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sexta-feira, 11 de junho de 2021

[AULA 37] Transformação Digital e Inovação para o Ensino Básico

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DESCUBRA O HOMEM REAL POR TRÁS DA LENDA KARL MARX

DESCUBRA O HOMEM REAL POR TRÁS DA LENDA KARL MARX

Infidelidade, alcoolismo, miséria - e paixão: detalhes da vida íntima do revolucionário socialista.

Marx e Jenny
Wikimedia Commons

Reconhecidos pela Igreja Católica como uma das principais relíquias ligadas a Jesus Cristo, os fragmentos dos ossos de São Pedro estão guardados nos porões do Vaticano, com direito à vigilância severa da renomada Guarda Suíça. No entanto, os restos mortais do primeiro papa encontram-se quase desprotegidos se comparados ao tratamento dispensado aos documentos de Karl Marx no Arquivo Nacional da Rússia: uma câmara à prova de bombas protege suas cartas e manuscritos.
Trata-se de um exemplo do desafio diante de qualquer tentativa de compreender um pouco mais sobre a vida do intelectual alemão. Embora não tenha fundado formalmente uma religião ou existam registros de milagres e afins, Marx foi catapultado ao posto de Messias em cujo nome se lutaram guerras e se construíram impérios num espaço de tempo bem menor que o usado pelo cristianismo – e os inevitáveis deslizes do pai do comunismo não estão disponíveis facilmente. Para os guardiões da antiga União Soviética, homem e regime se confundiam.


Mito e realidade
Passados 136 anos de sua morte, Marx permanece uma figura mitológica. Se o desmoronamento dos regimes socialistas da Europa Oriental causou abalos em sua reputação, o filósofo que misturava pensamento e ação e criou o conceito de ditadura do proletariado tampouco foi esquecido: em 2005, quase 20 anos depois da queda do Muro de Berlim, foi ele quem venceu uma enquete da BBC para eleger o maior filósofo de todos os tempos. Isso mesmo, no Reino Unido, em que o Partido Trabalhista precisou varrer o viés socialista de seus estatutos e de suas políticas para retomar o poder com Tony Blair, em 1997, o criador do comunismo ainda conserva sua popularidade.
Na década passada, Marx já tinha levado safanões em sua auréola vermelha. Na primeira biografia de destaque publicada após o fim da Guerra Fria, o jornalista britânico Francis Wheen expôs um Karl Marx que estava bem longe da figura magnânima imortalizada em estátuas e estandartes em Moscou, Pequim ou Havana. Ele foi apresentado como bêbado, parasita e adúltero.
Wheen abriu as portas para um releitura de Marx que não se concentra apenas no debate ideológico. Sua missão era desvendar seu lado humano, ao contrário das milhares de leituras sobre dialética a respeito de sua produção filosófica. Em 2011, a jornalista norte-americana Mary Gabriel encontrou um ângulo ainda mais original: uma narrativa focada na vida familiar de Marx, sobretudo em seu turbulento relacionamento com a esposa, Jenny.
Tanto Wheen quanto Gabriel tiveram acesso a documentos ligados ao filósofo, incluindo sua correspondência pessoal. Ambos revelam que Marx nunca foi santo – nem de longe. Mas também não pode ser demonizado. “Esse é o grande problema quando o assunto é Marx. Por causa de seu impacto histórico, a polarização é constante. No Ocidente ele volta é meia é ridicularizado, enquanto Rússia e China ainda o apresentam como uma figura religiosa. Os dois lados erram ao passar ao largo do aspecto humano”, afirma Mary Gabriel.
Na verdade, a idealização ou demonização de Marx não nasceram com a Guerra Fria ou após a derrocada do socialismo. Ela tem origem em 1883, ano em que Marx, aos 64 anos, não resistiu aos efeitos de uma infecção pulmonar e da tristeza pela morte da mulher, dois anos antes. Mal seu corpo baixou à sepultura no Cemitério de Highgate, no norte de Londres – o enterro, segundo relatos de amigos e parentes, foi acompanhado por menos de 15 pessoas – e uma operação de endeusamento começou.


Como sugere a audiência do funeral, Marx estava longe, muito longe de ser uma celebridade quando deixou este mundo. Mas entre os presentes à cerimônia estava Wilhelm Liebknecht, um dos fundadores do Partido Social-Democrata alemão e um dos principais responsáveis pela divulgação de suas ideias – nas eleições parlamentares de 1890, por exemplo, a legenda, de inspiração marxista, obteve 20% dos votos na Alemanha.
Filho bastardo
Foi a partir de esforços de personagens como Liebknecht que a mitificação de Marx teve início, ainda que a explosão tenha vindo com a Revolução Russa de 1917, o primeiro experimento marxista em larga escala, com direito à aplicação de seus modelos de sociedade e a implementação da “ditadura do proletariado” pelos bolcheviques seguidores de Vladimir Lenin. A glorificação de Marx e a omissão de sua humanidade viraram regra, por mais que um estudo minucioso da correspondência particular da família do filósofo mostre uma oposição ferrenha a qualquer tipo de censura ou embelezamento. Mesmo depois de Eleanor, uma de suas filhas, descobrir em 1895 um terrível segredo do pai: Marx não apenas tivera um caso com Helene Demuth, a governanta da família, mas engravidou a serviçal durante uma viagem da mulher.
Frederick Demuth nasceu em 1851 e, graças à intervenção de Frederick Engels, o grande amigo e mecenas de Marx, foi posto para adoção. O menino cresceu e acabou ficando amigo de sua meia-irmã. Eleanor mais tarde saberia que, além de ter enganado a mãe, Marx não prestara ajuda ao menino e nem sequer tivera contato com ele. “Claro que Eleanor ficou chocada, mas em nenhum momento teve a intenção de censurar os fatos. Ao contrário, achou importante que o mundo conhecesse os dois lados da vida de seu pai. Até permitiu a publicação de correspondência pessoal de Marx. Mas tudo se perdeu quando ela se suicidou, em 1898”, afirma Mary Gabriel.
O filho bastardo foi o único da família que ainda estava vivo quando Lenin e seus amigos mandaram ondas de choque mundo afora com seu Outubro Vermelho. Em 1911, seis anos antes da Revolução Russa, a última descendente de Karl e Jenny, Laura, também pôs fim à própria vida. A trágica ironia: ela e o marido, o ativista francês Paul Lafargue, selaram um pacto suicida para protestar contra o que viam como diluição dos ideais de Marx. Lafargue liderou o movimento pela adoção de oito horas de trabalho, oito de sono e oito de lazer, algo que hoje é parte da vida profissional.
Mudança de nome
Em termos de tragédia, os Marx em nada devem aos Kennedy. Muito se sabe sobre as provações pelas quais o filósofo passou por força de suas convicções e subversões, mas o fato é que Marx era uma espécie de Lúcifer burguês – um anjo que desafiou o status quo celeste. Ele nasceu em 1818 na cidade de Trier, ainda nos tempos em que a região hoje conhecida como Alemanha era uma confederação de 39 estados ou reinos. Cresceu numa família de classe média alta, filho do advogado Heinrich Marx e de Henriette Pressburg, dona de casa holandesa pertencente à família Phillips – cujo sobrenome hoje é referência em aparelhos eletrônicos. Judeus, os pais de Marx se converteram ao cristianismo por causa da repressão religiosa que marcou a monarquia absolutista prussiana cuja legislação proibia não cristãos de ocupar cargos públicos. Os decretos foram ignorados nos tempos em que Trier foi anexada à França por Napoleão, mas voltaram a ser cumpridos depois da derrocada do imperador francês, em 1815.
Até de nome o pai do futuro filósofo mudou: Herschel Mordechai virou Heinrich Marx em 1818. A conversão foi fundamental no destino de Marx: de acordo com a tradição judaica, o primogênito da família assumia o cargo de rabino de Trier, tradição que acabou com o irmão mais velho de Heinrich. A ironia é que o jovem que poderia ter virado rabino ficaria famoso como o homem que definiu a religião como ópio do povo.
Um curioso voraz que se beneficiou de uma educação privilegiada com o dinheiro dos pais, Marx provocou desgostos e mais desgostos em Heinrich e Henriette ao ingressar no mundo acadêmico em 1835, aos 17 anos. O pai insistiu no estudo do direito, enquanto o filho se sentia atraído pela filosofia. Dispensado do serviço militar por problemas respiratórios, Marx aproveitou a distância de casa para se jogar numa rotina digna de filmes universitários americanos: fazia parte de uma fraternidade de beberrões, de um clube de poesia, e num dos seus estupores etílicos arrumou uma confusão com um oficial do exército prussiano – na época o equivalente às Forças Armadas dos EUA em termos de reputação – que resultou em duelo. Felizmente, o jovem Karl saiu apenas com arranhões do embate.
Nenhuma surpresa que o desempenho acadêmico do moço estivesse longe de ser brilhante. O pai interveio e transferiu o filho para a Universidade de Berlim. Um tiro no pé: a maior seriedade nos estudos empurrou Marx de vez para o lado da filosofia e ele logo estava circulando em grupos radicais, com uma postura que não poderia ser mais diferente do conformismo familiar em Trier. O fosso separando-o de Heinrich só aumentou: quando o pai morreu, em 1838, Marx nem foi ao enterro, alegando que a viagem de Berlim à cidade natal era muito longa.
A morte de Heinrich Marx também trouxe dificuldades financeiras para o filho. Os porres e arruaças aumentaram, bem como sua revolta contra o establishment prussiano, ainda mais depois de, já de posse de um doutorado em filosofia, obtido em 1841, ver a pretensão de uma carreira acadêmica derrubada por causa de suas posições liberais numa Prússia extremamente conservadora. A solução foi mudar-se para Colônia e enveredar pelo jornalismo radical. Escrevendo sobre socialismo para o Rheinische Zeitung, carregando nas críticas aos governos conservadores europeus, Marx logo atraiu a atenção dos censores a serviço do kaiser. E com apenas um ano de trabalho conseguiu que uma ordem fechasse o jornal – cortesia de um pedido pessoal do czar russo Nicolau I à coroa prussiana. “É impossível dissociar a produção intelectual de Marx de sua experiência de vida. Quando se analisam aspectos como sua origem numa família que sofreu opressão religiosa por um regime ditatorial você compreende por que Marx mais tarde mostraria tamanha animosidade em relação às classes dominantes”, afirma o acadêmico norte-americano Jonathan Sperber, também autor de uma biografia recente do filósofo.
Mau partido
Paradoxos também deram o tom no relacionamento de Marx com outra grande influência: o barão Ludwig von Westphalen, aristocrata e vizinho em Trier. Ele adotou Marx como discípulo, doutrinando o rapaz em filosofia e literatura. Foi das longas conversas sobre Shakespeare com o barão que Marx pegou emprestado um trecho de Hamlet para escrever uma carta de amor para Jenny – a filha de seu tutor. O barão não gostou de vê-la enamorada do discípulo. Não apenas porque era quatro anos mais velha e a sociedade prussiana não via com bons olhos o casamento com homens mais jovens. Mas porque para Von Westphalen Marx estava longe de ser um bom partido.
Contra a vontade do barão, Karl e Jenny se casaram em junho de 1843. Marx tinha 24 anos. Nenhum parente ou conhecido do noivo marcou presença. Apesar do boicote do barão, a mãe da Jenny presenteou o casal com joias, prataria e um baú com dinheiro. “Em uma semana de lua de mel, o dinheiro já tinha sumido, pois Karl e Jenny presentearam uma legião de amigos duros. Já a prataria e joias passaram mais tempo em casa de penhores que nos armários da família. Embora os Von Westphalen tenham convencido os noivos a assinar um acordo responsabilizando cada parte por suas dívidas, Jenny nunca cobrou nada de Marx”, diz Francis Wheen.
Em outubro, Karl e Jenny deram o pontapé inicial no que planejavam como uma vida de aventuras: mudaram-se para Paris, na época o centro da efervescência subversiva que em 1848 explodiria numa série de revoltas na Europa. Apesar do nascimento da filha Caroline, em 1844, Marx intensificou o ritmo de sua militância intelectual, e foi naquele ano que conheceu Engels no Café de La Régence, iniciando uma relação de amizade e dependência. As consequências do rompimento com as origens burguesas já doíam no bolso, e o futuro parceiro de conspirações virou fonte crucial de sustento – as “mesadas” de Engels muitas vezes usavam expedientes criativos para evitar roubos, com o envio de partes de cédulas em diferentes cartas.A aventura parisiense durou apenas até 1845, quando um pedido da coroa prussiana levou as autoridades francesas a expulsarem os Marx do país. Teve início, então, a rotina de fugas do filósofo e família. Passariam dois anos em Bruxelas, de onde saíram corridos em 1848, depois de Marx desafiar um termo crucial de seu asilo – não se meter em política. Em fevereiro ele lançou o Manifesto Comunista e foi acusado de usar o dinheiro que recebeu de herança pela morte da mãe para financiar uma revolta do proletariado em Bruxelas. Foi expulso e forçado a voltar para a França, não sem antes ver a mulher presa pela polícia. Os Marx só se fixaram num lugar em 1849, quando mudaram-se para Londres.
Já com quatro filhos, Marx e Jenny sentiam os efeitos colaterais da militância. Viviam de favores e sempre na linha da pobreza. E a destituição teve um preço trágico: quatro dos sete filhos do casal morreram ainda crianças, de doenças ligadas às condições precárias da família. As humilhações tornaram-se constantes: quando não eram despejados, os Marx precisavam de “jeitinhos” para evitar cobradores e senhorios. “Houve invernos em que até roupas foram penhoradas para poder arrumar trocados para comida”, diz Wheen.
Hiperatividade
Jenny esteve ao lado de Karl até o fim, tendo sido importante não somente como esposa, mas como “tradutora” – Marx tinha uma caligrafia pavorosa, que a mulher se encarregava de transcrever para possibilitar a publicação de seus textos. Ela foi uma companheira que aceitou o papel de coadjuvante numa vida que nada teria de ordinário, mas que seria quase inteiramente marcada por amarguras. Os Marx viveram num estado constante de pobreza agravado pelo fato de a produção intelectual de Marx causar problemas com as autoridades. Salvava-se com trabalhos eventuais, incluindo o jornalismo, mas a fonte crucial de renda eram os bolsos profundos de Engels. De saúde frágil, complicada por causa do tabagismo e do álcool e também pela indisciplina na carga de trabalho, muitas vezes varando noites, Marx era um primor de desorganização e hiperatividade: o primeiro volume de O Capital, o trabalho mais importante de Marx, foi entregue com 16 anos de atraso.
Quando os royalties de venda foram liberados, Marx já estava debaixo da terra em Highgate. Seu fantasma, porém, iria pairar sobre o século 20 – e além. O abalo global de 2008 de certa forma o ressuscitou. Na Europa, as vendas de O Capital aumentaram em até 300%. “Marx foi um homem do século 19 e é preciso lembrar que viveu uma era muito diferente da atual. Mas nos idos de 1860 já discutia conceitos como a alavancagem excessiva de bancos, que tanto contribuiu para a crise global. Como personagem, ele ainda será lembrado por muito tempo, mas é preciso enxergar o homem para entender o mito”, afirma Sperber.
Foi apenas no fim da vida que Marx tirou o pé do acelerador, por causa da saúde debilitada. A morte de Jenny, em 1881, teve efeito devastador e a família o proibiu de ir ao enterro. Em 14 de março, Engels, cumprindo sua eterna missão de zelar pelo amigo, visitou o filósofo. Encontrou-o morto, à beira da lareira. Marx tinha 64 anos.



Fonte de referência, estudo e pesquisa: 




BATALHA DE ADWA: A DERROTA DO COLONIALISMO

BATALHA DE ADWA:  A DERROTA DO COLONIALISMO

Em 1º de março de 1896, os etíopes venceram invasores europeus. Eles seriam o único país africano a não ser colonizado.

A Batalha de Adwa foi a mais importante da história da África subsaariana
Getty Images

As tropas italianas avançavam para suas posições na madrugada de 1º de março de 1896, na confiança de atuarem contra pouco mais que um bando de selvagens. Acreditavam que estavam em missão de levar a civilização aos africanos. Do outro lado, o avanço foi recebido como uma grata surpresa.
Às 5h30 da manhã, um mensageiro chegou esbaforido à tenda do imperador Menelik II, contando que os europeus se preparavam para atacar. O rei tomou alguns minutos para rezar, agradecendo a Deus e, quem sabe, a São Jorge, o padroeiro da Etiópia, pela estupidez de seus inimigos. Começava ali a Batalha de Adwa, a mais importante da história da África subsaariana - e que não levaria muito tempo: acabou antes do almoço. "A Batalha de Adwa ocupa um lugar único na historiografia africana e etíope", escreveu o pesquisador etíope Tsegaye Tegenu, da Universidade de Uppsala, na Suécia, na comemoração dos 100 anos do enfrentamento.
A Etiópia é um país que data de tempos bíblicos. O reino de D'mt (980-400 a.C.) tinha territórios na Etiópia, Eritreia e Iêmen, na Península Arábica. De lá teria saído a rainha de Sabá, mencionada na Bíblia, que visitou o rei Salomão em Jerusalém. Apesar de a história bíblica mencionar um contato nos limites da diplomacia, a versão etíope é diferente: a rainha de Sabá voltou grávida - e daí nasceu a linhagem nobre da nação.
O reino de D'mt foi sucedido pelo Império de Axum, que durou até 940, após o que houve uma sucessão de dinastias. Reinos e territórios foram e vieram, mas três coisas se mantiveram: os imperadores (ou negusa nagast, o "rei dos reis") eram descendentes de Salomão. Falava-se o amárico (língua semita com alfabeto próprio) e o reino era cristão, na tradição da Igreja Ortodoxa Etíope - eles se converteram no século 3, antes de o cristianismo se tornar oficial em Roma.
A Itália era uma nação novata no século 19. Dividida ou conquistada desde a queda do Império Romano, em 476, só foi unificada pelo rei Victor Emanuel II, em 1870. Era um país agrário e pobre. Pelo menos 25 milhões de italianos haviam migrado para outros países, inclusive o Brasil. Para não ficar para trás, a Itália se envolveu na última moda entre as potências europeias: a criação de colônias na África. Eram os tempos da "corrida pela África", na qual os países da Europa Ocidental dominaram absolutamente todo o continente, entre 1880 e 1900. E tinham pressa. Segundo o sociólogo e historiador Donald Levine, da Universidade de Chicago, "a Itália estava desesperada por territórios".
Em meio à corrida, só mantiveram sua independência Etiópia e Libéria, esta uma invenção do próprio colonialismo, datada de 1847, quando antigos escravos americanos começaram a ser incentivados a voltar para a África, sem qualquer ligação natural com a cultura e território. Isso não quer dizer que a Etiópia havia escapado intacta da sanha colonialista. O país perdeu seu acesso ao mar em 1559 para o Império Otomano, numa guerra em que tiveram os portugueses como aliados.
Em 1884, o Reino Unido arrastou o imperador etíope Yohannes IV para um conflito contra os fanáticos mahdistas do Sudão. (Os sudaneses acreditavam que seu líder, Muhammad Ahmad, era o messias islâmico - o mahdi.) Em troca, os ingleses reconheceriam a soberania etíope sobre o litoral. Os ingleses não cumpriram a promessa - em vez disso estimularam os italianos a colonizar a costa, para fazer frente a seus adversários franceses, que dominavam a Somália.
Os etíopes tentaram resistir. Em 1887, 7 mil deles massacraram uma força de 500 soldados italianos em Dogali. Mas, com uma guerra feroz contra os mahdistas, não puderam impor sua presença no litoral. Em 10 de março de 1889, Yohannes morreria na Batalha de Matama. Seus inimigos mahdistas desfilaram com sua cabeça numa lança pelas ruas da capital, Omdurman.
Antes de ser capturado, Yohannes transformou seu sobrinho, Mengesha, em sucessor, afirmando que ele, na verdade, era seu filho. A maioria dos nobres não engoliu a história, entre eles Menelik II, rei de Shewa, vassalo de Yohannes e seu sucessor natural. Em 25 de março, ele se proclamou o verdadeiro negusa nagast e passou o ano em conflito ou negociações com outros nobres etíopes, até ser reconhecido soberano em 3 de novembro.
Entre essas negociações, Menelik incluiu o apoio da Itália: em troca de reconhecimento e armas, em 2 de maio ele assinaria o Tratado de Wuchale, que cedia toda a costa aos italianos, que batizaram sua colônia de Eritreia. O tratado, de fato, oferecia um pouco mais: na versão em amárico, seu artigo 17 dizia que o imperador podia fazer uso dos serviços diplomáticos italianos. A versão europeia afirmava que ele só poderia fazer diplomacia por meio da Itália, efetivamente transformando-o em vassalo do rei da Itália. Menelik logo soube da diferença, mas preferiu fingir-se de bobo enquanto consolidava seu poder, importando mais armas dos europeus, inclusive dos supostos aliados.
Em 1893, declarou que o tratado não valia. Os italianos responderam movendo tropas para a fronteira e invadindo a Etiópia. Em 13 de janeiro de 1895, puseram para correr uma tropa de Mengesha Yohannes, o "filho" do imperador anterior, ainda que estivessem em menor número. Foi a única vitória europeia.
Ao longo do ano, os italianos recuaram para posições defensivas. Em dezembro, estavam perto de Adwa. Por semanas, esperaram que os etíopes atacassem, mas Menelik era experiente e aguardou - tanto que estava prestes a levantar acampamento, porque os suprimentos estavam acabando e o moral da tropa, baixo. O general italiano, Oreste Baratieri, veterano das guerras de unificação da Itália, também manteve posição. Mas o governo italiano achou a situação vergonhosa. No final de fevereiro, Baratieri recebeu ordem para atacar.
Assim, na noite de 1º de março de 1896, 18 mil italianos abandonaram as fortificações e se moveram pelas colinas de Adwa, mas seus mapas eram precários e as forças acabaram isoladas. "A força italiana perdeu não por erro tático, escreveu Tsegaye Tegeunu. "A principal razão é que, de diversas formas, eles não conheciam o inimigo que estavam confrontando". Esperavam encontrar 30 mil etíopes e havia mais de 100 mil, 80% com armas modernas. Foi um massacre. Horas depois, 7 mil deles estariam mortos, 1,5 mil feridos e 3 mil capturados.
Representação da Batalha de Adwa

A guerra acabou aí. Os generais de Menelik insistiram para que rumassem para a Eritreia, mas o negusa nagast sabia que os italianos teriam recursos para reagir se provocados - e ele provavelmente tinha razão. As notícias da derrota causaram comoção na Itália, com protestos, baderna e a renúncia do primeiro-ministro Francesco Crispi. Baratieri enfrentou a corte marcial, mas foi inocentado. Em 23 de outubro, o Tratado de Addis-Abeba deu fim à guerra e reconheceu a soberania etíope.
Para os negros, a Etiópia assumiu dimensões míticas. Era um exército africano, de diversas etnias, vencendo os colonialistas brancos. "A Etiópia começou a ser vista como a terra da pureza, onde o cristianismo não foi corrompido pela escravidão", diz Patrícia Teixeira Santos, do departamento de História da Unifesp e do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto. "Nos anos 60 e 70, a Etiópia se tornou símbolo do pan-africanismo." 
Do lado italiano, sobrou um ressentimento de sérias consequências. "Foi um profundo vexame, uma humilhação que eles nunca esqueceriam", diz Levine. "Mussolini surgiu com o discurso de restaurar o orgulho italiano." Em 1936, Il Duce comandou uma nova invasão da Etiópia, na qual foram usadas armas químicas. Os italianos conquistaram o país até 1941, quando os britânicos retomaram-na para os etíopes.
Segundo Levine, "é quase consenso" que Hitler tomou a fraca reação internacional à invasão da Etiópia como sinal verde para invadir a Polônia, em 1939. "Adwa é tão importante para os movimentos de libertação dos negros quanto para a ascensão do fascismo e do nazismo" diz Levine.



Fonte de referência, estudo e pesquisa:




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