sexta-feira, 3 de novembro de 2017
quinta-feira, 2 de novembro de 2017
Dia dos Finados
Dia dos Fiéis Defuntos
Dia dos Fiéis
Defuntos, Dia de Finados ou Dia dos Mortos é
celebrado pela Igreja Católica no
dia 2 de novembro.
Desde o século II, alguns cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos
dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos
os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. Também o
abade Odilo de Cluny, em 998,
pedia aos monges que orassem pelos mortos. Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII(1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No século XIII esse dia anual passa a ser comemorado em 2 de
novembro, porque 1 de novembro é
a Festa de Todos os Santos. A doutrina católica evoca
algumas passagens bíblicas para fundamentar sua posição (cf. Tobias 12,12; Jó 1,18-20; Mt 12,32
e II Macabeus 12,43-46), e se apóia em uma prática de quase
dois mil anos.[1]
Dia de Finados em Guanajuato, México
Segundo Léon Denis,[2] o estabelecimento de uma data específica para a
comemoração dos mortos é uma iniciativa dos druidas, pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento,
ensino, jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta, que acreditavam na continuação da existência depois da morte. Reuniam-se nos
lares, e não nos cemitérios, no primeiro
dia de novembro, para homenagear e evocar os mortos.
Tradição
por religião
Cristianismo protestante
Após
a Reforma Protestante,
a celebração do Dia de Finados foi fundida ao da Festa de Todos os Santos
na Igreja Anglicana,
ainda que tenha sido posteriormente desmembrada em certas igrejas coesas
ao Movimento de Oxford no
século XIX. A observância da comemoração foi restaurada, todavia, em 1980, por
meio da publicação do livro litúrgico The Alternative Service Book, o qual define a
data como "festividade menor" intitulada "Comemoração dos Fiéis
Defuntos".[3]
Entre
os protestantes históricos da Europa, a tradição foi mais tenazmente mantida.
Mesmo a forte influência de Martinho Lutero não foi suficiente para
abolir sua celebração na Saxônia durante sua vida e, apesar da
sanção oficializada pela Igreja Luterana, sua memória sobrevive fortemente no
costume popular.
Em
1816, a Prússia introduziu
uma nova data para a lembrança dos mortos, com feriado, entre os cidadãos
luteranos: era o Totensonntag, ou seja, Domingo dos Mortos,
celebrado no último domingo antes do Advento. Este costume foi mais tarde adotado
também pelos protestantes alemães, ainda que não se tenha espalhado muito além
das regiões de maioria luterana na Alemanha.
Para
a Igreja Metodista,
são santos todos os fiéis batizados, de modo
que, no Dia de Todos os Santos, a congregação local honra e recorda seus
membros falecidos.[4][5]
Espiritismo
cristão
Para
os espíritas, visitar o túmulo é
a exteriorização da lembrança que se tem do espírito querido, é uma forma de
manifestar a saudade, o respeito e o carinho, pois segundo consta em O Livro
Dos Espíritos, questão 320, a lembrança dedicada aos desencarnados os
sensibiliza, conforme sua situação. Entretanto, nada há de solene comparando-se
aos demais dias. Desde que realizada com boa intenção, sem ser apenas um
compromisso social ou protocolar, desde que não se prenda a manifestações de
desespero, de cobranças, de acusações, como ocorre em muitas situações, a
visitação ao túmulo não é condenável, como nada o é no Espiritismo, apenas é
conduzida à compreensão de forma lógica e racional. O espírito, ou alma, agora
desencarnada, não se encontra no cemitério, e pode ser lembrada e homenageada
através da prece em qualquer lugar. A prece proferida pelo coração, pelo
sentimento, santifica a lembrança, e é sempre recebida com prazer e alegria
pelo espírito desencarnado.
Em
um contexto histórico, o codificador, Allan Kardec, indaga na questão 329:
O instintivo respeito que, em todos os tempos e entre todos
os povos, o homem consagrou e consagra aos mortos é efeito da intuição que
tem da vida futura?
|
E
os espíritos respondem:
É a consequência natural dessa intuição. Se assim não
fosse, nenhuma razão de ser teria esse respeito.
|
Tradição por país
México
Ver artigo
principal: Dia dos Mortos
No México é comemorada a festa do dia dosmortos, uma festa bem característica da cultura mexicana e que atrai
muitos turistas de todo mundo.
Ver também
O Wikcionário possui
o verbete Dia de Finados.
Referências
1.
Ir paracima↑ Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior. O purgatório é uma invenção medieval? Programa
"A Resposta Católica" n.º 223, vídeo de 9 min e 6 seg. Visitado em 31
de Outubro de 2014.
2.
Ir paracima↑ León Denis. O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. Traduzido
do original por: JOANA. União Espiritualista Francesa e Francófona. Nova edição
conforme a edição de 1927. Visitado em 31 de Outubro de 2014.
3.
Ir paracima↑ A Igreja da Inglaterra (2003). «Nossa Fé». Igreja Anglicana. Consultado em 2 de novembro de 2013
4.
Ir paracima↑ Laura Huff Hileman (2003). «O que é o Dia de Todos os Santos?». Igreja Metodista. Consultado em 2 de novembro de 2013.
Os santos nada mais são de que pessoas que estão tentando ouvir a palavra de Deus e viver o chamado de Deus. Esta é a "comunhão dos santos" de que falamos no Credo Apostólico - que a comunidade de crentes que ultrapassa o tempo e lugar, mesmo para além da morte. Lembrando os santos que ajudaram a ampliar e animar o Reino de Deus: eis a celebração de Todos os Santos.
5.
Ir paracima↑ Rev. J. Richard Peck (2011). «Os metoditas crêem nos santos?». Igreja Metodista. Consultado em 2 de novembro de 2013.
Nós também reconhecemos e celebramos o Dia de Todos os Santos (1° de novembro) e "inclusive daqueles que descansam de suas obras." Os metodistas consideram "santos" todos os cristãos, porque "santas" porque vivenciaram a vida cristã. Neste sentido, todo cristão pode ser chamado de santo.
Bibliografia
· DENIS, Léon. O Gênio Céltico e o Mundo Invisível.
União Espiritualista Francesa e Francófona, 1927.
·
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Parte Segunda,
Capítulo VI, item Comemoração dos mortos. Funerais, questões 320 à 329
Ligações externas
Fonte de referencia, estudos e
pesquisa: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_dos_Fi%C3%A9is_Defuntos
terça-feira, 31 de outubro de 2017
A Mulher mais Importante na História da Reforma Protestante
Conheça a mulher mais importante
da história da Reforma Protestante: “Sem ela teria outro rumo”
A Reforma Protestante já
tinha começado quando Catarina de Bora entrou na vida de Martinho Lutero, o
ex-monge que escreveu 95 teses sobre o Evangelho e o Corpo de Cristo. Foragida
de um convento onde foi criada após ser abandonada pelo pai, a ex-freira se tornou
esposa do pastor que fundou o protestantismo e exerceu um papel indispensável
na história.
Os relatos
sobre Catarina, 16 anos mais nova que Lutero, são de uma mulher convicta,
austera e companheira, alguém que, além de seis filhos, deu suporte ao marido,
além de cuidar de sua frágil saúde e frear seus impulsos consumistas.
Sobre o tema, a bispa
Lúcia Rodovalho, esposa de Robson Rodovalho e presidente da Igreja Sara Nossa
Terra, produziu um artigo sobre a personagem feminina mais relevante para a
Reforma Protestante. Citando o pensamento da professora e historiadora cristã
Ruth A. Thucker, a bispa Lúcia salienta que, sem Catarina, “talvez a Reforma
teria tomado um caminho diferente”.
Confira abaixo o artigo da bispa Lúcia
Rodovalho sobre a vida, influência e relevância de Catarina de Bora na jornada
do marido e, por consequência, no movimento reformador:
Nesses 500 anos da Reforma
Protestante, além de toda a transformação que a sociedade e o universo cristão
sofreu, não há como não falar de Martinho Lutero, o fundador do Protestantismo
e, por seguinte, falar de alguém de quem pouco se escuta, mas que fez grande
diferença. Segundo alguns historiadores, o casamento de Lutero, com exceção das
95 teses que marcaram a separação de Roma e o início do protestantismo em 1517,
foi o evento que mais marcou e definiu os rumos da história. Embora Catarina
não tenha sido uma típica mulher de pastor, ela foi a segunda pessoa mais
importante da história da Reforma. Lutero encontrou em Catarina a capacidade
para mantê-lo saudável, mental e fisicamente, além de financeiramente. Sem ela
talvez a Reforma teria tomado um caminho diferente, afirma a professora e
historiadora cristã, Ruth A. Thucker.
Essa mulher notável, nasceu em 29 de janeiro de 1499, no interior
da Alemanha, filha de Hans von Bora e Anna von Haugwitz. Aos cinco anos de
idade sua mãe morreu e ela foi deixada pelo pai em um convento beneditino que
também servia de internato para meninas, uma prática muito comum no século XVI.
Catarina viveu enclausurada neste convento e não há registro do tempo em que
viveu ali. Infelizmente Catarina não tinha o hábito comum naquela época,
principalmente para uma noviça, de escrever um diário.
Em 1523, acompanhada de outras
onze freiras que influenciadas pelos ventos de mudanças que assolavam a
Alemanha, fugiram do convento para se unir aos protestantes, que incentivavam a
deserção de monges e freiras. E o líder do movimento repetia o tempo todo
inclusive para as famílias dos enclausurados que os mosteiros e conventos eram
piores do que prostíbulos. Este grupo de freiras fugitivas chegaram a
Winttenberg no Domingo de Páscoa de 1525. O que se sabe da vida de Catarina
após a sua chegada é que viveu de favor na casa de Lucas Cranach, um pintor
famoso na região da Saxônia e que se enamorou de Jerónimo Baumgärtner, um
estudante de Nuremberg, cujos pais se opuseram ao casamento do filho com uma
ex-freira. E Jerónimo escolheu obedecer seus pais, deixando assim Catarina
abandonada e sem respostas de suas cartas. E foi então que Catarina com o
coração partido procurou o seu pastor, Lutero, para abrir sua alma atormentada
e ferida pelo amor.
Lutero chegou a entrar em
contato com o noivo fujão, mas sem sucesso. E foi então que ele tomou para si a
responsabilidade de arrumar um marido para Catarina. Chegando a sugerir que ela
se casasse com o pastor GasperGlatz. Catarina negou a se casar com o velho
pastor e acrescentou que estaria disposta,a se casar com o próprio Lutero. E no
dia 13 de junho de 1525, Catarina se casou com Martinho Lutero, que até então
sugeria aos ex-monges que procurassem uma esposa, mas ele pessoalmente não
pensava em fazê-lo. Lutero e Catarina não estavam apaixonados, mas ele afirmou
em cartas que a estimava em alta conta. Alguns diziam que ele decidira casar
para agradar o pai que sempre pedia netos, irritar o papa e confirmar seu
ensino de que pastores protestantes deviam se casar e constituir família.
Lutero encontrou em sua esposa 16 anos mais nova do que ele, o apoio e
companheirismo necessários para enfrentar a oposição severa e constante que
sofria. Pois além de cuidar de suas necessidades, físicas e emocionais,
Catarina proporcionaria muita estabilidade para seu lar. Seu bom humor e
hospitalidade faziam maravilhas a ele, assim como aos filhos que Deus lhes
presenteara.
As doença físicas de Lutero, e
também sua depressão, eram sérias. No final do Outono de 1528, ele se
encontrava seriamente debilitado por uma doença que lhe acarretava tonteira e
zumbido no ouvido interno. Ele sofria também com úlceras, indigestão,
constipação e outras enfermidades. Nos últimos dez anos de sua vida, Lutero
teve pedras nos rins, gota, artrites, hemorroidal, problemas no coração. Como
se não fosse suficiente ele vivia atormentado com catarros e uma inflamação no
nariz e garganta. E Catarina tendo conhecimentos dos efeitos medicinais das
plantas, procurava tratá-lo com todo tipo de infusões e chás que sabia para
poder ajudar. Catarina cuidava também dos filhos, da limpeza da casa (um antigo
mosteiro com 19 quartos), da comida, da horta, dos animais e ainda das finanças
da casa. Pois seu marido mostrava um descontrole total nos assuntos
relacionados ao dinheiro. Além da família a casa era uma hospedaria para
estudantes e também um lugar de abrigo para viajantes e necessitados.
Catarina sofreu muita oposição,
às vezes velada e, muitas vezes, diretas de alguns amigos e de críticos de seu
marido. Os críticos a consideravam uma mulher orgulhosa, de nariz impugnado,
mandona e controladora. Talvez por isso ao contrário de seu marido, Catarina
tinha poucos amigos. Acredito que o fato de estar sempre muito ocupada com
tantos afazeres não tinha tempo para pensar em seus opositores. Catarina
portanto era a descrição da típica mulher pobre com um pequeno campo para
trabalhar e tentar ganhar algum extra para família. Sua vida era típica da
maioria das mulheres no início da Alemanha moderna. Se o marido fosse velho ou
enfermo, a responsabilidade de ganhar o pão de cada dia era delegada à esposa.
Esta situação seria verdadeira
para Catarina se Lutero morresse, embora antes dele morrer, ela desfrutava de
uma vida confortável e estável financeiramente, graças ao seu dom de
administração e sua força de trabalho.O tempo de Catarina no mosteiro fora uma
preparação para a vida que lhe aguardava. Desde os cinco anos de idade
acostumara acordar ainda de madrugada e trabalhar o dia todo muitas vezes até
após o sol se por. Martinho Lutero era conhecido por suas palavras, Catarina
pelo seu trabalho. A rotina de trabalho da primeira dama da reforma é difícil
de se imaginar sem os equipamentos modernos que as mulheres têm acesso em
nossos dias. Apesar das más línguas, Lutero teria argumentado ao longo de seu
casamento que sua esposa não dominava o “galinheiro”. Ao defender a
superioridade masculina em todas as áreas, Lutero deixou claro sua posição de
que com o marido permanece o comando, por ordem divina e a esposa cumpre
obedecê-lo.
Só que as ações de Lutero sempre falaram mais alto do que as suas
palavras, e na correspondência privada com a esposa, fica claro que o casamento
dos dois era baseado na mutualidade. Tratava-se de um casamento de igualdade
enorme para a Alemanha do século XVI.
Nas cartas endereçadas a
Catarina quando ele estava longe de casa, ele demonstrava sempre respeito e
admiração para com ela, e ao mesmo tempo sempre a repreendia por não escrever
para ele. Tanto Martinho e Catarina devem receber crédito por desenvolver esse
relacionamento tão especial. Ela porque era verdadeira e confiante, segura e
equilibrada e tinha provado ser uma mulher completamente igual a Lutero. E ele,
por ser seguro o suficiente para aceitá-la como tal. A família era o centro da
reforma de Lutero. Outros reformadores vieram, mas nenhum havia levantado a
questão da família como ponto focal da criação e das escrituras, um exemplo
deixado para as futuras gerações.
Ruth A. Thucker destaca quatro
acontecimentos principais na vida de Catarina. O primeiro, sua entrada para o
convento, ainda criança. O segundo, sua fuga daquele lugar. O terceiro seu
casamento com Lutero e o último a morte dele. Quando Lutero morreu, a família
era relativamente rica, graças ao trabalho árduo de Catarina. Em função disto
Lutero morreu em paz, jamais imaginando que um curto espaço de tempo sua esposa
transformaria em uma mendiga. Pois após a morte dele um benfeitor foi indicado
para cuidar da família, e ela que sempre gerira tão bem as posses e o dinheiro
da família, perderia essa liberdade, o que acabou junto com outros intempéries
destruindo tudo que construíra junto com seu marido. Portanto os seis anos de
vida após a morte do marido, foi cercada de dor e abandono.
Além das provações da viuvez e
sua iniciativa cerceada pelo benfeitor, ela sofreu uma ingratidão por parte de
muitas pessoas de quem ela esperava apoio devido aos méritos públicos do seu
marido no serviço da igreja. E aos 53 anos de idade, no ano de 1552, morre
Catarina Von Bora a primeira dama da reforma protestante. A nota de falecimento
a reconhecia como sendo a esposa do venerável doutor Martinho Lutero, mas
também se referiram a sua falta de veneração. Seria o *gênero um fator
fundamental dessa discriminação e invisibilidade? Ninguém sabe! Mas o que fica
dessa grande mulher é sua decisão de estar ao lado de seu marido, como
apoiadora de seus sonhos e suas lutas! Que nesses 500 anos de Reforma possamos
lembrar também de Catarina, a Primeira Dama de um novo tempo, é uma nova fé,
que frutificou e seus frutos são incontáveis.
*Nota
do editor: “Gênero” é usado pela autora para se referir ao sexo feminino de
Catarina de Bora. Gênero, em geral, é comumente usado para fazer referência à
espécie humana.
Fonte de
referência,estudo e pesquisa: https://noticias.gospelmais.com.br/conheca-mulher-mais-importante-reforma-protestante-93565.html?utm_source=notification
domingo, 29 de outubro de 2017
Credo Ut Intelligam...
Credo Ut Intelligam: a teologia cristã e seus parâmetros
Quem considera a história da teologia não pode deixar de impressionar-se. Além de extremamente longa, essa história é complexa e multifacetada, espelhando uma imensa diversidade de épocas, tradições, culturas, interesses e individualidades. Por mais que se deteste essa preocupação, a teologia é uma atividade não só inevitável como também imprescindível para os cristãos. Inevitável porque é próprio do ser humano refletir, questionar, interpretar, firmar posicionamentos. Imprescindível porque resulta da própria natureza da revelação. A fé cristã é algo cujo significado e implicações precisa ser considerado e reapropriado em cada nova geração.
Outra constatação importante é que todo cristão é um teólogo, mesmo sem o saber. A diferença é que alguns refletem sobre a fé de modo simplista, casual e aleatório, ao passo que outros, graças aos seus dotes intelectuais, preparo acadêmico e perspicácia, podem fazê-lo de modo mais rico, profundo e criativo. Como toda e qualquer atividade humana, a teologia padece de certas vicissitudes. Existe boa e má teologia. Por exemplo, houve épocas da história do cristianismo em que se buscou uma justificação teológica para a perseguição de dissidentes, a discriminação racial ou ações opressivas por parte do Estado.
Nos tempos pós-modernos atuais, a teologia tem atingido um alto grau de sofisticação intelectual e filosófica. Ao mesmo tempo, tem se tornado uma atividade fortemente individualista em que os teólogos parecem competir para ver quem será o mais radical, inovador e iconoclasta. Isso tem levado ao esfacelamento da teologia contemporânea, a ponto de, muitas vezes, tornar-se irreconhecível como teologia especificamente cristã. Para que seja considerada cristã, a teologia precisa manter-se dentro de certos parâmetros, ter em mente certos referenciais. Não se trata de impor uma camisa de força à tarefa teológica, mas de reconhecer que existem compromissos a manter.
1. O Deus trino
A centralidade de Deus na teologia parece óbvia, mas isso nem sempre ocorre. Ainda que etimologicamente a palavra “teologia” signifique um estudo ou discurso sobre Deus, existem muitas teologias nas quais o principal ponto de referência não é Deus, e sim outros interesses. Alguns autores têm se referido aos fundamentalistas como os “defensores de Deus”. Na realidade, Deus não necessita de defensores, mas qualquer teologia que pretenda ser cristã precisa ter um conceito elevado e correto de Deus, precisa compreender que o seu compromisso primordial é com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Caso contrário, como falar em teologia?
Nos últimos séculos tem surgido teologias que questionam a personalidade de Deus, sua transcendência ou imanência, sua onipotência, sua cognoscibilidade e até mesmo sua relevância ou necessidade (“teologia da morte de Deus”). Não se trata de reduzir toda a teologia a uma reflexão sobre Deus e nada mais, mas de reconhecer que toda reflexão teológica genuína deve começar com Deus como o fundamento último de toda a realidade e da fé cristã. Isso se faz necessário diante de correntes teológicas atuais, tanto à esquerda quanto à direita, cuja abordagem é inteiramente antropocêntrica, começando com as necessidades e desejos humanos para então elaborar um entendimento de Deus como aquele cuja função principal é satisfazer tais aspirações.
2. A revelação bíblica
O reformador João Calvino opinou que a teologia, para ser legítima, deve ater-se aos limites da revelação. Isso significa que ela não deve dizer mais – e nem menos – do que Deus revelou em sua Palavra. Ela é uma reflexão reverente sobre a revelação e não deve perder-se em especulações. Obviamente esse conceito se torna risível na perspectiva de muitas teologias dos últimos séculos, para as quais a revelação bíblica é apenas uma, e não necessariamente a mais importante, das fontes da teologia. A razão desse desprezo é que o próprio conceito de revelação especial tem sido questionado. Com isso a teologia se torna um esforço filosófico e especulativo que tem pouco contato com as genuínas raízes da fé e da espiritualidade cristã.
Um bom exemplo dessa ênfase foi a teologia deísta do século 18. Por causa do seu interesse exclusivo na religião natural ou racional, os deístas negavam grande parte do arcabouço doutrinário da fé cristã histórica. O cristianismo foi reduzido a um sistema de moralidade no qual não havia lugar para o culto, o testemunho e a vida comunitária. Valorizar a revelação não significa cair no biblicismo daqueles que diziam “a Bíblia, toda a Bíblia e nada senão a Bíblia é a religião dos protestantes”. Significa reconhecer que Deus fala aos seres humanos nas Escrituras como em nenhum outro lugar. Mesmo que se afirme que a revelação suprema de Deus é Jesus Cristo, a importância da Escritura permanece, porque somente por meio dela, e do testemunho do Espírito Santo a ela associado, Cristo pode ser conhecido.
3. A comunidade de féUma das funções da teologia é servir a igreja, não no sentido de ser instrumento dessa ou daquela ideologia, mas com o propósito de animá-la em sua caminhada, despertá-la para dimensões esquecidas da revelação, adverti-la para que seja mais fiel ao evangelho de Cristo. Assim sendo, a teologia deve ser produzida no contexto da koinonia, da vivência comunitária cristã. O verdadeiro teólogo não é aquele se coloca do lado de fora e procura impor os seus conceitos pessoais e subjetivos, mas alguém que faz parte do povo de Deus, caminhando com ele, partilhando de suas lutas e esperanças.
Outro aspecto dessa dimensão coletiva reside no fato de que fazer teologia é também interagir com a igreja do passado, com o rico legado de séculos de reflexão bíblica e teológica. É lamentável quando os teólogos dialogam prioritariamente com pensadores e correntes intelectuais não-cristãos, e até mesmo anticristãos, buscando neles referenciais teóricos e inspiração para as suas reflexões, mas demonstrando limitado interesse pela revelação cristã e pela comunidade de fé. Embora os interesses da teologia não tenham de circunscrever-se exclusivamente ao âmbito da igreja, esse elemento nunca pode ser omitido.
4. O mundo ao redor
Finalmente, assim como acontece com Jesus Cristo e com o evangelho, a teologia deve ser encarnada e contextual, ou seja, comprometida com Deus, com a revelação e com o corpo de Cristo, mas também relevante para a comunidade humana mais ampla. Embora a condição humana seja essencialmente a mesma em todas as épocas, cada geração se defronta com desafios inéditos para a fé cristã. O que a teologia tem a dizer ao indivíduo moderno com suas angústias, perplexidades e dúvidas? O que dizer diante das afirmações cada vez mais ousadas da ciência? Diante das realidades do terrorismo, guerra e criminalidade, das desigualdades e opressões, da crise ecológica e de tantas outras questões da atualidade?
Todavia, a teologia tem de fazer escolhas. Sua relação com o mundo, a sociedade e a cultura precisa ter, ao mesmo tempo, um elemento de simpatia e de distanciamento crítico. Muitos teólogos, na ânsia de tornar a fé cristã palatável ao “homem moderno”, têm feito tamanhas concessões a ponto de descaracterizar por completo o evangelho. A busca de relevância e o desejo nobre de construir pontes não podem desconsiderar o fato de que o escândalo da cruz é inevitável no confronto entre a fé e o presente século. Daí a pertinência da conhecida ironia de H. Richard Niebuhr quanto a certas abordagens teológicas: “Um Deus sem ira levou um homem sem pecado a um reino sem julgamento por meio das ministrações de um Cristo sem uma cruz” (O reino de Deus na América, 1937).
Conclusão
Na metade da Idade Média viveu o grande teólogo Anselmo de Cantuária (1033-1109). No seu trabalho, ele se firmou em dois conceitos que se tornaram célebres na história do pensamento cristão: Credo ut intelligam (“creio para que possa entender”) e Fides quaerens intellectum (“a fé em busca de compreensão”). Com isso, Anselmo quis dizer que a tarefa da teologia é mostrar que crer é também pensar, ou seja, que não há uma dicotomia entre fé e reflexão intelectual. Ao mesmo tempo, ele destacou a prioridade da fé, do compromisso com Deus, no labor teológico. Para que seja genuinamente cristã, a teologia deve estar sempre consciente dos seus referenciais. Dentro dos limites impostos por eles, ainda haverá muito espaço para um pensamento fecundo, criativo e desafiador.
Fonte de referência, estudos e pesquisa: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/306/credo-ut-intelligam-a-teologia-crista-e-seus-parametros
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