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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A Cruz de Todos Nós!




Em vários momentos nos evangelhos, Jesus mencionou a palavra “cruz”. Esta não significa a cruz de madeira que Ele suportou em nosso lugar. De fato, toda vez que Ele mencionou a palavra cruz, estava se referindo a cruz que nós, enquanto discípulos, devemos levar. Na realidade, é esta cruz e o fato de que devemos levá-la que nos marca como Seus verdadeiros discípulos. Vejamos isso na Palavra de Deus:

Lucas 14:25-27, 33 
“Ora, iam com ele grandes multidões; e, voltando-se, disse-lhes: Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não levar a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. ….assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.”
Mateus 16:23-25 
“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens. Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me; pois, quem quiser salvar a sua vida perdeê-la-á mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.

Mateus 10:33-39 
“Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus. Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.”

2 Timóteo 3:12 
“E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições.”
Observando os versículos citados acima, podemos ver que seguir a Cristo pode nos trazer conflitos com a sociedade, com os que estão mais próximos – até mesmo com nosso pais ou filhos. Por mais desgostoso que isto seja, devemos seguir a Cristo. De fato nenhum homem pode ser um discípulo de Cristo se ele não levar a sua cruz, aceitando e levando as consequências de ser um Cristão.
É muito importante atentar-se para esses versículos e tomar uma decisão muito profunda em nossos corações, de que seguiremos a Cristo e à Palavra de Deus custe o que custar, e independentemente do que os homens e as suas filosofias e teorias possam dizer. Pode não ser prazeroso para a carne fazer isso. Talvez todos nós desejemos ser aceito por todos ao nosso redor, mas em alguns momentos isso não será possível, pois nos exigirá compromisso com Deus e com a Sua Palavra. Nestes casos, não devemos retroceder e recuar, mas devemos levar a cruz apegando-se a nossa fé. O que é mais forte? O que tem mais valor? Os Homens, suas teorias e opiniões sobre a Palavra de Deus? As teorias dos homens vêm e vão, mas a Palavra de Deus permanece para sempre. Vou te dar um exemplo: no nosso tempo e nas nossas “sociedades Cristãs” quase todos os que não creem em Cristo, creem que o mundo surgiu do nada e passou a desenvolver-se por si só. É isso o que a Palavra de Deus nos diz? Uma revisada aos primeiros capítulos de Gênesis mostra que não foi isso o que aconteceu. Foi Deus que criou todas as coisas. Hebreus sumariza da seguinte maneira:

Hebreus 11:3 
Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê.
O que o mundo diz (evolução) vem em oposição ao que a Palavra de Deus diz. E o que nós, Cristãos, fazemos? Muito simples: acreditamos na Palavra de Deus! Se Deus falar alguma coisa, então saberemos o que Deus disse! A palavra chave aqui é “acreditar”, “Através da fé” como é dito em Hebreus. A Palavra de Deus diz isso? Se sim, nos acreditamos nisso, sem nos importarmos com o que as pessoas vão dizer, mesmo que pareçamos ridículos devido as nossas crenças. Conforme disse R. T. Kendal:
cada geração do Cristianismo tem a sua própria estigma pela qual os crentes da fé são severamente testados. Por exemplo: a estigma da primeira geração da igreja era dizer que Jesus de Nazaré foi o cumprimento do Antigo Testamento. Este foi particularmente o estigma que os Judeus aceitaram quando viram a fundação que susteve o Templo de adoração. Na virada dos primeiros séculos a questão marcante veio a ser adorar a Cristo ou a Cesar… Nos días de Lutero a questão girava em torno da justificação pela fé ou pelas obras. Estes são apenas alguns poucos exemplos... pois poderia continuar exemplificando. A questão mais contestada de todos os tempos é definir qual é a verdadeira, mas esta qual também faz com que o olhar da minoria pareça tolo e faz os crentes parecerem tolos” (R. T. Kendal, Believing God, Authentic classics, p.17)
Como seria se estivéssemos no tempo de Lutero e apoiássemos a salvação pela graça? Nós também seriamos chamados de tolos e talvez poderíamos até perder a nossa vida. Mas ainda assim, deveríamos permanecer no que diz a Palavra de Deus, levando a nossa cruz, aceitando o estigma. O que eu quero dizer neste artigo é simples: leve a sua cruz. Acredite em 100% da Palavra de Serra. Aceite-a como a única autoridade para a sua vida. Não desvirtuam a mensagem para torná-la compatível ao que a sociedade diz. Não desista aquilo que Deus falar pela palavra, para ganhar a aceitação de outros. Muitos Cristãos têm feito isso. Por exemplo, muitos Cristãos quando o assunto é o Criacionismo versus a teoria da evolução – que é uma questão muito fervorosa dos nossos tempos, talvez seja a mais fervorosa, que faz com que o crente pareça um tolo – escolhem desvirtuar a mensagem e comprometer a sua fé. Querem acreditar tanto na evolução quanto na Criação por Deus. Não é isso o que a Palavra de Deus ensina. Você não precisa ter algo como prova para acreditar nela. Você tem de encontrá-la na palavra de Deus para poder acreditar. A Palavra fala sobre o assunto? Se sim, acredite se não, não acredite independente do que os outros – os chamados “peritos” – possam dizer. Isto é, uma fé como de criança, e isso é o que agrada ao Pai.
Segue algumas passagens para nos ajudar a ver que ser um discípulo de Jesus Cristo significa aceitar a possibilidade de ser perseguido por causa da fé. Eles também nos mostra o que devemos fazer:

2 Timóteo 3:12 
“E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições.”

2 Timóteo 4:2 
“Prega a palavra, insta a tempo e for a de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas.”
Romanos 1:16 
Porque não me envergonho do evangelho: pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro o judeu, e também do grego.

João 17:14 
“Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.”

1 Tessalonicenses 3:3 
“para que ninguém seja abalado por estas tribulações: porque vós mesmo sabeis que para isto fomos destinados.”

João 12:43 
"porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus. "
No final, por quem queremos ser elogiado? Queremos o elogio de Deus ou o dos homens? Não estou dizendo que em alguns momentos você não terá os dois: viver da maneira de Deus significa amar o seu vizinho e fazer o bem e por isso, as pessoas poderão te elogiar – apesar de que isto nunca deverá ser a sua motivação. Mas haverá momentos em que você não poderá ter os dois. Quando as pessoas te perguntarem o que você faz pela manhã, e você responder que lê a Bíblia Sagrada, correrá o risco de virar chacota. O que você acha? Quando existir uma conversa sobre evolucionismo e você disser que Deus criou todas as coisas, você poderá ser chamado de tolo. O que você acha? Quando você disser que Cristo é o único caminho, a verdade e a vida, você corre o risco de ser chamado de religioso. O que você acha? Quando você estiver lendo a sua Bíblia ou um livro Cristão no ônibus ou no trem, provavelmente você verá alguma pessoa olhando estranho pra você. O que você acha? O que a Bíblia diz é completamente o oposto do que o mundo diz. Sempre foi assim e acredito que continuará sendo assim até que o Senhor volte. O que eu e você precisamos fazer é apenas escolher para quem daremos as nossas costas. Aceitaremos o estigma, levaremos a nossa cruz e seguiremos a Cristo ou desvirtuaremos o evangelho, esperando com isso a aceitação dos homens?

Marcos 8:38 
“Porquanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras,também dele se envergonhará o Filho do homem quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.”

Lucas 12:8 
“E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens, também o filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas quem me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus”

Romanos 1:16 
“Porque não me envergonho do evangelho: pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.”
O mundo precisa daquele em quem você acredita. Não desvirtuemos a mensagem do evangelho, o tesouro que nós temos, apenas para evitar as consequências que o acompanha. Ao invés disto, levemos a nossa cruz e sigamos o nosso Salvador que nos fora revelado. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Mal ou Mau?

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Mal ou mau
Estas duas palavras existem na língua portuguesa e estão corretas. Porém, os seus significados são diferentes e devem ser usadas em situações diferentes. A forma mais fácil e eficaz de usarmos corretamente estas palavras é pela oposição, ou seja, utilizando seus antônimos e vendo qual está correto na frase. O adjetivo mau é antônimo de bom e o advérbio mal é antônimo de bem.

Mau tem sua origem na palavra em latim malu e é um adjetivo. É uma palavra frequentemente utilizada pelos falantes, possuindo vários significados. Devemos usar o adjetivo mau sempre que quisermos referir alguém ou alguma coisa que: não é de boa qualidade, faz maldades, traz infortúnio, faz grosserias, não tem competência, é pouco produtivo, é inconveniente e impróprio, é travesso e desobediente, é difícil de superar e é contrário aos bons costumes. Assim, mau é sinônimo de malvado, cruel, desumano, ruim, ordinário, imperfeito, malfeito, prejudicial, maligno, grosso, desagradável, incompetente, impróprio, inadequado, indisciplinado, desobediente, árduo, indecente, imoral, entre outros. Mau antônimo de bom.
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Exemplos:
·         Você é um mau amigo. (Oposição: bom amigo)
·         Esse cachorro é mau. (Oposição: é bom)

Mal tem sua origem na palavra em latim male e pode ser um substantivo comum, uma conjunção ou um advérbio. É também uma palavra frequentemente utilizada pelos falantes, possuindo vários significados. Como advérbio, mal se refere a alguma coisa feita de modo errado, de modo insuficiente, com dificuldade, de modo indelicado ou cruel ou de modo algum, sendo sinônimo de erradamente, incorretamente, de leve, insuficientemente, dificilmente, grosseiramente, severamente, jamais, nunca, entre outros. Como conjunção temporal, mal tem sentido de assim que e logo que. Como substantivo, mal se refere a uma desgraça, calamidade, dano, doença, enfermidade, pesar, aflição, sofrimento, defeito, problema, maldade. Mal é antônimo de bem.

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Exemplos:
·         Você não entendeu o exercício? Você fez tudo mal. (Advérbio. Oposição: bem)
·         Você nem imagina o mal que você me faz. (Substantivo comum. Oposição: bem)
·         Mal saí da escola, já estavam esperando por mim do outro lado da rua. (Conjunção subordinativa temporal)

As palavras mau e mal são pronunciadas da mesma forma, mas escritas de forma diferente, com significados diferentes. A este tipo de palavras chamamos palavras homófonas. Na língua portuguesa, existem diversas palavras homófonas: mau/mal, asar/azar, senso/censo, concelho/conselho, cozer/coser, cinto/sinto,…

Palavras Relacionadas: malmau.
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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A Filosofia de Santo Agostinho

Uma das maiores personalidades da história universal, Santo Agostinho foi um grande retórico, um grande filósofo e um grande santo da Igreja. Sua obra, ao mesmo tempo vasta e profunda, exerceu e exerce muita influência em toda a cultura ocidental.
A sua vida, muito conhecida, torna-o inteligível também para muitos não-cristãos. Retórico, homem do mundo, carnal, fez um longo esforço para encontrar a chave da inquietação que o devorava. Primeiro maniqueu, depois platônico, finalmente convertido, num célebre momento que ele mesmo contou com um gênio inimitável.
Depois da conversão, e sem pretendê-lo, é ordenado sacerdote. Chega ao episcopado da mesma maneira. E desde esse momento, no meio de muitas vicissitudes críticas, carrega sobre si grande parte da responsabilidade da Igreja; assim, por exemplo, no auge da heresia de Pelágio ouem face do cisma dos donatistas. No momento da sua morte, é todo um símbolo. Morre em Hipona quando os vândalos sitiavam a cidade. Com ele, morre a cultura antiga e nasce outra nova. Porque Santo Agostinho foi um homem do seu tempo. Versado em todas as artes clássicas, foi sempre um retórico de grande habilidade, jogando com as palavras num malabarismo que conseguia sempre escapar à superficialidade. Diríamos que o seu pensamento é tão profundo que supera as habilidades do retórico.
Inicialmente, escreve filosofia, porém mais tarde dedica as suas forças à pregação, sem descuidar uma enorme correspondência. Escreve também muitos tratados teológicos, de exegese bíblica, etc.
Não citaremos aqui as obras teológicas; limitar-nos-emos às de caráter filosófico: Contra Acadêmicos, crítica do ceticismo; De beata vita, sobre a felicidade; De ordine, sobre a origem do mal: os Coliloquia, um apaixonado diálogo consigo mesmo sobre a imortalidade da alma; De immortalitate animae; De quantitate animae, sobre a mesma questão; De magistro, sobre a educação com um enfoque psicológico.
Santo Agostinho não construiu um sistema filosófico completo, ainda que as idéias básicas se mantenham constantes e acusem um claro predomínio platônico. Ele mesmo nos conta que começou a ler uma obra de Aristóteles e não pôde prosseguir. Talvez o tenha afastado o estilo entrecortado, desencarnado, a falta dessa alma que Santo Agostinho buscava em tudo. Santo Agostinho não parece feito para encerrar a realidade em categorias. A sua reflexão parte sempre da vida: das coisas que se passam ao seu redor, das idéias dominantes, dos ataques contra a fé, da interioridade da sua alma.
A BUSCA DA VERDADE
A filosofia agostiniana é uma constante busca da verdade, que culmina na Verdade, em Cristo. É um movimento incessante, uma paixão, e, precisamente, a paixão principal: o amor. “Amor meus, pondus meum”, o amor é o peso que dá sentido à minha vida. Verdade e Amor.“Fizeste-nos, Senhor, para Ti e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em Ti”, diz nas Confissões.
Essa “passionalidade” da filosofia agostiniana não é em nenhum momento irracionalismo ou voluntarismo. Se incita a ter fé para entender, também anima a entender para crer melhor. Nada nos pode fazer duvidar da possibilidade de chegar à verdade. Nada valem os argumentos céticos. Si fallor, sum: se me engano, é uma prova de que sou, diz, antecipando-se, num contexto muito diferente, a Descartes. E com mais clareza: “Sabes que pensas? Sei. Ergo verum est cogitare te, logo é verdade que pensas”.
A verdade está no interior do homem. “Não queiras sair para fora; é no interior do homem que habita a verdade”. E há verdades constantes, inalteráveis, para sempre. Dois mais dois serão sempre quatro. Santo Agostinho tenta esclarecer de onde pode vir essa verdade. Não das sensações, diz, porque essas são e não são, são mutáveis, efêmeras. Tampouco do espírito humano, que, por profundo que seja, é limitado. Essas verdades eternas só podem ter por autor Aquele que é eterno: Deus. São reflexos da verdade eterna, que nos ilumina e nos permite ver. Nisso consiste o que depois ficou conhecido como “doutrina da iluminação”; porém, desde já é preciso dizer que Santo Agostinho não a apresenta nunca como uma “teoria”, mas como uma comprovação. Já no final da sua vida, diz nas Retractationes que o homem tem em si, enquanto é capaz, “a luz da razão eterna, na qual vê as verdades imutáveis”.
Como em Platão, conhecer verdadeiramente é estar em contato com o mundo inteligível. Porém, Santo Agostinho nunca dirá que vemos as verdades em Deus, mas que participamos da luz da razão eterna. Não se deve ignorar, por outro lado, que essa solução para o tema do conhecimento corre o risco de não distinguir de forma adequada o conhecimento natural do conhecimento sobrenatural. Mas essa é uma questão que só será levantada mais tarde, na Idade Média.
A BUSCA DE DEUS
Em Santo Agostinho, não existem provas formais para demonstrar a existência de Deus. Ainda que toda a sua obra seja uma espécie de itinerário em direção a Deus. Tudo fala de Deus; basta abrir os olhos. Ele é intimior intimo meo, mais íntimo ao homem que a própria intimidade humana. As coisas falam-nos todo o tempo de Deus. Perguntamos-lhes: “Sois Deus?” E respondem: “Não, fomos feitas. Continua a buscar”. De forma retórica – retórica de grande qualidade –, encontramos aí a prova da existência de Deus pela contingência das realidades humanas. A mutabilidáde exige o imutável; os graus de perfeição exigem o Ser perfeito. Em Santo Agostinho, como em outros filósofos de inspiração platônica, está claramente formulado o que será a quarta via de São Tomás de Aquino.
Qual é o melhor nome para Deus? O que se lê no Êxodo: “Aquele que é”. “Non aliquo modo est, sed est est” (Confissões). Santo Agostinho dará com freqüência a Deus o nome de Bem, de Amor, porém não desconhece que antes de tudo Ele é; e porque é o que é, é Amor, Bem, Infinito. São Tomás de Aquino não precisará modificar nada de substancial nesta metafísica agostiniana. Como exemplo das dezenas de textos agostinianos, temos este, das Confissões: “Eis que o céu e a terra são; e dizem-nos em altos brados que foram feitos, pois modificam-se e variam. Porque, naquilo que é sem ter sido feito, não há coisa alguma agora que antes não houvesse: que isso é modificar-se e variar. O céu e a terra clamam também que não se fizeram a si mesmos: somos porque fomos feitos; não éramos antes que fôssemos, de modo a termos podido ser por nós mesmos. Basta olhar para as coisas para ouvi-las dizer isso. Tu, Senhor, fizeste essas coisas. Porque és belo, elas são belas; porque és bom, são boas; porque tu és, elas são.”
Esta última afirmação (quia est: sunt enim) significava a definitiva superação por parte de Santo Agostinho do essencialismo platônico. Deus é causa do ser das coisas, porque é o Ser por essência. Se a fórmula de Santo Agostinho não é essa, a idéia é.
O MUNDO, CRIAÇÃO DE DEUS
Outro texto das Confissões situa de forma inequívoca a metafísica da criação: “Que eu ouça e entenda como no princípio fizeste o céu e a terra. Moisés escreveu isso; escreveu-o e ausentou-se. Daqui, onde estava contigo, passou a estar contigo, e por isso não o podem ver meus olhos. Se estivesse aqui presente, eu o agarraria, lhe rogaria e, por Ti, lhe suplicaria que me explicasse essas coisas […]. Porém, como saberia que estava a dizer-me a verdade? A própria verdade, que está no interior da minha alma, e que não é grega, nem latina, nem bárbara, nem necessita dos órgãos da boca ou da língua, nem do ruído de sílabas, me diria: Moisés diz a verdade, e eu, no mesmo instante, com toda a segurança lhe diria: Verdade é o que me dizes”.
Voltemos à questão anterior. Deus é Aquele que é; as coisas são criadas. Deus é quem lhes deu o ser. Por quê? Por pura bondade. “Porque Deus é bom, somos.” A razão da criação é a bondade de Deus. Deus não pode ter, no seu querer, outro fim que não o seu próprio ser. Só em relação a si mesmo pode querer mais. A criação é gratuita. Não há nada preexistente. Santo Agostinho acaba com as dúvidas de Orígenes e com o universo grego, eterno.
Deus cria todas as coisas do nada. E todo o criado é composto de matéria. Santo Agostinho, que durante tanto tempo não conseguiu conceber uma substância espiritual, não deixa de atribuir uma certa materialidade mesmo às criaturas espirituais, aos anjos. A absoluta imaterialidade só cabe a Deus. Em Deus estão as idéias exemplares de todas as coisas, que são as formas. Ao criar, essas idéias ficam limitadas pela matéria, mas, ao mesmo tempo, nessa matéria já estão os germes de tudo o que será: as rationes seminales.
Santo Agostinho retoma aqui uma doutrina de origem estóica e, ao mesmo tempo, faz uma concessão ao “materialismo” que professou durante anos, embora talvez seja melhor empregar o termo de “corporeismo”.
O ENIGMA DO HOMEM
“O homem que se espanta é ele mesmo grande maravilha”. “E dirigi-me a mim mesmo e disse: Tu quem és? E respondi-me: Homem. E eis que tenho à mão o corpo e a alma, um exterior e o outro interior. Porém, melhor é o interior”. “O homem é um ser intermediário entre os animais e os anjos”. “Nada encontramos no homem além de corpo e alma; isso é todo o homem: espírito e carne”. Essas são apenas algumas das numerosas referências que poderíamos dar sobre esta questão crucial. São os dois grandes temas agostinianos: “Deus e o homem”. “Que te conheça a ti e que me conheça a mim mesmo”. É o famoso princípio dos Soliloquia: “Quero conhecer Deus e a alma. Nada mais? Absolutamente nada mais”.
Também nesta questão Santo Agostinho trai a influência do platonismo. O homem é uma alma que usa um corpo; ou, uma alma racional, que se serve de um corpo terrestre e mortal; ou, “uma alma racional que tem um corpo”. Tudo indica que, para Santo Agostinho, o homem é a alma. E, contudo, há textos que parecem fugir ao platonismo: “Porque o homem não é só corpo ou apenas alma, mas o que é constituído de alma e de corpo. Esta é a verdade: a alma não é todo o homem, mas é a melhor parte do homem; nem todo o homem é o corpo, mas a porção inferior do homem; quando as duas estão juntas, temos o homem” (A Cidade de Deus). A questão ainda está sujeita a discussão, mas exagerou-se demais o platonismo de Santo Agostinho neste particular. De qualquer forma, Santo Agostinho supera a desvalorização do corporal, tão essencial no platonismo e no neoplatonismo. O corpo é matéria, criação de Deus, e por isso, bom. Não é o cárcere nem o túmulo da alma: “Não é o corpo o teu cárcere, mas a corrupção do teu corpo. O teu corpo, Deus o fez bom, porque Ele é bom”. Também aqui poderíamos multiplicar os textos: “Todo aquele que quer eliminar o corpo da natureza humana desvaira”. E de forma inequívoca, numa obra tardia, o Sermão 267: “Perversa e humana filosofia é a dos que negam a ressurreição do corpo. Alardeiam serem grandes depreciadores do corpo, porque crêem que nele estão encarceradas as suas almas, por delitos cometidos em outro lugar. Porém, o nosso Deus fez o corpo e o espírito; de ambos é o criador; de ambos o recriador”.
Examinemos uma dificuldade classicamente agostiniana. Deus é o criador da alma, mas como a criou? Com os nascimentos surgem constantemente homens, isto é, corpo e alma. Será que as almas estão nas “razões seminais”, na matéria, e são transmitidas pelos pais, na geração? Santo Agostinho assim o pensou por certo tempo, mas depois recusou que algo espiritual pudesse surgir da matéria. Pensou na criação imediata por Deus de cada alma, mas esse início no tempo de algo espiritual não combinava com o que ainda restava de platonismo nele. Acabou confessando que não sabia o que dizer. Era mais um elemento desse enigma que é o homem.
Fica claro que a alma é imortal, porque conhece as verdades imortais e eternas. Que conheçamos o que seja a verdade e que nunca deixará de sê-lo é, para Santo Agostinho, evidente. Como pode morrer ou desaparecer o que é a sede do indestrutível?
A alma será sempre um mistério. Muitas outras realidades sobre as quais pensamos também o são. O tempo. É famoso o dito agostiniano: “Se ninguém mo pergunta, sei; mas se quero explicá-lo a quem mo pergunta, não o sei”. Depois de uma análise do passado, do presente e do futuro – até hoje não superada –, Santo Agostinho concluí: “Não se diz com propriedade «três são os tempos: passado, presente e futuro»; talvez fosse mais apropriado dizer: «presente das coisas futuras, presente das coisas passadas, presente das coisas presentes». Porque essas três presenças têm algum ser na minha alma, e é somente nela que as vejo. O presente das coisas passadas é a memória; o presente das coisas presentes é a contemplação; o presente das coisas futuras é a expectação” (Confissões). O tempo é, assim, distensio animi, “uma espécie de extensão da nossa alma”. É preciso ler ao menos esse livro XI das Confissões para captar o tom da filosofia agostiniana: incerta às vezes, nada dogmática, em diálogo constante com Deus.
A COMPLEXIDADE DA HISTÓRIA
A Cidade de Deus é mais uma das grandes obras universais que Santo Agostinho legou à humanidade. Mas poucos escritos têm sido tão mal lidos, tão mal interpretados. A oposição entre Cidade de Deus e Cidade terrena foi vista como oposição entre Igreja e Estado. Nada mais falso. O texto célebre não deixa lugar a dúvidas. Dois amores criaram duas cidades: o amor próprio, que leva ao desprezo de Deus, a terrena; o amor de Deus, que leva ao desprezo de si mesmo, a celestial. Ou: “Dividi a Humanidade em dois grandes grupos. Um é o daqueles que vivem segundo o homem; o outro, o dos que vivem segundo Deus. Damos misticamente a esses dois grupos o nome de cidades, que quer dizer sociedades de homens”.
A prova fundamental de que essa divisão não é equivalente à divisão Igreja-Estado é a afirmação taxativa de que na Igreja podem existir homens que, na realidade, pertencem à cidade terrena; e, inversamente, entre as pessoas que ainda estão fora da Igreja podem-se encontrar predestinados à cidade celestial. Por outro lado, essas duas “cidades” acham-se misturadas, imbricadas. A “peneira” será feita só no final de cada história pessoal e no final da história de todo o gênero humano. Enquanto transcorre o tempo, com as suas variações, “porque não em vão são tempos”, a história é complexa. Não existe uma “lei da história”, não conhecemos o futuro. Só Deus conhece o final; o homem move-se às apalpadelas no campo da história. A história forma como que um belo poema, no qual intervêm Deus e o homem. O final só será conhecido quando soar a última nota.
Em uma palavra: a concepção de história é, em Santo Agostinho, uma concepção aberta. O seu “providencialismo” não é uma afirmação de “teocracia”. Não se pode extrair da filosofia-teologia da história de Santo Agostinho argumentos para o césaro-papismo ou para qualquer outra confusão do religioso com o político. A importância desta filosofia-teologia da história ressalta mais quando se tem em conta que em toda a história da filosofia será preciso esperar Hegel para encontrar outra concepção igualmente global e completa (embora em Hegel ela tenha um sentido panteísta).
FONTE: “História básica da filosofia”, Editora Nerman, São Paulo, 1988, págs. 70-74.

Referências bibliográficas: http://www.paraclitus.com.br/2013/veritas/filosofia/a-filosofia-de-santo-agostinho/

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