos amplamente aceitos denominados de paradigmas. Os paradigmas são visões abrangentes que podem ser tanto falsas quanto verdadeiras, mas aceitas como verdade. Nesse sentido, focalizam atenção sobre conclusões que concordam com o paradigma e restringem inovações fora dele. Tais conceitos estabelecem os limites para o que Kuhn chama de “ciência normal”, em que os dados são interpretados dentro do paradigma aceito.

Às vezes, temos uma mudança de paradigma à qual Kuhn chama de “revolução científica”. A mudança de um paradigma para outro é bastante difícil, uma vez que há uma enorme inércia intelectual a ser superada. Kuhn também desafiou a acariciada ideia de progresso da ciência, declarando:
“Podemos, para ser mais precisos, ter que renunciar a noção implícita ou explícita de que as mudanças de paradigma transportam os cientistas e aqueles que aprendem com eles para mais e mais perto da verdade.”

As ideias de Kuhn geraram considerável agitação e até mesmo reformas na história, filosofia e sociologia da ciência. Muitos sociólogos veem um forte componente sociológico governando tanto as perguntas quanto as respostas que a ciência gera. O conceito de que a comunidade científica regula o tipo de questões que os cientistas formulam, bem como as respostas que aceitam, não se enquadra na imagem que muitos cientistas têm de sua ciência como uma busca aberta pela verdade. Mesmo assim, a ideia de influência sociológica na ciência tem obtido considerável aceitação.

Em seu ensaio seminal “Dois dogmas do empirismo”, Willard Van Orman Quine desenvolveu os argumentos do físico e filósofo francês Pierre Duhem, e o resultado de seu estudo veio a ser conhecido como a “tese Duhem-Quine”. A tese afirma que se dados e teorias incompatíveis mostram-se em conflito não se pode concluir que determinada afirmação teórica seja a responsável por isso e que, portanto, deva ser rejeitada.

As análises de Quine são responsáveis pelo que se chama “tese da indeterminação”. Trata-se de um ponto de vista particularmente associado com a aplicação de perspectivas sociológicas às ciências naturais. Segundo essa tese, existiriam, em princípio, duas ou mais teorias que poderiam ser aplicadas mais ou menos adequadamente aos fatos observados. A escolha de determinada teoria poderia ser explicada com base em fatores sociológicos como, por exemplo, os interesses de um grupo em particular. Podemos aplicar esse pensamento à controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo para explicar a origem da vida, e afirmar que a escolha, tanto dos argumentos teológicos quanto científicos, não pode ser feita apenas com base na racionalidade humana. Por isso, temos que considerar os aspectos sociais e econômicos que serviram de pano de fundo para esta controvérsia.

OLHANDO UM POUCO MAIS PARA A HISTÓRIA

Por que um governo, como o brasileiro, destina recursos para a pesquisa de microrganismos que realizam fermentação alcoólica? O imediato aproveitamento desses microrganismos para a produção de álcool, economizando divisas com combustível importado, seria uma boa explicação. No entanto, se o micróbio não tiver aplicação econômica imediata, pode parecer que a pesquisa não tem vínculo algum com interesses que permeiam a sociedade; seu único objetivo seria o de ampliar os horizontes do conhecimento humano. Para ilustrar o que acabamos de dizer, tomemos como exemplo um caso ocorrido no século 19 e que foi objeto de consideração por Bizzo.

Louis Pasteur
Na mesma época em que Pasteur apresentava seus resultados sobre a geração espontânea na França, na Inglaterra começavam os estudos de um microrganismo que se originaria por geração espontânea a partir do lodo oceânico. Por qual razão aquele país destinava recursos para o estudo desse misterioso microrganismo? Não existiam razões econômicas diretas que justificassem essa iniciativa, pelo menos nos mesmos moldes dos micróbios fermentadores da atualidade. Seria apenas para ampliar os horizontes do conhecimento humano? Na tentativa de reaproximar a Ciência e a História, Bizzo procura compreender esse fato dentro do contexto histórico e social em que ocorreu.

Em meados do século 19, a Inglaterra foi palco de acontecimentos que tiveram repercussão em muitas outras áreas do planeta. No campo da Biologia, o fato mais marcante foi, sem dúvida, o estabelecimento da teoria da evolução. Ela permitiu que um grande número de informações fosse reinterpretado à luz da nova doutrina. Um dos princípios desta teoria dizia que os agentes que atuaram na transformação das espécies no passado ainda estariam atuando no presente. A questão da descendência entre as espécies remetia para um problema fundamental: como teria se originado o primeiro ser vivo do planeta? 

Como os evolucionistas descartavam qualquer tipo de intervenção divina nos processos biológicos, supunham que o primeiro ser vivo tivesse aparecido por geração espontânea, através da combinação de compostos químicos elementares. De acordo com aquele princípio, se esse processo de origem de micróbios ocorreu no passado, ele ainda continuaria a ocorrer no presente.

Mas Pasteur tinha comprovado experimentalmente que a geração espontânea era um mito. O argumento dos evolucionistas utilizava outro princípio retirado do darwinismo. Era praticamente impossível demonstrar experimentalmente a geração espontânea, porque os micróbios assim formados seriam muito primitivos e estariam sendo constantemente eliminados pelos micróbios já evoluídos, melhor adaptados às condições ambientais atuais. 

No entanto, alguns cientistas postulavam a existência desses micróbios gerados espontaneamente em ambientes onde não existisse competição, desde que estivessem intocados durante milhares de anos. Em 1866, Ernest Haeckel apresentava em seu livro Morfologia Geral dos Organismos uma descrição minuciosa do que seriam esses micróbios. Eram um pouco mais simples do que uma ameba, mas não apresentavam a estrutura central, o núcleo, que lhe era característica. Seu protoplasma era gelatinoso e amorfo, possuindo algumas granulações. Haeckel chegou até a designar um novo reino para abrigar esses microrganismos mais simples que a ameba. 

Bathybius haeckelii
Era o reino Monera. No ano seguinte, Thomas Huxley, que se notabilizara pela defesa pública de Darwin, teve a ideia de procurar esses micróbios em amostras de lodo oceânico, que tinham sido recolhidas pelo navio Cyclops alguns anos antes. Como elas tinham sido cuidadosamente preservadas em álcool, Huxley presumiu que os seres vivos eventualmente presentes nas amostras poderiam ainda ser encontrados em bom estado. Para seu espanto, muitos micróbios foram encontrados. Mas o que era realmente espantoso era a notável semelhança com os desenhos proféticos de Haeckel. Em sua homenagem, ele os chamou deBathybius haeckelii.

Nos anos seguintes, muitas pesquisas foram desenvolvidas, comprovando a existência do micróbio numa série de lugares e criando toda uma terminologia para designar as granulações citoplasmáticas. Nos mais importantes encontros científicos da época foram apresentados trabalhos sobre o Bathybius, existindo relatos de sua ocorrência até em rochas do pré-cambriano do Canadá. Assim, além de ser o mais simples dos seres vivos, ele também seria o mais antigo. Em outras palavras, estava comprovada que a evolução tinha começado por esse organismo.

Embora sua ocorrência fosse verificada facilmente em amostras de lodo oceânico conservadas em álcool, ninguém tinha conseguido capturar o Bathybius vivo. Assim, não existiam informações sobre seu modo de vida, alimentação, reprodução, etc. Uma famosa expedição inglesa partiu, em 1872, no navio Challenger, para explorar o Atlântico, o Índico e o Pacífico, percorrendo locais em que já havia sido relatada a ocorrência do Bathybius.

Apesar de todo o esforço, nenhum micróbio foi encontrado no material fresco. No entanto, analisando-o depois de adicionado o álcool, os naturalistas de bordo ficaram simplesmente chocados. Com a adição do álcool, os tais “microrganismos” apareciam. O químico que fazia parte da tripulação analisou a composição do material e constatou que se tratava simplesmente de um composto de cálcio, que assume estado coloidal na presença de álcool. Apesar de ter sido comunicada a descoberta do equívoco, numa reunião científica muito prestigiada, ela não foi aceita por muitos pesquisadores, entre eles Haeckel. Lenta e silenciosamente, o Bathybius foi sendo esquecido. Posteriormente, o termo monera foi reabilitado, designando hoje o grupo das bactérias, seres vivos de estrutura celular mais simples.


O QUE HÁ POR TRÁS DA HISTÓRIA?
Thomas Huxley
Qual a razão de se investirem tantos recursos em pesquisas e até mesmo em expedições marítimas para estudar esse “microrganismo”? A resposta a questão não pode ser procurada fora do contexto do darwinismo e das relações sociais nas quais ele emergiu. Na Inglaterra, o darwinismo teve uma importância muito grande, fornecendo elementos para a consolidação e justificação de práticas sociais particulares. A Igreja Anglicana, por exemplo, detinha todo o sistema educacional do país. Os professores das universidades, como Cambridge, onde Darwin estudou, eram todos ligados ao clero. A teologia era disciplina obrigatória.

O desenvolvimento do capitalismo exigia, no entanto, um novo perfil educacional para o país. Interpretações da natureza de cunho científico, que entrassem em contradição com os ensinamentos religiosos praticados na época, interessavam muito à classe burguesa que estava em ascensão. Para ela era importante convencer os ingleses de que o clero não tinha vocação educacional. Enquanto se discutia à boca pequena se o Bathybius existia mesmo ou não, o parlamento inglês designava uma comissão para apresentar propostas de reformulação do ensino superior. Thomas Huxley fazia parte desta comissão.

O darwinismo oferecia ainda outra vantagem à burguesia além da sua utilidade anticlerical. Os organismos competiam por recursos sempre limitados e, justamente por isso, evoluíam com o passar das gerações. Isso constituía um apelo muito forte: o binômio “escassez-evolução” poderia se transformar em outro mais interessante: “miséria-progresso”. Na sociedade inglesa daquela época, os cidadãos viviam em condições muito precárias, principalmente os trabalhadores. Eles tinham sido atraídos do campo para as cidades. O sofrimento da miséria era anestesiado, em grande parte, pela ideia de progresso futuro. O conceito central do darwinismo, a competição, era muito útil à classe dominante, principalmente quando contraposto à ideia de solidariedade. Com ele era possível enfrentar os movimentos paredistas sem derramamento de sangue.

Pesquisas como a do Bathybius não tinham importância econômica direta, muito menos com a ampliação do conhecimento, mas contribuíam para justificar práticas sociais de um grupo particular. Em outros países como a Itália e Alemanha, naquela mesma época, esses elementos anticlericais burgueses tinham também sua utilidade. Na França, por outro lado, a queda da Bastilha tinha tido um significado de ruptura muito grande em relação ao sistema medieval. Logo no início do século 19, Napoleão tinha tomado para o estado as funções educacionais. 

Na época de Pasteur, o problema maior da burguesia francesa era conquistar a estabilidade política. O clero não atrapalhava tanto quanto os anarquistas e os outros combatentes do estado burguês. Não admira, portanto, o fato de Pasteur estar desenvolvendo pesquisas sobre a fermentação do vinho e produção de vacinas, enquanto os ingleses procuravam seu Bathybius.

Ao analisarmos esses fatos, podemos tirar uma lição importante. Devido à complexidade do fenômeno das origens, duas ou mais teorias antagônicas podem explicar os mesmos fatos ocorridos na natureza, e a rejeição de uma ou outra pode estar ligada a interesses que necessariamente não estão preocupados somente com a ampliação dos horizontes do conhecimento ou com alguma aplicação econômica direta. A necessidade da burguesia em conquistar o espaço educacional para a ampliação dos seus interesses foi determinante para dar toda a força ao darwinismo e romper definitivamente com o poder eclesiástico.



NA CONTRAMÃO DO DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA 

A aceitação da teoria da evolução teve um efeito negativo sobre o desenvolvimento de outra teoria biológica, o paradigma mendeliano da herança, cujos princípios não apresentavam certa relevância aos interesses da burguesia naquele momento. Mendel explicou seus resultados experimentais com ervilhas a partir das seguintes premissas: 
  1. As características hereditárias são condicionadas por pares de fatores hereditários (atualmente conhecidos como genes); 
  2. Plantas puras são portadoras de apenas um tipo de fator, enquanto que as híbridas são portadoras de dois tipos (um dominante e outro recessivo); e
  3. Cada gameta é portador de apenas um fator para cada característica.
Esse trabalho, considerado atualmente como um dos mais importantes no desenvolvimento da biologia moderna, ficou relegado ao esquecimento por quase 40 anos entre os naturalistas do século 19, até que Hugo de Vries e Karl Correns, em 1900, se deram conta de que Mendel já havia resolvido o problema que eles estavam investigando. As razões pelas quais não se prestou atenção a um trabalho tão rigoroso e inovador como experimentos sobre vegetais híbridos têm sido objeto de um longo debate entre historiadores e epistemólogos da biologia, gerando grande quantidade de trabalhos. 

Gregor Mendel
O trabalho de Mendel foi lido em algumas sessões da Sociedade de História Natural de Brünn, nos meses de fevereiro e março de 1865, e publicado nas atas da sociedade do ano seguinte, e distribuído para 134 instituições científicas, incluindo universidades e duas prestigiosas sociedades inglesas com sede em Londres, a Royal Society e a Linnean Society. Apesar de sua ampla divulgação, o trabalho de Mendel ficou relegado ao esquecimento até o inicio do século 20.

Por que as importantes descobertas de Mendel não foram reconhecidas por um longo período de tempo, após seus estudos estarem completos e publicados? Na segunda metade do século 19, outras áreas da biologia tiveram seu desenvolvimento tais como a citologia, a sistemática e a própria evolução darwiniana. Mas o fenômeno da hereditariedade ainda era interpretado de diversas maneiras.

O livro de Charles Darwin, Origem das Espécies, exerceu grande influência sobre os pesquisadores da época. Darwin deu continuidade a certos aspectos da evolução que não tinham sido tratados adequadamente e dividiu cada capítulo da Origem para formar outras obras. Sobre a origem da variação e sua consequente transmissão, Darwin produziu uma obra em dois volumes, The Variation of Animals and Plants Under Domestication [A Variação dos Animais e Plantas Domesticados], que teve sua primeira edição publicada em 1968. No segundo volume, ele discute as causas da variação e sua herança, apresentando a hipótese da pangênese.

De acordo com essa hipótese, todas as unidades do corpo contribuem para a formação do novo ser, ou seja, todas as partes do corpo produzem minúsculas partículas, as gêmulas, características daquelas partes. Essas gêmulas reúnem-se nos gametas e são transmitidas para as gerações seguintes, sendo que algumas podem ficar dormentes e outras, apresentar certa predominância. Essa ideia fora amplamente difundida até o final do século 19, porém Darwin não foi o primeiro autor a descrevê-la, mas o primeiro a elaborar um mecanismo que explicasse a herança de caracteres adquiridos, baseado na ideia acima.

A hipótese da pangênese só pôde ser descartada, em 1892, quando August Weismann expôs sua teoria do plasma germinativo que, não contemplando a herança dos caracteres adquiridos até então aceita, apresentou fortes argumentos contrários. Após o descobrimento do trabalho de Mendel, o número de pesquisas nessa área cresceu muito e, em 1915, Bateson publicou um livro de 400 páginas, intitulado Princípios Mendelianos da Hereditariedade, no qual ele enumera uma vasta quantidade de pesquisas realizadas desde 1900. 

Por outro lado, o evolucionismo darwiniano começou a entrar em declínio até a década de 1930, quando passou por um recrudescimento. A ênfase dada à hipótese da pangênese que explicava parcialmente os fatos, e aceita por aqueles que esposavam a ideia lamarquista da herança dos caracteres adquiridos, entre eles o próprio Darwin, pode ser considerado como um dos fatores que contribuíram para que os pesquisadores da época não reconhecessem o trabalho de Mendel como sendo mais consistente com os fatos observados em relação à variação das espécies.


CONCLUSÃO 

A partir das considerações acima, podemos concluir que o surgimento da vida na Terra, devido à sua natureza histórica e não reproduzível, não pode ser explicado por apenas uma narrativa. Durante muito tempo, a cosmovisão bíblica era amplamente aceita, mas a partir de meados do século 19, com o surgimento do darwinismo, esse quadro
mudou drasticamente.

A teoria da evolução, apesar de não explicar o surgimento da vida, teve a sua aceitação nos meios acadêmicos, não só pelas ideias errôneas defendidas pela igreja, mas também por servir aos interesses da burguesia que ansiava por espaço nas instituições de ensino. Além disso, a atenção que foi dada à teoria da evolução, na segunda metade do século 19, prejudicou o desenvolvimento da ciência, ao desviar a atenção da maioria dos pesquisadores de uma rota que levaria ao estabelecimento mais rápido do paradigma mendeliano da herança.

A partir de uma compreensão histórica fundamentada no ensino bíblico do grande conflito, podemos compreender esses fatos como uma derivação da luta sobrenatural entre Cristo e Satanás. Cada um exercendo sua influência de maneira imperceptível, procurando atingir seus objetivos na história que caminha para seu clímax escatológico. É importante notar a relação desse período histórico com a pregação da tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14, conclamando todos os homens a adorarem o Criador, pois é chegada a hora do seu juízo. Esse período marca também o surgimento do movimento adventista.


Autor:
Wellington dos Santos Silva, Doutor em Patologia Molecular, Professor de Biologia e Genética Humana na Faculdade Adventista da Bahia e de Ciência e Religião no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia do Nordeste

Fonte:
PAROUSIA: Criacionismo, p. 47-55, 1° Semestre, 2010. Disponível em: <http://circle.adventist.org/files/unaspress/parousia2010014709.pdf> Acesso em: 17 fev. 2012.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Satanás: A origem do Diabo está na Bíblia?

Satanás: A origem do Diabo está na Bíblia?

Pergunta levantada em uma aula de Escola Bíblica a respeito de um assunto que realmente não é muito discutido atualmente nas igrejas em geral: Afinal, de onde veio Satanás, o Diabo? Onde na Bíblia é mencionado a respeito de sua origem? Quem ele é realmente? Se ele é um anjo caído, onde aconteceu essa queda, já que Gênesis começa contando a história do homem? E se ele é um anjo, como pode ter essa imagem monstruosa que costumamos ver reproduzida?
A queda de Satanás, em lápis de Gustave Doré
ATENÇÃO! É bom lembrar que existem diversas visões de teólogos e religiosos em geral a respeito da origem e da forma de atuar do inimigo de nossas almas, mas não há um consenso total, além de muitos detalhes que só são possíveis de se assimilar por inferência, de maneira que vamos apresentar aqui a estrutura de pensamento que julgamos mais crível, aceitável e coerente de acordo com a Bíblia e o que Ela ensina. Se este assunto é de seu interesse, acompanhe nosso estudo.
De onde ele veio?
Ezequiel , o profeta de Deus, levanta profecias, advertências e uma lamentação contra o rei de Tiro, metrópole da antiguidade que era a capital da Fenícia, uma nação cujo comércio através navios havia tornado a cidade uma das mais ricas e opulentas daquela época, mas também orgulhosa e mesquinha, situação espelhada na pessoa de seu rei, como podemos ver nos escritos do profeta. São profecias cumpridas, uma vez que a Tiro da idade antiga caiu sob domínio de Alexandre da Macedônia e foi perdendo sua importância ao longo dos anos, ficando em seu lugar a cidade de Sur, hoje no Líbano. Mas a descrição do lamento sobre o rei de Tiro, em Ezequiel 28:12-15, não parece se tratar dele ou de qualquer outro homem, mas de uma criatura diferente:


Querubins são uma classe de anjos responsáveis pela guarda angelical e pelos mistérios de Deus. Satanás era um deles antes de sua queda.
13 – Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados.
14 – Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas.
15 – Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti.
É certo e óbvio que o rei de Tiro não poderia ter estado no Éden, nem fora querubim da guarda do próprio Deus, não morou no monte santo do Altíssimo, tampouco era um ser perfeito. Essa descrição não bate com nenhum ser humano, de forma que tudo indica que Ezequiel está descrevendo um anjo de alta patente diante de Deus que vivia num Éden um pouco diferente do que conhecemos, um jardim no monte santo de Deus, feito não de plantas, mas de pedras preciosas. Ezequiel continua com sua lamentação em 28:16.
16 – Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; (…)
Agora sim parece falar do rei daquela riquíssima cidade. É importante notar que nesse capítulo se menciona que o rei de Tiro já se achava um deus, ou pior, se achava Deus (Ezequiel 28:2), assim como teria acontecido com o querubim da guarda. Continuando do versículo 16 ao 19:
(…) pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras.
17 – Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem.
18 – Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu, e te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te contemplam.
19 – Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; vens a ser objeto de espanto e jamais subsistirás.
Veja que o final do versículo 16 já se dirige novamente ao querubim da guarda e o 18 se refere a uma autoridade (possivelmente humana) que será humilhada diante dos povos, enquanto os versículos 17 e 19 podem se referir a ambos.
O que podemos inferir deste texto é que Ezequiel faz um paralelo entre a queda do querubim da guarda à queda do rei de Tiro, uma vez que ambos foram levados à derrocada por seu orgulho exacerbado, já que, ao invés de glorificarem a Deus com todas as dádivas que receberam, se encheram de um orgulho próprio tão grande a ponto de acharem que poderiam ser iguais a Deus e se assentar no seu trono. O que se vê aqui é a descrição de Satanás antes da queda, cheio de sabedoria, beleza e uma referência em perfeição, a criação máxima do Todo-Poderoso.
O profeta Isaías também parece se referir à queda deste “querubim da guarda”. Isaías 14:12-14 nos diz o seguinte:
12 – Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 – Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
14 – subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
É um trecho um pouco controverso, já que o capítulo falava sobre a queda da Babilônia e o versículo pode se referir a este evento. Mas, assim como Ezequiel, é possível que Isaías estivesse fazendo uma comparação entre um rei soberbo e o anjo que perdeu sua glória, aqui chamado de “Lucifer“.
Onde ele habitava?
Satã, por Gustave Doré (in O Paraíso Perdido, de Milton)
Para muitos teólogos e estudiosos do assunto, entre os versículos 1 e 2 do capítulo 1 de Gênesis, há um hiato de tempo não mencionado nesse livro, mas sim em Apocalipse. Lembremos que o nome desse livro significa “Revelação”, logo, não diz apenas a respeito de eventos futuros, mas nos revela eventos acontecidos na Eternidade, onde tempo e espaço não existem. O versículo de Gênesis 1:1 diz que Deus criou os céus e a terra, mas o versículo seguinte já diz que a Terra era sem forma e vazia. Se os versículos estão em ordem cronológica, podemos deduzir que uma “primeira Terra” criada por Deus, onde se encontrava o monte santo de Deus e um primeiro Éden, o de pedras preciosas, sofreu algum cataclisma que a deixou  sem forma e vazia. É até possível especular (veja bem: ESPECULAR) de que essa seria a terra habitada por dinossauros e que tal cataclisma, da queda do querubim da guarda, tenha levado á destruição de tudo que existia nesta primeira Terra.
Uma vez que o querubim da guarda caiu, teria perdido sua glória, seu “brilho”, e deixado de ser um anjo de Deus. Em Apocalipse 12 lemos uma descrição de um dragão terrível no céu, que arrasta a terça parte das estrelas e as lança na Terra. Este dragão intenta atacar uma mulher (representação de Israel) que está prestes a dar a luz a um filho (representação de Jesus), mas falha e acaba se confrontando com o arcanjo Miguel, o líder dos exércitos angelicais. Nessa batalha o dragão é derrotado e lançado na Terra. O texto descreve, a partir do versículo 7:
O dragão, a cultura ocidental, representa a ganância. Na cultura oriental, entretanto, simboliza vitalidade e boa sorte.
7 – Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos;
8 – todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles.
9 – E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos.
Assim, as estrelas arrastadas seriam os anjos que se uniram ao dragão, aqui já chamado de diabo e Satanás, em sua rebelião contra Deus e, uma vez derrotados, foram lançados na terra, o que teria desencadeado o cataclisma que teria deixado a Terra sem forma e vazia. Corrobora com isso as descobertas científicas a respeito da idade do planeta. Estudos comprovam que a Terra tem milhões de anos, além de encontrar fósseis de animais e vegetais gigantes, mas nenhum desses fósseis é de um ser humano. Toda essa criação primitiva teria passado por uma terrível catástrofe que matou toda forma de vida, enquanto a água cobriu a face do planeta, agora envolvido em trevas.
A raça humana, por outro lado, teria pouco mais de 6.000 anos, considerando inclusive a cronologia bíblica. Ela passa a existir a partir do momento que Deus recria a Terra. Assim, com uma terra agora ocupada pelo ser humano, o ex-querubim da guarda, agora o diabo, passaria a agir para tentar impedir ou atrapalhar o plano de Deus em relação ao homem, criado à imagem e semelhança de Deus.
Onde ele habita agora?
Embora seja já um conceito popular, não é certeza que o atual reino do diabo seja o inferno. Afinal, a morte eterna, a condenação  final, inclui ele e seus anjos, que passam a ser chamados de demônios, fadados ao lago de fogo e enxofre, a segunda morte. Convencionou-se chamar de inferno o Hades, “lugar dos mortos”, onde ficam as almas condenadas depois da primeira morte enquanto aguardam o julgamento e a segunda morte.
Temos um indício de que a morada do diabo e dos demônios seja a atmosfera do nosso planeta, também chamada de Primeiro Céu. Em Efésios 2:2, o apóstolo Paulo, que teve experiência de arrebatamento a diversos níveis de céu (II Coríntios 12:2), dá uma denominação curiosa a respeito de Satanás:
“…nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;”
Se ele diz isso a respeito do diabo, é bastante plausível que a morada dos demônios seja mesmo o firmamento, o Primeiro Céu, bem próximo ao nosso plano de existência. Convém também notar que no segundo dia da criação, quando é criada a atmosfera (Genesis 1:7), Deus não pronuncia a palavra “bom” ou “muito bom”, como acontece em todas as demais etapas de criação.
O diabo luta contra Deus?
As representações pictográficas do diabo não o apresentavam como um monstro hediondo, isso até a baixa idade média. No máximo, era retratado como um anjo de asas negras ou de morcego (Le génie du mal, de Guillaume Geefs)
Deus é perfeito, onipotente, onipresente, onisciente, eterno e Senhor de tudo que existe. A relação de poder de Deus comparado ao do diabo é infinita, já que o poder do diabo não se compara ao de Deus. Assim, não há lógica dizer que o diabo guerreia contra Deus, seria como esmagar uma mosca com uma pá. Paulo, em Efésios 6, nos dá uma dica a respeito de contra quem Satanás guerreia:
11 – Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo;
12 – porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e simcontra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
Sem dúvida que Satanás foi testemunha ocular da criação. Ele viu como Deus reorganizou a Terra do caos original e criou todas as coisas. Também viu como o homem foi criado, como recebeu o sopro de vida em suas narinas, como recebeu autoridade do próprio Deus sobre toda a natureza, como foi formada a mulher e entregue ao homem, a vida de ambos no maravilhoso jardim e o mais importante, a ordem de Deus sobre a Árvore do Conhecimento do bem e do mal e seu fruto proibido. Naquele momento Satanás deve ter se revolvido de ciúmes ao ver outro ser de posse de seu domínio perdido. Desde esse momento, seu objetivo passou a ser a queda do homem, que viria através do mesmo erro do anjo caído: o orgulho, o desejo de ser igual a Deus. Se valendo da serpente, Satanás tenta Eva com a mesma motivação que sempre teve, como podemos ver em Genesis 3:4-5.
4 – Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.
5 – Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.
Com a queda do homem, Satanás ficou novamente com o governo da Terra, sendo chamado de “príncipe deste mundo“. Sua luta é contra o homem, com o objetivo de fazer com que ele reflita não a glória de Deus e sua imagem, mas sim uma natureza caída, decadente e afastada de Deus, tal qual ele se tornou. Contudo, naquele momento também seria feita uma profecia sobre sua derrota final e definitiva.
E qual é o seu destino?
A primeira profecia da Bíblia é feita nos primeiros capítulos de Genesis e é proferida pelo próprio Deus, concernente a Satanás e como Deus tratará com ele, além de apontar para sua condenação, como podemos ver em 3:15.
Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
Moloque, a “abominação dos moabitas”, era uma deusa fenícia a quem se oferecia em sacrifício os bebês não desejados pelos pais. Parte da imagem popular do diabo foi extraída deste ídolo.
Desde então, Satanás sabe que sua derrota é iminente e guerreia contra o homem. Logo os primeiros filhos de Adão e Eva sentiriam o peso da rivalidade com o querubim da guarda, quando Caim tem ciúmes de Abel e o diabo se vale disso para lhe incitar o ódio, a ponto de levá-lo a matar seu próprio irmão, que, afinal, poderia ser “a semente da mulher” que lhe esmagaria a cabeça. Mas a promessa de Deus não falha e Eva tem um segundo filho, Seth, em quem põe toda a esperança do cumprimento da promessa, como vemos em Gênesis 4:25.
Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou.
Da descendência de Seth viria Jesus, o cumprimento da promessa. A primeira parte da profecia se cumpriu, pois o diabo lhe “feriu no calcanhar” quando Jesus, carregando todo pecado da humanidade, foi morto na cruz. A segunda parte remete à derrota final, quando Jesus “esmagará sua cabeça” e livrará o mundo definitivamente da sua influência e poder. Até lá, todo aquele que perverte o evangelho, que persegue os servos de Deus para os exterminar, que ignora ou rejeita a Jesus como salvador, representa a “semente da serpente”. Satanás odeia a igreja porque sabe que são pessoas remidas, compradas pelo sangue do Filho de Deus e justamente por isso são destinadas a reinar com Jesus sobre esta Terra, que segue até aí como domínio do diabo. Ele sabe que a volta de Jesus se dará quando a mensagem de salvação for pregada a todo o mundo, por isso trabalha para corromper a igreja com falsas doutrinas e exterminá-la com perseguição, mas o Senhor Jesus é quem guarda seu povo.
No caso de Satanás, seu destino é inexorável. Após diversas tentativas de seduzir o homem para o mal, ele será lançado no tormento eterno junto com sua “semente”, não para morrer, mas para ser atormentado dia e noite (Apocalipse 20:10). E o inferno de fogo e enxofre será sua habitação, de seus anjos e de seus servos, para todo o sempre.
Os seus nomes
O nome Satanás vem do hebraico (Shaitan, Satan ou Satã). O termo significa “hostil, adversário” e aparece 15 vezes no Velho Testamento, sendo 11 delas só no livro de Jó. Nas referências de I Crônicas 21:1, Jó 1:9, Jó 2:4 e Zacarias 3:1-2, ele aparece exatamente como um ferrenho opositor, um adversário, seja acusando, seja tentando o homem. Já no novo testamento, onde o termo aparece 34 vezes, Satanás incita dois discípulos, Pedro e Judas, contra o próprio Jesus.
Igreja de São Lúcifer, em Cagliari, Sardenha. Não se trata de um templo satânico, mas de uma capela católica.
O termo diabo já vem do grego, diábolos, e significa “caluniador, acusador”. Este termo não ocorre no Velho Testamento, mas aparece 34 vezes no Novo Testamento.  É com esse nome que ele é citado durante a tentação de Jesus no deserto.
Lúcifer, como citamos, vem de um termo composto do latim, “Lucem ferre”, que significa “portador da luz”. Aparece pela primeira vez na Vulgata, a tradução da Bíblia para o latim. Esse termo se refere à estrela d’alva (Lucifer)  ou à estrela matutina (Vésper), que na verdade não é uma estrela, mas o planeta Vênus, que reflete a luz do sol e se torna o astro mais visível depois da Lua, ao anoitecer ou no alvorecer. A referência desse termo ao diabo não é consenso e chega a ser usado para para descrever atributos de Jesus, onde Ele é chamado de “estrela da manhã” (II Pedro 1:19, Apocalipse 22:16). Há referências históricas que muitos irmãos da igreja primitiva tinham esse nome, inclusive um bispo cristão do século IV, tornado santo pela igreja católica. Sim, acredite, existe um São Lucífer!
Um outro termo usado para definir o diabo é Belzebu, que aparece 7 vezes no Novo Testamento, todas as ocorrências nos evangelhos sinóticos. O nome Belzebu parece ser a fusão de Ball, a divindade cananita dos trovões, fertilidade e morte, e Zebub, divindade fenícia das moscas e das pestilências, associados pelos judeus a uma única entidade demoníaca que não seria exatamente Satanás, mas sim o “terceiro em comando” nas hostes demoníacas.
Mas como um anjo pode ter uma aparência tão repulsiva?
Na verdade, essa imagem viria já na idade média e não necessariamente expressa a realidade. Inicialmente as imagens representando a queda do querubim da guarda mostravam um anjo sendo precipitado na terra ou um anjo de asas negras, também usado para representar as potestades, anjos da terça parte que perderam a glória junto ele.
A imagem monstruosa do diabo é composta de elementos de diversas culturas pagãs. Os pés de bode e os chifres vieram de Pã, personagem da mitologia grega.
Durante a Baixa Idade Média, onde a Igreja Católica se valia do medo do homem comum de seres espirituais e mitológicos, Satanás ganhou a hedionda aparência com a qual o conhecemos hoje: asas de morcego, pés de bode, olhos de fogo, chifres enormes na cabeça, olhar aterrorizante, entre outros. A igreja tentou usar o máximo possível imagens de figuras mitológicas ou divindades de religiões pagãs, que não necessariamente representavam o mal naquelas seitas, a fim de que os povos a serem cristianizados não só abandonassem o paganismo, mas o demonizassem. É o caso de Pã, por exemplo, divindade grega dos bosques e rebanhos. Dele foi tomado os pés de bode e os chifres para a imagem de Satã. No mesmo momento surge a crença de que para cada ser humano vivo na Terra, Lúcifer criou um Demônio particular, encarregado de corromper aquele indivíduo, mas em contrapartida Deus criou para cada ser humano um “Anjo da Guarda” ao qual incumbia da missão de proteger e zelar pela alma daquela pessoa. Outro fenômeno comum era a imagem do diabo mudar de acordo com o cenário político-religioso. Durante as cruzadas, o diabo aparecia de bigodes e com nariz proeminente, lembrando a aparência dos turcos, inimigos que se interpunham entre os cristãos e a conquista da cidade de Jerusalém.
Essas imagens, contudo, tem mais relação com um mito popular. Quando lemos sobre chifres na Bíblia, por exemplo, no geral está mais relacionado a poder bélico do que necessariamente a algo depreciativo. Mesmo a questão do dragão é encarada de forma diferente nas diversas culturas, pois enquanto no ocidente ele representa a cobiça e a ganância, no oriente ele representa vitalidade e sorte. Enfim, a imagem do diabo, de fato, não tem real relevância, mas sim a sua forma de agir e atingir o homem.
Conclusão
Como se pode ver, muita coisa sobre a origem do diabo é obscura e definida por inferência e não por referência direta, o que tem levado alguns pregadores e estudiosos até a dizerem que ele não existe de fato. Mas Satanás é real, ele existe e a todo tempo intenta contra nós, nos tentando a pecar contra Deus e assumir com ele sua imagem caída e sem glória.
A maior estratégia que o diabo poderia usar é fazer as pessoas acreditarem que ele não existe, mas no que diz respeito à sua ação maligna contra o homem, a Palavra de Deus é categórica: O diabo age para tentar impedir os homens de receber  a palavra da verdade (Lucas 8:12); tem uma sabedoria própria, avulsa da sabedoria de Deus (Tiago 3:15);  anda ao nosso redor, rugindo como leão e buscando a quem possa atacar (I Pedro 5:8) e não se apresenta com uma imagem repulsiva, mas como anjo de luz (I Coríntios 11:14) a fim de enganar a todos e, se possível, até os próprios escolhidos de Deus.
Mas sabendo disso, devemos permanecer em oração, firmes no Senhor, pois é Ele quem nos dá livramento das ciladas do inimigo. Como a luta de Satanás é contra nós, sigamos o que a Bíblia nos orienta em Efésios 6:
Belzebu, “o senhor das moscas”, era representado como um inseto enorme.
13 – Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.
14 – Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.
15 – Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz;
16 – embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
17 – Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;
18 – com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos.
É Jesus quem nos comprou por preço de sangue, é ele quem nos redime e salva. A nós basta resistir ao diabo, pois a vitória é garantida em Cristo.
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Bibliografia:
  • “A História de Satanás” – A. C. Gaebelein, Revista “Mês”
  • “Bíblia Shedd” – Notas explicativas sobre Ezequiel 28
  • “Comentário bíblico em áudio Rota 66” – Luiz Sayão
  • Wikipedia
Texto Bíblico utilizado: Tradução em português de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada (RA)


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