Visite nossa Página no JUSBRASIL

Site Jurídico

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Quem pode participar da Ceia do Senhor? Uma introdução ao debate


Resultado de imagem para santa ceia

Imagine a situação: Rev. Valdir1  é um pastor presbiteriano de uma cidade média no interior de SP que recebe um telefonema de um pastor batista cuja igreja acabara de se empolgar com a redescoberta da fé evangélica e a centralidade da Bíblia no púlpito. Ele recebe um convite para pregar naquela igreja no culto principal. 

Rev. Valdir se sente muito empolgado e honrado por pregar e servir em uma igreja de outra denominação e ficou mais feliz ainda quando soube que haveria a celebração mensal da Ceia do Senhor. Porém, quando chega o momento da Ceia após o reverendo proferir um belo sermão, quando o diácono começa a servir a Ceia explica para ele que esta é restrita somente aos membros daquela denominação. E o reverendo Valdir não pôde participar da Ceia do Senhor. 

A situação ficcional acima, porém muito comum, levanta uma reflexão: quem pode participar da Ceia do Senhor? 



As quatro posições:2

Dentro da tradição batista, onde o autor deste artigo está inserido,3 há uma tipologia que ilustra o debate. Cada posição tem uma teologia por detrás dela.

O falecido pastor batista e professor de eclesiologia, João Falcão Sobrinho, em seu livro A Túnica Inconsútil: Um estudo sobre a doutrina da Igreja4  lista quatro posições, a saber: Ceia Universal  (ou Ceia aberta ou ultra-livre); Ceia Livre, Ceia Restrita e Ceia Ultra-Restrita. 


Outra terminologia é usada neste quesito, a saber, comunhão fechada, próxima ou aberta.6  Está é comum em círculos batistas e luteranos.7

Ceia Universal

Esta posição, podendo também ser chamada de Ceia Aberta ou Ultra-Livre,  advoga que todos devem receber o pão e o vinho, independente do seu credo, da fé salvadora no Senhor Jesus Cristo e da religião,8sendo a posição de igrejas neo-pentecostais onde não há um claro critério de membresia e a ceia é servida para todos os presentes ou igrejas professadamente ecumênicas ou aderentes ao diálogo inter-religioso.

Ceia Livre (ou comunhão “próxima”)
Esta posição defende que todo crente em Cristo Jesus, confessante e batizado, independente da denominação ou tradição de fé protestante, é convidado a participar da Ceia do Senhor.9 

Há uma posição intermediária entre a Ceia Universal e a Ceia Livre que é a comunhão “aberta” que advoga que todo crente em Cristo Jesus mesmo não batizado é convidado a participar da mesa do Senhor.10 

Esta posição sempre existiu na tradição Batista, porém teve maior defesa no século XX. Seu maior expoente foi o conhecido John Bunyan.11 



Ceia Restrita

Esta posição defende que somente os membros da denominação, “mesma fé e ordem” podem participar da Ceia do Senhor. Os que defendem essa posição, por exemplo, Sobrinho, advoga a diferença entre as posições denominacionais quanto a Ceia do Senhor como um meio de graça como motivo para a ceia restrita.12  Para Sobrinho, a ceia é meramente um memorial.13  E esse é um fator impeditivo para que membros de outra denominação participem da Ceia.



Ceia ultra-restrita

Esta posição defende que somente os membros daquela comunidade local devem participar da Ceia do Senhor. O autor Ebenézer Soares Ferreira salienta que é a posição mais sensata porque a ceia é da igreja local.14  Alguns batistas no século XVII e XVIII e o movimento landmarkista15  nos séculos XIX e XX advogam essa posição quando a igreja celebra a Ceia.16
O que está por detrás de cada posição
Importante tratar de cada posição a luz dos pressupostos teológicos que estão por detrás de cada uma delas. No caso da Ceia Universal, é notório o entendimento (ou falta dele) universalista da fé em Cristo no sentido de que todos, sem distinção, serão salvos, portanto a Ceia pode ser oferecida a todos.

No caso da Comunhão “Aberta” onde crentes não batizados podem participar, a indagação é que a Escritura não revela com clareza o batismo como condição sine qua non para a participação na Ceia do Senhor. Os que argumentam contra esta posição levantam a questão do Batismo como uma ordenança para os discípulos (Mc 16:15) portanto o não cumprimento dela caracteriza-se como desobediência e a ordenança ou sacramento da Ceia é para os discípulos batizados.

Os adeptos da Ceia Livre (Comunhão próxima) tem uma compreensão que a igreja é tanto local quanto universal, tanto visível quanto invisível, portanto todo crente professo e batizado é convidado a participar.

À luz dos credos antigos como, por exemplo, o Credo dos apóstolos e o Credo Niceno-Constantinopolitano de 381, a Igreja é “Una (única), Santa, Universal e Apostólica.”17  Mark Dever escreve que a “igreja é universal porque se estende através do tempo e do espaço.”18  A igreja local faz parte da igreja universal.

A Segunda Confissão de Fé Londrina de 1689 salienta que:

“A Igreja universal (ou católica), que com respeito à obra interna do Espírito, e da verdade da graça, pode ser chamada invisível, consiste no número total dos eleitos que já foram, estão sendo, ou ainda serão chamados em Cristo, o Cabeça de todos. A Igreja é a esposa, o corpo e a plenitude daquele que é tudo em todos.”19
Portanto à luz da universalidade ou catolicidade da igreja, todo cristão deve ser convidado para participar da Ceia independente da tradição, tipo de batismo, exigindo apenas a fé em Cristo no coração e confessada seguida do batismo. Esta é a posição defendida pelo autor do artigo embora reflita sobre a honestidade da pergunta levantada pelos defensores da comunhão “aberta”.

Conforme escrito anteriormente, a Ceia Restrita tem como argumento a unidade denominacional da mesma “fé e ordem” como também a posição da ceia memorial no quesito meio de graça (a ceia não confere graça para esta posição) então o argumento de que se a posição é diferente, não há possibilidade de participação em conjunto com outras denominações (isso envolve também o debate credo-batismo ou pedo-batismo). A Igreja Evangélica Luterana do Brasil mantém essa posição com o nome de comunhão “fechada” (aos membros da denominação) por causa da posição de Lutero quanto à ceia, a saber, a consubstanciação.20
A posição da ceia ultra-restrita tem como argumento a não existência da igreja universal ou invisível dentro da tradição batista conforme interpretada e defendida pelo movimento landmarquista.

Todo o debate se dá pela interpretação de 1 Coríntios 11:27-31 e das questões: se a mesa pertence à igreja ou ao Senhor? Se a igreja é somente local ou universal?

Bibliografia:
DEVER, Mark. Igreja: o Evangelho visível. São José dos Campos – SP : Fiel, 2015.
FÉ PARA HOJE: Confissão de Fé Batista de 1689. São José dos Campos – SP, Editora Fiel, 1991.
FERREIRA, Ebenézer Soares. Manual da Igreja e do Obreiro. Rio de Janeiro : JUERP. 1985.
GARDNER, Daniel Aaron. O despertar do movimento Landmarkista: Uma análise da vida e da teologia de James R. Graves. São José dos Campos : Seminário Martin Bucer. TCC
SOBRINHO, João Falcão. A túnica Inconsútil: Um estudo sobre a doutrina da igreja. – Rio de Janeiro, JUERP, 1998.
http://catequeseconfessional.blogspot.com.br/2015/09/confessionalidade-luterana-e-comunhao.html

____________________________________
1Nome fictício, situação fictícia, porém muito comum. 
2O autor agradece ao pastor batista Silas Roberto Nogueira pelo auxílio a pesquisa com os materiais de eclesiologia dos professores João Falcão Sobrinho e Ebenezer Soares Ferreira.
3Para outras tradições menos afetadas pelo fundamentalismo conforme explicado mais a frente no artigo não lidam com este problema por causa do conceito de igreja universal.
4SOBRINHO, João Falcão. A túnica Inconsútil: Um estudo sobre a doutrina da igreja. – Rio de Janeiro, JUERP, 1998. P. 96
5Os termos (como também a quantidade de posições) podem variar de escritor para escritor ou professor de eclesiologia para professor. 
6DEVER, Mark. Igreja: o Evangelho visível. São José dos Campos – SP : Fiel, 2015. P. 160. 
7Cf. http://catequeseconfessional.blogspot.com.br/2015/09/confessionalidade-luterana-e-comunhao.html Acesso em 19/11/2015. Pelo texto parece ser a posição da IELB (Igreja Evangélica Luterana do Brasil) ligada ao sínodo de Missouri (EUA) e confessional.
8SOBRINHO, Op. Cit. P. 96
9DEVER, Op. Cit. P.160
10Ibid.
11Ibid.
12SOBRINHO, Op. Cit. P. 96
13Ibid. As posições quanto a ordenança ou sacramento da Ceia do Senhor são: Transubstanciação (Igreja Católica Romana); Consubstanciação (Posição Luterana); Presença real ou mística por meio da fé (Calvino, presbiterianos e reformados, batistas calvinistas e reformados) e memorial (Ulrich Zwinglío, batistas).
14Cf. FERREIRA, Ebenézer Soares. Manual da Igreja e do Obreiro. Rio de Janeiro : JUERP. 1985.
15O landmarkismo ou landmarquismo surgiu com James R. Graves (1820-1893) com uma interpretação muito estreita em sua eclesiologia: existência apenas da igreja visível e local (não triunfante ou invisível) se relacionando apenas com outras igrejas fiéis (batistas landmarkistas) tanto em ordenança quanto em pregação fiel. Somente os pastores daquela tradição eram fiéis as igrejas do Novo Testamento. Cf. GARDNER, Daniel Aaron. O despertar do movimento Landmarkista: Uma análise da vida e da teologia de James R. Graves. São José dos Campos : Seminário Martin Bucer. TCC – Material não publicado.
16DEVER, Op Cit. P.160
17DEVER. Op. Cit. P.62-64
18Ibid. P.64
19FÉ PARA HOJE: Confissão de Fé Batista de 1689. São José dos Campos – SP, Editora Fiel, 1991. P. 51
20http://catequeseconfessional.blogspot.com.br/2015/09/confessionalidade-luterana-e-comunhao.html 


Fonte de referência, estudos e pesquisa: http://www.teologiabrasileira.com.br/

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A Fundação da Igreja...

A Fundação da Igreja - a ekklēsia mateana


Mateus chama de ekklēsia o novo ‘am Yahweh – a comunidade histórico soteriológica universal daqueles que creram na messianidade de Jesus.Essa comunidade, todavia, é vista sob a perspectiva universal em Mt 16.18 e local em 18.17.
Na primeira, Jesus apresenta a 
ekklēsia como sendo a sua congregação, comunidade ou povo, assim como Israel era o povo de Deus. Duas verdades a respeito da nova comunidade são afirmadas: a fundação futura da igreja: “edificarei” (oikodomēsō); e a igreja como propriedade exclusiva de Cristo: "minha igreja" (mou tēn ekklēsian).
O verbo no futuro do indicativo da primeira pessoa, oikodomēsō, assegura que o próprio Cristo edificaria a igreja. A metáfora, portanto, é a de um construtor (oikodomos), ou proprietário que edifica a sua casa. Esse edificador é frequentemente chamado de oikodespotēs, ou seja, o administrador da edificação ou oikodomia.
Em Mateus 10.25 oikodespotēs é o chefe de família, o proprietário da casa. Nas epístolas paulinas este termo refere-se ao cuidado e governo da família (1 Tm 5.14; Tt 2.5). Por conseguinte, na figura de Jesus como opater família – oikodespotēs –, são afirmados todos os direitos exclusivos e inalienáveis de Cristo sobre a Igreja (cf. Mt 10.25; 20.1; 21.33). Ele edifica, sustenta e aparelha a Igreja – a casa de Deus (Hb 3.1-6).
Teorias a respeito da fundação da igreja
A proposição cristológica que assevera a fundação da Igreja como evento profético é contrária às pretensas alegações de que a igreja fora edificada na Antiga Aliança. Estes se dividem em dois grupos. O primeiro, acredita, de acordo com Gênesis 3, que o primeiro casal, Adão e Eva, constituíram a primeira igreja cristã no Antigo Testamento. De acordo com essa posição, Adão e Eva creram na promessa concernente à semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente e, por isso, a igreja fora fundada na proto-história da humanidade com um proto-evangelho. O segundo grupo atesta que a igreja teve seu início com Abraão, conforme Gênesis 12 e, assim como o povo de Israel era a “igreja” do Antigo Testamento, a Igreja é o novo Israel restaurado em o Novo Testamento. Alguns daqueles que vêem a igreja como continuidade de Israel na Antiga Aliança, adicionam ao argumento, o caráter judaico da igreja primitiva, a fim de fortalecer a temática e justificar o Novo Testamento como seqüência natural do desenvolvimento do povo de Deus nas Escrituras.
Objeções
Porém, os proponentes dessas teorias se esquecem de que o próprio Cristo é o oikodespotēs, ou seja, o edificador e construtor da nova edificação (Mt 16.18; 1 Pe 2,5), e, portanto, a Igreja não poderia ser edificada antes da manifestação do próprio Edificador. Para que a igreja pudesse ser estabelecida era necessário que o Verbo divino se encarnasse e consumasse sua obra salvífica (Jo 1.1, 12-14; Gl 4.4). Como anteriormente afirmamos, Cristo Jesus refere-se à fundação da Igreja como evento escatológico, futuro: oikodomēsō, isto é, “edificarei” – verbo no futuro do indicativo da primeira pessoa –, e isso faz alusão à edificação da igreja depois da consumação de sua obra salvífica e sua ascensão ao Pai. Jesus, por conseguinte, é o único e inconfundível edificador da Igreja (Rm 9.33; 1 Co 10.4;1 Pe 2.4-8), pois Ele chamaamorosamente os homens ao arrependimento (Mt 9.13; Mc 2.17; Lc 5.32;2 Tm 1.9) para constituí-los “pedras vivas”, “casa espiritual” e “sacerdócio santo”, a fim de que ofereçam sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio dEle próprio (1 Pe 2.5,9). Antes da epifania e consumação da obra soteriológica efetuada por Cristo, a Igreja não poderia ter de fato existido. Essa proposição é uma verdade incontestável quando mais uma vez observamos que Mt 16.18 expressamente declara a não existência da igreja antes de Cristo, mas que passaria a existir após sua morte e ressurreição. Portanto, toda e qualquer afirmação que pretenda identificar concretamente a igreja antes de Cristo terá de responder satisfatoriamente à problemática içada por Mt 16.18.
Registre-se por fim, o fato de em Hebreus 3.1-6, o autor argumentar que Jesus é superior a Moisés, pois enquanto este “foi fiel em toda a sua casa, como servo” (v.5), aquele, “como Filho, sobre a sua própria casa; a qual somos nós” (v.6). O texto reverbera a declaração divina em Números 12.7: “Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa”, contudo, ressalta que “maior honra do que a casa tem aquele que a edificou” (v.3). Moisés era um “servidor” (therapōn), mas Cristo,hōs huios epi ton oikō(i) autou, “como Filho, sobre (epi) a sua própria casa”. O lexema hebraico bayît, “casa”, traduzido pela LXX por oikos, embora seja de significado elástico nas Escrituras, não se refere ao tabernáculo, mas ao povo de Deus, à “casa de Israel” (oikou Israēl), como “a comunidade da fé”.
casa, Israel, foi edificada por Deus, mas a casa, Igreja, por Cristo.Uma casa, afirma o rapsodo, é construída ou edificada por alguém. Ela não subsiste independente de seu edificador. Assim como uma casa necessita ser planejada e construída por alguém, Israel e a Igreja não subsistem independentes do Pai e do Filho respectivamente: “Pois toda casa é equipada por alguém, mas Deus é o construtor de todas as coisas” (v.4 –tradução pessoal). O verbo “edificar”, nesta perícope, é a tradução de kataskeuadzō, que se entende por “construir”, “edificar”, ou “criar”, mas também “equipar” e “prover”. Na mesma epístola é usado em 11.7 com o sentido de “preparar” (ARC), “aparelhar” (ARA), “construir” (NVI/TEB), para designar à construção, edificação e aparelhamento da arca por Noé. O biblista irlandês, James M. Flanigan assevera quekataskeuadzō designa a Cristo como “o desenhista, o planejador, o realizador que ordenou e estabeleceu todas as coisas”.[1] A fim de que não houvesse qualquer suspeição concernente à interpretação da “casa”, da qual Cristo é o edificador, afirma o escritor aos Hebreus: “Mas Cristo é fiel como Filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se é que nos apegamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos” (v.6 – NVI). Esta casa é a Igreja de Deus; a comunidade da fé, ou como afirma Paulo em Efésios 2.19 a oikia(i) tou Theou, isto é, a Família de Deus. Portanto, Jesus é o edificador da Igreja, a Família de Deus e, por essa mesma razão “tem maior” (pleinos) “glória” (doksēs) e “honra” (timēn) do que Moisés e qualquer um dos apóstolos (v.3).
Embora essas metáforas neotestamentárias encontrem seus fundamentos no Antigo Testamento, podemos afirmar que assim como a essência não se confunde com a forma, a “nova casa” e “nova aliança” anunciadas nas Escrituras veterotestamentárias não se confundem com a essência vivida in totum pela comunidade da Nova Aliança, edificada e aparelhada por nosso Senhor Jesus Cristo. A realidade é superior ao anúncio, razão pela qual Moisés foi fiel (pistos), “como servo, para testemunho (martýrion) das coisas que se haviam de anunciar (laleō)(v.5 – ARA).
Porém, caso a presente proposição não seja suficiente para convencer a quem concebe de outra forma, creio que os textos de Efésios 1.9-12;3.5-11 e Colossenses 1.26,27 põem fim à controvérsia. A igreja, conforme os textos citados, era um mistério “que desde os séculos esteve oculto em Deus, que a tudo criou”.

[1] FLANIGAN, J.M. Comentário Ritchie do Novo Testamento: Hebreus. São Paulo: Edições Cristãs; Shalom Publicações, 2001, p.90.

Visite Nossa Loja Parceira do Magazine Luiza - Click na Imagem

Mensagens de Bom Dia com Deus - Good morning messages with God - ¡Mensajes de buenos días con Dios

Bom Dia com Deus

Canal Luisa Criativa

Aprenda a Fazer Crochê

Semeando Jesus