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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A Lascívia: O Poço de Pecado!

A Lascívia: O Poço de Pecado!


-         Dela, pouco se fala, ao lermos o texto, passa despercebida. Talvez achemos difícil pronunciá-la. Deve ser realmente terrível, perversa, corrupta. Mesmo ao pronunciá-la, sentimos que precisamos do famoso sabão na boca para limpá-la, na verdade, é o poço do pecado. Se você se sente assim com respeito a essa palavra, então fico contente. É pelo menos um indício de que a sua vida não está sendo corrompida pela lascívia. Isso porque a lascívia opõe-se diretamente à vergonha do pecado. É o pecado que se esqueceu de como "ficar vermelho". É um procedimento desavergonhado - sem limites, sem impedimentos, avançando apressadamente sem restrições. Se alguma vez você dirigiu um carro que o acelerador tranca ou montou um cavalo em disparada, talvez você entenda o sentido disso. A todo vapor, fica extremamente difícil controlá-los. Eles correm, avançando para onde querem.
-         O apóstolo Paulo nos passa essa acepção da palavra quando escreve: "Os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução" (Efésios 4:19). São aqueles que perderam a capacidade de "sentir" o grau da gravidade de seu pecado. O pecado deles não os incomoda mais, e pouco lhes importa quem tome conhecimento. A Versão Revista e Atualizada usa a palavra "insensíveis". Examinando o contexto desse texto, podemos observar expressões como: a vaidade dos pensamentos, obscurecidos de entendimento, ignorância, dureza de coração. Claramente, a pessoa não está pensando com clareza. O discernimento entre o certo e o errado ficou escurecido e o pensamento enganoso tomou o comando. Isso no fim resultará na incapacidade de enxergar o erro. Parecerá que está bem, e aceitável - "todo o mundo faz". A palavra carrega a noção de "licença". Ela transmite a idéia de que uma pessoa dissoluta é alguém que crê ter o direito de fazer o que faz. Em Gálatas 5, Paulo levanta a questão da liberdade. "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou" (5:1). Mas ele adverte: "Não useis da liberdade para dar ocasião à carne" (5:13). Liberdade não é libertinagem. Liberdade implica policiar-nos - restringindo-nos, controlando-nos. Não há lugar para cavalos em disparada aqui.

-         Propositadamente evitei de fazer qualquer aplicação. Agi assim porque quis pintar um quadro o mais abrangente possível do significado dessa palavra. Claro está que sua aplicação encontra-se sobretudo no âmbito dos pecados sexuais ou sensuais. É conhecida pelos seus companheiros: orgias, bebedices, promiscuidade sexual (Romanos 13:13); impurezas, fornicação (2 Coríntios 12:21); concupiscências (1 Pedro 4:3). Mas não posso deixar de ressaltar que esses textos, assim como Gálatas 5, mostram pecados como contendas, ciúmes, iras, dissensões, facções, maledicências, difamações, arrogâncias, idolatrias. Enfim, estou dizendo que a dissolução é a base de muitos pecados. A dissolução, embora seja um pecado específico, deve ser vista como uma postura que temos para com os nossos pecados - sexuais ou de outra ordem. Pode ser designada como uma postura "não-me-importa/não-quero-nem-saber". O coração ciumento e a língua difamadora não encontram raízes na cegueira ilimitada no que diz respeito à culpa verdadeira desses pecados? "Se eu fizer, não é fofoca." O que semeia contenda e dissensão não tem a vaidade de pensamentos em que encontram apoio para agir como agem? Não se envergonham desse procedimento desavergonhado. São arrogantes e voluntariosos por causa da dureza de seu entendimento. "O meu caso é justo." O que fomenta a falsa religião nem pensa em redecorar a casa de Deus. O cavalo segue solto, galopando!

-         É impressionante que, na tentativa de se livrarem da culpa e da vergonha, tornam-se escravos da pior espécie. Enganados e seduzidos pelos seus desejos, são como escravos do barco amarrados aos remos de seus desejos - remando em direção às suas concupiscências.  Pedro fala dos falsos mestres que "proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens . . . prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor" (2 Pedro 2:18-19).
Que devemos fazer? Seria de grande ajuda fazermos um estudo cuidadoso e refletido de 2 Pedro 2. Esse texto trata desse pecado mais que qualquer outro capítulo da Bíblia. Também precisamos ouvir a Pedro, quando diz que o mundo "estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão". Nossas vidas devem ser diferentes. Paulo afirma: "Já é hora de vos despertardes do sono . . . deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz . . . Andemos dignamente . . . e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências" (Romanos 13:11-14). Evitar esse pecado não acontecerá por acaso. Requer consciência, esforço concentrado de nossa parte. E, se nos encontrarmos envolvidos nele, devemos saber que podemos ser perdoados. Arrependa-se! (2 Coríntios 12:21)

domingo, 21 de setembro de 2014

O Êxodo...

[Arqueologia Bíblica] O Êxodo
Figura 1 – Travessia do mar pelo povo hebreu após saída do Egito

E quanto à presença de hebreus no delta do Nilo? Podemos acreditar acreditar que foram os descendentes de Jacó que construíram alguns dos monumentos hoje encontrados no Egito? Entre os modernos cidadãos do Cairo (mulçumanos na sua maioria) chega a ser uma “tolice” supor tal possibilidade. Certa vez, fiz o teste de perguntar a um guia junto às pirâmides de Saqqara, qual a sua opinião sobre a possibilidade dos hebreus haverem contruído alguns daqueles monumentos. Seu semblante que havia sido alegre durante todo o dia decaiu repentinamente e percebi logo que falar de “história hebraica” num ambiente islâmico era algo proibido, mesmo se tratando do Egito que mantêm relações diplomáticas com Israel. Assim, fico me perguntando se o motivo por detrás da negação do Êxodo não é, na verdade, um preconceito étnico recheado de razões políticas que temem fermentar o conflito árabe-israelense caso se confirme o triunfo hebreu descrito na Bíblia.
Mas o método científico não deve contemplar nenhum tipo de xenofobismo. Uma pesquisa séria, desprovida de nacionalismos, deve ser feita para averiguar a realidade dos fatos que nos interessam. Realmente, devemos admitir que não foi encontrada ainda uma menção direta nas fontes egípcias acerca da opressão dos hebreus ou da saga de Moisés. Afinal, como dissemos, ainda há muito a ser descoberto sobre a própria história dos faraós. Ademais, lembremos, havia a prática de alguns monarcas apagarem dos monumentos oficiais, relatos de conquistas que aconteceram antes de seu governo e, em virtude disso, muita coisa está definitivamente perdida. Entretanto, existem algumas preciosas evidências que nos levam a crer que a Bíblia esteja correta ao contar esta magnífica história do Êxodo.
O próprio relado da opressão possui um detalhe que não pode ser passado por alto. O texto bíblico diz que:
“os egípcios, com tirania, faziam servir os filhos de Israel e lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro, e em tijolos, e com todo o trabalho no campo” (Êxodo 1:13-14)
É impressionante ver que até hoje moradores pobres das margens do Nilo mantêm a mesma prática milenar de produzir tijolo com barro tirado do próprio rio e misturá-lo com palha como, aliás, a Bíblia menciona acerca dos hebreus, em Êxodo 5:6.
Esse episódio, caso não fosse real, só poderia ter sido criado a partir de coisas que o escriba estivesse acostumado a ver. Contudo, é significativo o fato de que o fabrico de tijolos não era corrente em Jerusalém, onde as edificações eram normalmente feitas de pedras. O mesmo se pode dizer dos babilônicos que, embora fabricassem tijolos, os faziam com técnicas muito mais avançadas que os egípcios, usando, inclusive, fornos elevados a altas temperaturas que dispensavam o secamento do tijolo à luz do sol. Portanto, só resta sugerir que o autor bíblico descrevia uma prática que ele mesmo testemunhara não na Babilônia ou em Jerusalém, mas no próprio Egito.
O dia a dia das olarias egípcias está bem preservado em vários desenhos que decoram as paredes das tumbas egípcias. Uma, em especial, merece ser mencionada. Ela pertenceu a um vizir chamado Rekhmire, que viveu sob o domínio de Tutmés III, cerca do século 15 a.C., isto é, perto da época do Êxodo. Ali temos várias cenas de trabalhadores braçais semitas (muitos deles, certamente hebreus) fabricando tijolos, à semelhança do que descreve o relato bíblico. Os capatazes egípcios são representados com varas nas mãos chicoteando impiedosamente os trabalhadores escravos.


Figura 2 – Semitas fazendo tijolos com barro conforme Êxodo 1:13-14 | pond = lagoa | brick wall = parede de tijolos | Tumba de Rekhmire, o vizir em Tebas, datada no período de Tutmés III. (Fonte: Bible.ca).

Desenhos ornamentais encontrados num dos templos de Tebas, mais precisamente no complexo de Karnac, mostram a figura de um egípcio tendo em sua mão uma vara levantada, dizendo aos trabalhadores: “a vara está em minha mão! Não sejam preguiçosos!”. Noutra parede, um relevo de Tutmés III mostra o faraó em pessoa espancando um escravo siro-palestino (ou seja, hebreu) e levantando-o pelos cabelos em sinal de extrema humilhação. O escravo, que acabara de ser subjugado, ergue as mãos implorando misericórdia. Foi uma cena dessas que serviu de impulso para explodir a ira de Moisés, levando-o a matar o feitor egípcio (Êxodo 2:11-15).



Um dos principais capitães do faraó Ahmose I, que liderou suas tropas na guerra contra os hicsos, também se chamava Ahmose (talvez em homenagem ao rei que ele tanto admirava!). Sua tumba foi descoberta pelos arqueólogos e hoje pode ser visitada na vila de El-Mahamid, a poucos quilômetros ao sul de Luxor. As paredes do túmulo seguem  a cultura egípcia de descrever a vida do morto e, portanto, estão repletas de inscrições contando as proezas do capitão a serviço do faraó. O texto descreve sua coragem frente aos inimigos hicsos e relata o nome de dezenove escravos que lhe foram dados pelo próprio rei como prêmio pelas batalhas vencidas. O curioso é que a maioria dos alistados tem nomes semitas, pelo que não nos parece impossível supor, com boa probabilidade de acerto, que se tratassem de escravos hebreus! Não podiam ser escravos hicsos (embora também fossem semitas) porque esses, quando dominavam o Baixo Egito, adotaram inteiramente os costumes egípcios. Não somente se autoproclamaram “faraós”, como também seguiram a religião local e assumiram nomes totalmente egípcios para si e seus filhos. Portanto, os hebreus ainda permanecem como os mais fortes candidatos para a lista encontrada no túmulo de Ahmose.

AS PRAGAS
De todas as evidências que poderíamos citar a favor do Êxodo, nenhuma é tão espetacular quanto o testemunho externo das pragas que ocorreram no Egito. Ao que tudo indica, esse foi um vexame notório que ficou registrado por muitos anos na mente do povo. Tanto é assim que Deodoro Siculo, um tardio historiador grego do 1° século a.C., escreveu o seguinte testemunho que permanece até hoje:
“Nos tempos antigos houve uma grande praga no Egito e muitos a atribuíram ao fato de Deus estar ofendido com eles por causa dos estrangeiros que estavam em seu país (…) Os egípcios concluíram que, a menos que os estrangeiros fossem mandados embora de seu país, eles jamais se livrariam de suas misérias. Sobre isso, conforme nos informaram alguns escritores, os mais eminentes e estimados daqueles estrangeiros que estavam no Egito foram obrigados a deixar o país (…) [portanto] eles se retiraram para a província que agora se chama Judéia. Ela não fica longe do Egito e estava desabitada na ocasião. Aqueles emigrantes foram pois conduzidos por Moisés, que era superior a todos em sabedoria e poder. Ele lhes deu leis e ordenou que não fizessem imagens de deuses, pois só há um Deus no céu que está sobre tudo e é Senhor de tudo”[1]
As ruínas da cidade de Avaris também possuem marcas do que poderiam ser as pragas do Egito. Não obstante, o papiro de Ipuwer, encontrado no Egito em 1820, é o que mais nos interessa por sua clara conexão com o Êxodo. Imediatamente após descoberto, ele foi levado para o museu da Universidade de Leiden, na Holanda, onde permanece até hoje. Seu texto, decifrado originalmente por Alan H. Gardner, só veio a público após 1909 e revelou um conteúdo surpreendente.

Figura 4 – Papiro de Ipuwer, sacerdote egípcio, que descreve algumas pragas relatadas em 
Êxodo 7

Trata-se de um lamento e admoestação cerimonial escrito por um antigo sacerdote egípcio chamado Ipuwer. Ele se dirige diversas vezes ao faraó, questionando acerca do que estaria acontecendo na terra do Nilo. Afinal, segundo sua declaração:
“Os estrangeiros [hebreus?] vieram para o Egito (…) [eles] têm crescido e estão por toda parte [lit. “em todos os lugares, eles se tornaram gente”] (…) o Nilo se tornou em sangue (…) [as casas] e as plantações estão em chamas (…) a casa real perdeu todos os seus escravos (…) os mortos estão sendo sepultados pelo rio (…) os filhos dos nobres estão morrendo inesperadamente (…) o [nosso] ouro está no pescoço [dos escravos?] (…) o povo do oásis está indo embora e levando as provisões para o seu festival [religioso?]”[2]
Essas palavras nos soam muito parecidas com as pragas descritas em Êxodo 7:14-24, especialmente a primeira e a última. A referência  aos escravos que agora se vão e ainda levam consigo algumas riquezas parecem ecoar o comentário bíblico de que os hebreus foram e “pediram aos egípcios objetos de prata e ouro (…) de modo que estes lhes davam o que pediam. E despojaram os egípcios” (Êxodo 12:35-36).
Ainda existe um debate acerca do período ao qual as admoestações de Ipuwer se referem. Embora o manuscrito tenha sido escrito entre a 19° ou 20°dinastia (1335-110 a.C.) seu original certamente pertence a um tempo anterior. Não tão antigo como propõe John Wilson (que atribui a antes de 2050 a.C.)[3], nem no período hicso, como faz supor Van Seters[4], mas certamente nalguma ocasião imediatamente anterior ao Êxodo, quando as pragas castigavam o delta do Nilo.

O FARAÓ DO ÊXODO


Existe um detalhe em Êxodo 1:11 que ainda intriga os pesquisadores. O texto diz:
“E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiro, Pitom e Ramesses”.
Que cidades seriam essas? Embora não exista hoje no Egito nenhuma metrópole com tais nomes, é certo que houve um faraó chamado Ramsés II que governou de 1292-1225 a.C., durante a 19° dinastia, e construiu uma cidade chamada Pi-Ramese ou “casa de Ramsés”.
Um sítio arqueológico localizado por volta da década de 1930, em Tânis (atual San el-Hagar), a nordeste do delta, revelou a presença de enormes edifícios e várias estátuas de Ramsés. Desde então, os especialistas passaram a crer que seria essa a cidade mencionada em Êxodo e que teria sido edificada pelos hebreus.
Contudo, estudos posteriores enfraqueceram tal hipótese. Percebeu-se que as pedrarias, monumentos e inscrições desenterradas em Tânis não estavam em sua posição original, algumas jaziam de ponta cabeça, ou viradas para o lado. Os alicerces, também não coincidiam com a estrutura que estava por cima deles. Logo, o mais provável é que o templo e outros edifícios não pertencessem àquele lugar, mas tivessem sido transportados para ali, bloco por bloco, numa data bem posterior ao reinado de Ramsés II.
Hoje, o consenso quanto à localização original de Pi-Ramese é o de identificá-la com a moderna Tell el-Dab’a, ou seja, o mesmo sítio que abriga as possíveis ruínas do palácio de José e que mencionamos em capítulo anterior. Ela se localiza a trinta quilômetros de Tanis, e a menos de três da moderna Khatana-Qantir. De quando em vez, escavações locais ainda desenterram ali azulejos reluzentemente petrificados e pequenas estruturas arquitetônicas, mas quase não dá para enxergar nada acima do chão. Só para lembrar, foi neste mesmo sítio que se localizava a antiga Avaris, capital dos hicsos durante sua permanência no Egito.
Quanto à cidade de Pitom, os especialistas acreditam que seria uma corruptela hebraica do nome egípcio Pi-Atum, isto é, “casa de Atum (o deus sol)”. Sua localização é mais difícil de ser determinada. Alguns egiptólogos a identificaram no passadocom a moderna Tell el Maskhuta, que fica na região oriental do delta. Mas ainda hoje não se têm certeza absoluta sobre sua localidade.[5]
Sobra-nos, no entanto, um último problema: se, com base em Êxodo 1:11, considerarmos Ramsés II, o faraó da opressão e seu sucessor Merneptá (1225-1215 a.C.) o faraó do Êxodo, teremos um conflito com o texto de 1 Reis 6:1 que diz que o 4° ano do reinado de Salomão ocorreu 480 anos depois que os filhos de Israel saíram do Egito. Ora, embora as datas do período monárquico ainda oscilem cerca de 10 anos, o quarto ano de Salomão deve corresponder mais ou menos a 967 a.C., que é a data proposta pela clássica obra de Edwin Thiele, The mysterious numbers of the hebrew kings.[6]
Assim, somando 480 a 967 (pois as datas a.C. são em ordem decrescente) chegamos a 1447 a.C. como sendo o ano-limite para a ocorrência do Êxodo. Essa não é uma data exata, é claro. Estudos recentes publicados por E.W. Faulstich (baseados em pesquisa astronômica de Oliver R. Blosser)[7] têm sugerido uma conversão de calendários que retardaria o Êxodo para pelo menos 1461 a.C. De qualquer modo, um período muito anterior ao reinado de Ramsés II!
Para mim, uma maneira simples, porém não absoluta, de resolver essa aparente incongruência seria sugerir que a descrição do Êxodo tenha recebido uma pequena adição editorial, nalgum manuscrito posterior a Moisés. Isso não é, de modo algum, um endosso à alta-crítica, mas a admissão de pequenas anotações explicativas que não teriam porque serem barradas pela Providência uma vez que não maculam o texto bíblico. Deuteronômio 24, por exemplo, que descreve a morte de Moisés, certamente não foi escrito por ele mesmo!
Seguindo essa suposição, creio que o problema fica amenizado se entendermos que um escriba posterior “atualizou” o texto, para indicar que aquela cidade que os hebreus edificaram tinha, na atualidade, o nome de Ramesses. Tal acréscimo não seria de modo algum um erro, se lembrarmos que nossos livros de história convencionalmente dizem que Colombo descobriu a “América”, embora todos saibamos que em 1492 (data da descoberta) ainda não havia nenhum continente com esse nome.
Nossa conclusão, portanto, é que o Êxodo ocorreu em algum período anterior a 1447 a.C. e os contemporâneos da trama seriam: Tutmés II, meio irmão e marido de Hatsepsut, a princesa que adotou Moisés, e Tutmés III, filho de Tutmés II, mas não de Hatsepsut (que embora tenha gerado duas filhas, parece não ter tido nenhum filho homem). Esse possivelmente tenha sido um inimigo natural de Moisés, a quem Hatsepsut queria empossar no trono. Porém, com a fuga do hebreu para Midiã, o caminho ficou livre para ele assumir o trono no lugar de Moisés. E, por fim, temos Amenófis II (também chamado Amenhotep II), o possível faraó do Êxodo, embora se assim for, resta saber a identidade daquele que se afogou sob as águas do Mar Vermelho.[8]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  1. Diodorus Siculus, The library of history. (Cambridge: Harvard University Press, 1993), 12 v.
  2. ANET, p. 441-444.
  3. John Wilson, em ANET, p. 441.
  4. John Van Seters, The Hyksos (New Haven: Yale University Press, 1960), p. 103-120.
  5. E. Uphil, Pithom and Ramses: Their location and significance, Journal of Near East Studies 28 (1969(, p. 15-39.
  6. Edwin R. Thiele, The mysterious numbers of the hebrew kings (Grand Rapids: Zondervan, 1983).
  7. Citado por Randall Price, The stones cry out (Eugene: Harvest House Publishers, 1997), p. 411, nota 16.
  8. SDABC, v.1, p. 1102.
  9. http://www.bibliaonline.com.br - Biblia Sagrada 

sábado, 20 de setembro de 2014

Salvação – dádiva divina ou conquista humana?

Lições da História da Igreja...


Salvação – dádiva divina ou conquista humana?

Desde o início têm existido duas tendências no cristianismo com respeito à salvação. De um lado, salienta-se a prioridade da graça divina e a salvação como resultado da iniciativa soberana e misericordiosa de Deus. Nessa perspectiva, a única participação do indivíduo é receber, por meio da fé, o que lhe é oferecido graciosamente por Deus. De outro lado, dá-se ênfase a um maior envolvimento do ser humano na experiência de salvação. Ao invés da aparente passividade da fé, acentua-se a prática de ações positivas ou “boas obras” como requisito igualmente importante para o recebimento da salvação. No Novo Testamento, a primeira abordagem é representada principalmente pelo apóstolo Paulo e a segunda, por Tiago.

Na maior parte da história da igreja, a segunda abordagem tem tido predominância, e isso desde uma época muito remota. Os historiadores e teólogos chamam a atenção para uma clara mudança de perspectiva nos escritos cristãos posteriores ao Novo Testamento. Entre os anos 95 e 150 foi composto um conjunto de documentos que ficaram conhecidos como “pais apostólicos”. Os principais são a 1ª epístola de Clemente, sete cartas de Inácio de Antioquia, a Didaquê, a Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas. Poucas décadas os separam do Novo Testamento. Todavia, a mudança de perspectiva é sensível: em contraste com a ênfase paulina na graça e na fé, a salvação passa a ser entendida em termos de obediência a uma nova lei. Ela não é vista primordialmente como uma dádiva graciosa de Deus, mas como fruto do esforço e da fidelidade dos cristãos.

Em parte, essa mudança foi uma reação contra o crescente antinomismo (rejeição da lei e dos mandamentos) que se difundia entre os cristãos. Muitos crentes, entendendo o evangelho de maneira parcial, tendiam a desprezar o conteúdo ético da vida cristã. Esqueciam-se de que a fé genuína precisa ser acompanhada por frutos (Gl 5.6). No entanto, essa preocupação com a obediência levou a um entendimento legalista e moralista da vida cristã que persistiu ao longo dos séculos. Uma das poucas vozes que defenderam a perspectiva paulina da supremacia da graça e da fé foi o grande bispo Agostinho de Hipona (354-430). Porém, seu pensamento nessa área foi rejeitado pela igreja. Solidificou-se a idéia de que a salvação é um processo que dura a vida inteira, no qual a perseverança e a prática do bem por parte dos cristãos contribuem decisivamente para o resultado final. Somente com a Reforma do século 16 seria resgatado o ensino do apóstolo Paulo de que “pela graça sois salvos mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8).

Dolorosamente, essa mensagem libertadora tem sido esquecida por grande número de herdeiros da Reforma. Muitos evangélicos atuais, embora teoricamente comprometidos com a doutrina da justificação pela graça mediante a fé, vivem na prática um entendimento legalista da salvação. Esta é vista como uma transação com Deus, na qual Deus abençoa e recompensa os crentes na medida em que estes se mostram obedientes e zelosos na prática de determinadas ações, como orar, contribuir e freqüentar a igreja. Quando isso ocorre, o relacionamento com o Senhor deixa de estar fundamentado na graça, e sim nos merecimentos humanos. É por isso que tantos se sentem à vontade para reivindicar direitos e até dar ordens a Deus, esquecendo-se de uma verdade destacada por Martinho Lutero: “Somos todos mendigos”, isto é, plenamente carentes da graça divina. Existe um lugar importantíssimo para a obediência e as boas obras na vida cristã, mas não como condição para sermos aceitos e abençoados pelo Deus gracioso.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Promessa de um Lar Feliz...

A Promessa de um Lar Feliz no Antigo Testamento

Família, Projeto Divino

Em nossa obra A Família no Antigo Testamento: História e Sociologia, descrevemos a família bíblica como "o âmago da estrutura social". Na Tanach, exclusivamente em Berê’shîth (Gênesis), encontramos o princípio judaico-cristão da família no texto que diz: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele. Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada. Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apergar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam” (Gn 2.18,21-25).

Família, Centro de ComunhãoDeus é quem decidiu criar a família. Esta foi formada para ser um centro de comunhão e cooperação entre os cônjuges. Um núcleo por meio do qual as bênçãos divinas fluiriam e se espalhariam sobre a terra (Gn 1.28). Não era parte do projeto célico que o homem vivesse só, sem ninguém ao seu lado para compartilhar tudo o que era e tudo o que recebeu da parte de Deus, pois o homem sente-se pessoa não apenas pelo que é, mas também quando vê o seu reflexo no outro que lhe é semelhante. Portanto, a sentença divina ecoada nos umbrais eternos expressa o amor e o cuidado celeste para com a vida afetiva do homem. O próprio Deus não estava solitário na eternidade, mas partilhava de incomensurável comunhão com o Filho e o Santo Espírito. Deus é um ser pessoal e sociável às suas criaturas morais. No entanto, contrapondo a natureza divina à humana, concluímos que o intrínseco relacionamento entre a divindade e o ente humano dá-se em níveis transcendentais, metafísicos.

Por conseguinte, faltava ao homem alguém que lhe fosse semelhante, ossos dos seus ossos, carne de sua carne, alguém que se chamasse “varoa” porquanto do “varão” foi formada. Essa correspondência não foi encontrada nos seres irracionais criados, mas na criatura tomada de sua própria carne e essência. A mulher era ao homem o vis-à-vis de sua existência. Seu reflexo. Partida e chegada. O homem e a mulher se identificam mutuamente por compartilharem da mesmíssima imagem divina: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn 1.27). Homem e mulher, portanto, fazem parte do mesmo projeto celífluo. Sentem-se tão necessários à existência do outro quanto dependem individualmente do ar que respiram. Esta interdependência é inerente à formação moral e espiritual do próprio ser. Faz parte do mistério, da teia de encontros e desencontros, de fluxo e refluxo que cercam a união entre homem e mulher. A união conjugal, portanto, antes de ser um contrato jurídico, era um ato de amor, companheirismo e cumplicidade em que as principais necessidades humanas eram plenamente satisfeitas. Homem e mulher se auto-realizavam um no outro.

A Constituição do Núcleo Familiar
A constituição do núcleo familiar a priori foi composta por um homem e uma mulher. Mais tarde, acrescentou-se ao casal os filhos gerados dessa união. A partir do nascimento dos primeiros filhos, a família tornou-se o primeiro sistema social no qual o ser humano é inserido.
A primeira família, formada apenas por duas pessoas, tornou-se numerosa por meio dos filhos que, ao serem gerados, se inseriram no núcleo familiar assumindo diversos papéis dentro do sistema: filho, irmão, neto, primo, etc. A família não foi criada, portanto, como um sistema fechado, mas dinâmico, e, com o passar do tempo, o número de seus membros foi aumentando gradativamente, e destes formando novos núcleos familiares ligados por consangüinidade e afinidade.

Terminologia e Conceito de Família no Antigo Testamento

O hebraico do Antigo Testamento costuma usar três palavras para família: bayît, bêt, mishpāhâ.

Bayît. A primeira delas é bayît, que designa tanto uma “residência”, “templo”, “lar”, a “parte interior de uma casa”, “casa”, quanto também o conceito de “família” ou “os moradores de uma mesma casa”. O sentido de habitação é um dos mais freqüentes usos do termo (Êx 12.7; Lv 25.29; Dt 11.20).

Bêt. Outro vocábulo muito freqüente é bêt, cujo sentido literal é “casa” e ocorre juntamente com outros termos formando uma idéia completa tal qual bêt’ēl (Casa de Deus), bêt lehem (Belém ou “casa de pão”), e assim por diante. O termo bêt designa “pessoas de uma casa”, ou juntamente com ’āb designa “casa do pai”.

Mishpāhiâ. O terceiro vocábulo, mishpāhiâ, literalmente significa “família”, “parentes” ou “clã”. A ênfase está nos laços sangüíneos que existem entre as pessoas de um mesmo círculo. Segundo Harris, o termo “se emprega como subdivisão de um grupo maior, tal qual uma tribo ou nação (Nm 11.10)”.

Portanto, família para o hebreu designava tanto o vínculo consangüíneo existente entre um grupo de pessoas em uma mesma casa quanto o conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco.

Das trezentas e sessenta e sete ocasiões em que o termo “família” aparece no Antigo Testamento, cerca de cento e cinqüenta e duas aparecem no livro de Números referindo-se aos descendentes das tribos, isto é, aqueles cujo laço sangüíneo o relaciona a determinada tribo, família ou clã. É o caso, por exemplo, de Números 1.2: “Levantai o censo de toda a congregação dos filhos de Israel, segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando todos os homens, nominalmente, cabeça por cabeça” (ARA).

Temos nesse texto um exemplo do uso de “congregação” (‘ēdâ) para referir-se a “todo o povo de Israel”, “famílias” (mishpāhiâ), para designar o “clã”, como principal unidade social, de tamanho intermediário entre a tribo e a “casa” (bayît) de seus pais. Este último pode ser traduzido por “família”, e refere-se àquela unidade consangüínea menor que habita uma mesma casa.

Um outro aspecto que deve ser notado a respeito dos termos e da composição das antigas famílias bíblicas é que os costumes locais, vez por outra, incluíam os servos ou escravos como integrantes da família. Isto é facilmente observado no termo hebraico shiphâ, que é traduzido por “criada” ou “escrava”, mas uma escrava associada à mishpāhiâ, isto é, ao núcleo familiar. A escrava denominada shiphiâ, segundo Harris, era uma serva que podia ser dada de presente a uma filha quando esta se casasse (Gn 29.24,29). E de acordo com a lei de Nuzi, uma esposa estéril podia entregar sua serva ao marido a fim de ter vicariamente um filho, por meio da serva (Gn 16.2; 30.3,4). Um menino nascido de tal união seria o herdeiro, a menos que a própria esposa mais tarde tivesse um filho.

A junção dos vocábulos bayît, bêt, mishpāhiâ e shiphiâ demonstra que o conceito de família para o hebreu abrangia tanto os parentes próximos, longínquos, quanto os escravos. Desde que houvesse uma relação consangüínea ou de afinidades, já se constituía um membro da unidade familiar.

As famílias, portanto, eram extensas e, após os doze filhos de Jacó, reuniam-se em tribos que seguiam minuciosamente a tradição familiar. Os “pais patriarcais” detinham o poder e o governo soberano sobre o grupo familiar.

Nestes idos patriarcais, viviam em acampamentos comuns emigrando de um canto a outro à busca de pastagem para o rebanho ou de subsistência para a numerosa família: “Fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até ao lugar onde primeiro estivera a sua tenda, entre Betel e Ai. Ló, que ia com Abrão, também tinha rebanhos, gado e tendas” (Gn 13.3,5 – ARA).

Esta conjuntura social possibilitou o contato com várias populações também agricultoras e, vez por outra, a possibilidade de haver intercâmbio comercial e união matrimonial que, dado às características da tradição hebréia, eram geralmente rejeitadas (Gn 34).

Composição da Família hebraica
A extensa família hebréia, portanto, distinguia-se quanto à composição das suas unidades:

’Āb. O pai, do hebraico ’āb, tanto designa o “originador” de uma descendência quanto o “ancestro” ou “líder”. O termo dentro do contexto nômade, seminômade ou da vida sedentária hebréia também se refere a “alguém revestido de autoridade sobre”. O ’āb é o responsável direto pela família, cabendo-lhe todas as decisões sociais, culturais e jurídicas que dizem respeito ao bem-estar do núcleo familiar. Todos são igualmente dependentes dele e, por isso, denomina-se “casa de meu pai”, bêt ’āb , ou bayît ’āb, representando o núcleo familiar básico ou pessoas da mesma casa (Gn 24.38,40; 28.21; 41.51; 46.31). O ’āb, portanto, é o pai de família ou chefe da casa ou do grupo doméstico, quer este grupo seja numeroso quer não.

Mishpāhiâ. O clã ou mishpāhiâ, como é designado no Antigo Testamento, era uma unidade familiar mais ampla do que a anterior. Abrangia várias famílias em uma comunidade geográfica mais ampla. O clã era liderado pelos mais velhos ou “anciãos”, que conseqüentemente eram os cabeças das famílias. Os anciãos, do hebraico zāqēn, faziam parte de uma categoria social entre os hebreus, conhecidos pelos sábios conselhos, prudência, vivência e capacidade para julgar situações embaraçosas. Estes são chamados de “anciãos de Israel” (Êx 3.16,18; 12.21; 17.6), “anciãos dos filhos de Israel” (Êx 4.29;), “anciãos do povo” (Êx 19.7; Nm 11.24), “anciãos da congregação” (Lv 4.5), “anciãos da cidade” (Dt 19.12; 21.3). Esta composição social também era comum entre os moabitas e midianitas (Nm 22.7). Os anciãos auxiliavam na resolução de problemas ligados à virgindade (Dt 22.15), homicídios (Dt 19.12; 21.1), in passim. Números 11.25 menciona setenta anciãos que profetizaram quando sobre eles o Espírito do Senhor desceu. Segundo H. Schmidt, o clã parece incluir um grupo de mil homens com capacidade para guerrear (cf. Mq 5.1; 1 Sm 8.12; 23.23).

Matteh. A tribo, do hebraico matteh, era um conjunto de clãs. O termo original significa, ipsis verbis, “vara”, “bordão” ou “haste”, passando a significar “tribo” em razão de os líderes usarem bastões ou varas como símbolo de autoridade investida. Todas as famílias que compunham uma tribo eram uma comunidade religiosa, econômica e juridicamente ligada pela consangüinidade e afinidades familiares. As responsabilidades, entre outras, incluíam: a defesa militar, a solidariedade entre os seus membros, a educação das crianças conforme a tradição da tribo, o cuidado com a propriedade familiar e a manutenção das riquezas e bens comuns.

Em uma determinada tribo estava a unidade básica do núcleo familiar sob a responsabilidade do ’āb, que por sua vez se subordinava ao mishpāhiâ; a somatória destes compunha o matteh: “Dos filhos de Simeão, as suas gerações, pelas suas famílias, segundo a casa de seus pais...” (Nm 1.22 – ARA). Todos se consideravam filhos de um mesmo ancestral — como por exemplo, um dos doze filhos de Jacó —, do qual recebiam um nome epônimo (Nm 1). O representante de cada matteh era chamado de “cabeça da casa de seu pai” (Nm 1.4), “príncipe da tribo de seu pai” ou “cabeça dos milhares de Israel” (Nm 1.16).

Correndo o risco de perturbar a clareza das informações acima expendidas, creio ser necessário recorrer a dois teóricos sociais para auxiliar-nos na compreensão desse formato social: Durkheim e Weber. O modelo social acima descrito adequa-se ao tipo de solidariedade social proposta por Durkheim: a solidariedade mecânica. Nesta, os indivíduos possuem sua identidade mediante a família, a religião, a tradição e os costumes da tribo. Todos reconhecem e vivem os mesmos valores seguindo a tradição ancestral, do qual a coletividade procede. Uma “família-tronco” perpetua-se em torno do chefe de família pela instituição de um “herdeiro associado”. Os indivíduos nesse modelo social vivem sob a coerção dos fatos sociais. Os fatos sociais, segundo Durkheim: "É toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coação exterior; ou ainda, que é geral no conjunto de uma determinada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais." (As Regras do Método Sociológico, p. 92) .

Para M. Weber, contudo, não é necessário que a ordem social tenha de se opor e se distinguir dos indivíduos, como uma realidade exterior a eles; ao contrário, estas normas se manifestam em cada indivíduo sob forma de motivação. A ação tradicional, uma das quatro formas de ação social proposta por Weber, por exemplo, é motivada pelo costume, tradição, hábito, crenças e valores —, pelos quais o indivíduo age movido pela obediência a eles, em razão de estarem fortemente enraizados na base do ethos tanto em sua vida quanto na do grupo.
A distinção entre um e outro está basicamente no método empregado. Émile Durkheim baseia-se nos métodos positivistas fundamentados em Augusto Comte e Herbert Spencer, enquanto Max Weber fundamenta-se na distinção formulada por Wilhelm Dilthey entre explicar (erklären) e compreender (verstehen), que são as bases da sociologia compreensiva.
No entanto, embora os dois teóricos — e ainda podemos acrescentar o materialismo histórico de Karl Marx — não concordem entre si quanto à coerção dos fatos sociais, as duas explicações acima demonstradas, correndo o risco de uma simplificação exacerbada, auxiliam na compreensão de que seja qual for o grupo social, o indivíduo, seja por motivação seja por coerção, vive sob as bases do ethos compartilhado por todos.

BENTHO, Esdras Costa. A Família no Antigo Testamento: história e sociologia. 3.ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
LÉVI-STRAUSS, C. As Estruturas Elementares do Parentesco. Petrópolis: Vozes, 1982.
HARRIS, R. Laird (et al.). Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.
BENETTI, Santos. Sexualidade e Erotismo na Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 23.
SCHMIDT, Werner H. Introduccion al Antiguo Testamento. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1983, p. 49.
WERBER, M. Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva. Brasília: Editora da UnB, v. 1, 1991,[ pp. 15,16.]

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