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domingo, 3 de julho de 2016

"O Jesus Recordado" - A Metodologia Historiográfica de James D.G. Dunn

"O Jesus Recordado" - A Metodologia Historiográfica de James D.G. Dunn

Somente os idiotas armazenam na sua memória ferramentas para as quais não têm uso. É o desafio vital que excita o pensamento.
Rubem Alves, "Sobre homens e moluscos"

James D. G Dunn é Professor Emérito de Divindade na Universidade de Durham, ocupando a cadeira de John B. Lightfoot . Ele possui Ph.D. e D.D. na Universidade de Cambridge e M.A. e B.D. na Universidade de Glasgow. Foi presidente do Studiorum Novi Testamenti Societas, liderando o corpo internacional para os estudos do Novo Testamento.

É mais conhecido por ser um dos “campeões” da, assim nomeada ( ele mesmo foi o expoente a utilizar esta nomenclatura, ainda que posteriormente muitos problematizaram que ela abrange um leque de posições de estudiosos bem diversa) “Nova Perspectiva sobre Paulo". No Brasil a Editora Academia Cristã publicou a respeito suas obras monumentais “Nova Perspectiva sobre Paulo”  e a Paulus publicara “A Teologia do Apóstolo Paulo”. Porém ele despontou com trabalhos inovadores, fecundos, polêmico, concisos e abrangentes sobre a pneumatologia nas origens cristãs. Livros como “Baptism in the Holy Spirit”, “The Christ and the Spirit (vl 1): Christology” e “The Christ and the Spirit (vl 2): Pneumatology” possuem lugar garantido em todos os debates com preocupação acadêmica, acerca do tema.

Aqui faremos um recorte em seu trabalho acerca da questão do “Jesus Histórico”, buscando fazer uma breve e simples apresentação de sua perspectiva e proposta metodológica e epistemológica que oferece uma linha de trabalho peculiar; neste momento não aprofundarei em termos mais específicos acerca das descrições que o autor faz sobre o que considera histórico no ministério de Jesus. Devido a questões de tamanho e propriedades inerentes de visualização de blog, me ative a notas e citações que julguei imprescindíveis para ajudar na compreensão.

*Obs: os trechos de citações estão em tradução livre direta, por questões de espaço; caso se solicite, poderei com prazer repassar os originais em inglês. 

Introdução 


O livro em que emergira onde reuniu e organizou dados e tratamentos, as referências e argumentos de diversos trabalhos publicados, é o massivo “Jesus Remembered”.


Ele está dividido em cinco partes. Dunn abre com uma discussão sobre "Fé e Jesus Histórico”. Aqui, ele re-conta a história da ascensão da pesquisa crítica em Jesus e no início do Cristianismo. Parte 2: "A partir dos Evangelhos de Jesus", procura mais uma vez reconstruir o que podemos realmente saber sobre o Jesus dos Evangelhos . Tendo o material peneirado , Dunn, em seguida, aborda as questões de " Missão de Jesus” (parte 3), “auto-compreensão de Jesus” (parte 4), e “morte de Jesus, ressurreição, recordação e entre os seus seguidores” (parte 5).

"Jesus Remembered" é o primeiro volume de sua monumental série acerca dos primeiros 120 anos de cristianismo, “Christianism in Makind” (na qual também faz parte “Beginning from Jerusalem”), uma tentativa de "dar uma descrição integrada e fazer análise, tanto histórica e teológica, quanto social e literária dos 120 primeiros anos ou mais do cristianismo"("J.R.", p. 6). Dunn acredita que "Há três grandes questões para os alunos do início do Cristianismo: (1) O que havia em Jesus que explica tanto o impacto que ele acarretou sobre seus discípulos e por que ele foi crucificado? (p.2) Como e por que aconteceu que o movimento de Jesus que decolou depois de sua morte não permanecera dentro judaísmo do primeiro século e se tornou inaceitável para o judaísmo rabínico emergente? (3) o cristianismo que surgiu no segundo século foi como uma religião predominantemente de gentios, essencialmente o mesmo que sua versão do primeiro século ou significativamente diferente em caráter gentio? " (p 3).

Problematização com Crítica das Formas

Tradicionalmente, a metodologia da Crítica das Formas busca retirar acréscimos secundários para chegar no que é realmente factual em cada passagem, caso haja algum. Ela então concebe como aspecto básico do caráter da composição dos evangelhos, que foram uma composição a partir de um mosaico de pequenas unidades fragmentárias, transmitidas oralmente através de coletivos anônimos, de modo informal e sem controle; moldadas comunitariamente às situações vivenciais do contexto em que foram compiladas reunindo-se os fragmentos independentes e colocadas sob uma moldura no ato de escrita.[1] 

De acordo com o pensamento de um dos seus principais nomes, "O que as fontes nos oferecem é, antes de tudo, a mensagem da comunidade cristã primitiva, que, na maior parte a Igreja livremente atribuíra a Jesus" (Bultmann, Jesus, 12).

Dunn faz uma análise crítica destes postulados. Uma de suas provocações reverbera: "Poucos hoje, se há alguém, assumem que as fontes escritas levam o leitor de volta diretamente para o Jesus que atuou e ensinou na Galileia três ou mais décadas antes" (Jesus Remembered, p.173)

O pesquisador infere aguçadamente que “a ‘configuração padrão’ do ‘paradigma literário’ , ou seja, o ponto de vista que os autores dos evangelhos sinóticos foram literariamente dependentes uns dos outros” (geralmente levando em consideração a forma de Mateus e Lucas , dependendo de exemplares literários de Marcos e “Q” - nota minha) - "é demasiado limitado para explicar as complexidades da tradição de Jesus" (336) [grifo meu]. Ou seja, quem analisar de forma esmiuçada e também topicamente os Sinóticos pode ver os tipos de diferenças entre eles, mas grande número dessas diferenças dificilmente permite a conclusão de que, por exemplo, Lucas copiou Marcos só fazendo mudanças para atender às suas ênfases.

Usando gráficos regulares que apresentam os textos sinóticos em colunas paralelas e sublinhando os paralelos mais próximos, Dunn busca referências no trabalho de Kenneth Bailey, em "Informal Controlled Oral Tradition and the Synoptic Gospels”, sugerindo com rigor que as diferenças entre os paralelos sinóticos refletem uma interação complexa entre edição literária e o uso da tradição oral. Dunn também pesquisa de forma concisa o que ele descompactou em detalhes de numerosos escritos díspares sobre a unidade e a diversidade do judaísmo em que Jesus nasceu. Sugere que o critério orientador é o de fazer uma varredura ampla através da tradição sinótica sobre vários temas, procurando o que é, ao mesmo tempo mais característico e mais distinto, bem como o que é mais provável que seja autêntico.

A base: transmissão “informal e controlada”

Kenneth E. Bailey, Ph.D. em Novo Testamento, viveu por 47 anos no Oriente Médio, tendo sido professor de matérias sobre o Novo Testamento em diversas instituições, dentre elas o Biblical Department of the Near East School of Theology, em Beirut, e no Tantur Ecumenical Institute for Theological Research, em Jerusalém. Estudou diversos exegetas árabes cristãos antigos, como Ibn al’-Assãl, Ibn Al-Salíbí, e Ibn Al-Tayyib.

Neste clássico artigo ele postula que a forma como as sociedades das aldeias do Oriente Médio, marcadas pelo valor da tradição oral em reportar histórias, transmitem-nas, é feito em um ambiente informal, mas controlado. A imagem faz parte de uma reunião de aldeia onde a comunidade está a "preservar seu depósito de tradição" (Bailey, “Informal Controlled” p.6). [2]

Esta prática de "preservar as tradições tem alguns controles importantes que lhe são postos”. Primeiro, "Apenas aqueles dentro da comunidade quecresceram ouvindo as histórias têm o direito de recitá-las em reuniões públicas" ("Informal Controlled", p. 6) [grifo meu].

Em segundo lugar, às histórias que são importantes para a identidade das comunidades foi permitido alguma flexibilidade nos detalhes, mas os "tópicos centrais da história não podem ser mudados" (Bailey, "I.C.",p. 7) [grifo meu]. Bailey dá vários exemplos de como isso funciona na prática. Ele conta as ocasiões em que pediu a várias pessoas diferentes narrarem a mesma história. O que ele descobriu foi que cada vez lhe fora dito, essencialmente, a mesma história, com alguma flexibilidade, mas muitas vezes as linhas principais da história eram literalmente as mesmas, independentemente do contador. (p 10). Ele passa a observar que, analogamente para as comunidades cristãs dispersas, "lembrar as palavras e atos de Jesus de Nazaré foi afirmar sua própria identidade. As histórias tinham de ser contadas e controladas ou tudo o que fez eles serem quem eram estava perdido"(Bailey,"I.C.",p. 10).

A necessidade de uma abordagem que supere a crítica das formas clássica 

Ao formular a metodologia de seu programa de estudo, Dunn insiste que maior atenção deve ser dada ao fato de que os materiais evangélicos foram derivados, não aleatoriamente, de tradição oral. Ele não põe de lado a “hipótese das duas fontes”, admite que existem paralelos entre os Evangelhos que dificilmente podem ser explicados por outro que não dependência literária (144 n . 15). Mas, ao mesmo tempo, ele insiste que a maneira usual de se utilizar a “hipótese das duas fontes” uma ferramenta de pesquisa simplesmente errada (248).

Enquanto ele aceita a evidência de Fonte de Ditos, ele é cético em relação a tentativas de detectar camadas literárias em Q ( “J.R.”, p. 467, nota 70 ) e rejeita a afirmação de que “Q” era o Evangelho apenas voltado para alguma comunidade , rejeitando assim o noção de uma comunidade Q”.[3] 

Os Evangelhos não devem ser considerados como uma série de edições escritas dos documentos anteriores, a serem estudados de tal maneira a remover a camadas mais precoces para chegar à forma mais antiga da tradição. Em vez disso, a maioria dos paralelos entre o Evangelhos sinóticos, de fato exibem mais de características de “re-contagens” orais do mesmo evento: “variações dentro do mesmo” (“J.R.”, p.212)[grifo meu] , tal como seria de esperar para encontrar como o produto de um processo como o que os relatos contemporâneos de Kenneth Bailey na vida das aldeias no Oriente Médio. Ele ilustra este por um certo número de exemplos extraídos do Evangelho paralelos , todos os quais mostram que o paradigma literário simplesmente não serve ("J.R.", p.234).

  • Alguns exemplos; observe-se o que se tem de plena semelhança, dentre todo o conjunto:
 Mateus 7,13-14 - Entre pela porta estreita (...) muitos são os que entram e Lucas 13,24 - Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão.

Mateus 10,34-38 - Não penseis que vim trazer paz à terra; eu não vim trazer paz, mas uma espada. Pois eu vim jogar um homem contra seu pai, uma filha contra sua mãe e a nora contra sua sogra. Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim; e aquele que amar filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. Aquele que não tomar sua cruz e não seguir após a mim não é digno de mim.

Lucas 12,51-53 - Pensais que vim trazer paz sobre a terra? Não, eu vos digo, mas sim a divisão. Pois de agora em diante uma casa com cinco pessoas ficará dividida; ficarão divididos três contra dois e dois contra três, mãe contra pai e pai contra mãe, mãe contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra sogra.

Lucas 14,26-27 - Quem quiser vir após mim e não odiar seu pai e sua mãe, mulher e filhos, irmãos e irmãs, sim, e até sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua própria cruz e vem após mim não pode ser meu discípulo. 

Ninguém que lê estes relatos duvidaria que eles são a mesma história. No entanto, são diferentes o suficiente para sugerir que eles podem não ter a mesma fonte textual. Se assumirmos que estes estão mais para serem como diferentes recontagens orais da história dentro de uma comunidade, transmitindo suas histórias pela tradição controlada informal, então faz sentido. A história básica é a mesma: 1) Jesus está com os seus discípulos em um barco, 2) uma grande tempestade surge enquanto Jesus está dormindo, 3) os discípulos acordam Jesus, 4) Ele repreende o vento e o mar e traz calmaria, 5 ) Jesus questiona a falta de fé dos discípulos. Várias linhas são lembradas literalmente (“J.R.”, p.. 217).

Implicações

Sua aceitação da hipótese das duas fontes é criticamente qualificada, não apenas pelo reconhecimento do uso de tradições independentes por Mateus e Lucas, mas também por sua hipótese de a transmissão oral da tradição. Advêm diferenças decorrentes da vida dos que estão envolvidos na tradição oral, em que a partir das variedades destas tradições paralelas se diz a redação literária. Disso ele tira duas implicações.

Primeiro, as fontes escritas foram moldadas pela transmissão oral das tradições que elas incorporam. Em segundo lugar, a transmissão oral da tradição continuou ao lado da escrita, remetendo para múltiplas performances de Jesus e as performances de várias testemunhas de Jesus, variações de desempenho na transmissão posterior da tradição, ou o desempenho dos escritores dos Evangelhos. Para Dunn, o modelo de variação de desempenhos orais prepondera sobre redação sobre a fonte (“J.R.” pgs 336 e 441 nota 42). [4]


O resultado é um Jesus que nunca está livre de interpretação, mas reconhece-se que essa interpretação começou com Jesus e com os seus seguidores antes do evento pascoal. Assim, o Jesus que emerge da investigação histórica como tal é sempre "oJesus Recordado", que é o acessível para estudarmo-lo. Isso nos lembra que Jesus não é diretamente acessível mas só é conhecido através do impacto que ele fez sobre aqueles que viram-no e ouviram -no e na transmissão de suas memórias sobre ele. Estas memórias são interpretadas e não transmitidas de fatos nus; são múltiplas, envolvendo uma diversidade de interpretações.



Destaca-se daí que, para Dunn, as tradições sobre Jesus originam-se na memória da comunidade dos primeiros cristãos.  Pode-se supor com propriedade que o processo de tradição começou com a palavra inicial e/ou ato de Jesus (“A New Perspective on Jesus: What the Quest for the Historical Jesus Missed”, p. 239). Estas palavras e/ou atos foram então, memorizados na comunidade. A fé de seus discípulos foi, pelo menos indiretamente na sua forma básica, uma parte da personalidade de Jesus, assim temos acesso a Jesus Nazaré como é recordado e esta forma de percepção de sua herança derivou de uma parte de sua personalidade. Era um processo de recordação compartilhada e não devemos esquecer o papel contínuo das testemunhas transmissoras (“New Perspect on Jesus”,p. 242) [grifo meu].

A proposta 


O caráter das fontes como a memória da comunidade também significa que o melhor método é procurar características e temáticas das tradições de Jesus ao invés de tomar episódios individuais isolados hermeticamente. Como por exemplo, os registros dos ensinamentos de Jesus no Evangelho estão saturados com referências ao Reino de Deus, e Dunn considera que é quase impossível explicar tais dados que não seja na suposição de que Jesus foi recordado como a falar muitas vezes sobre o assunto (“J.R.” p.384).


Assim, ele não procura basear a sua reconstrução no estabelecimento da autenticidade de ditos individuais ou em incidentes sem correlações contextuais mais amplas, mas pela coerência geral das fontes no pressuposto de que a tradição foi formada pelo impacto de Jesus durante seu ministério (pgs 332, 335). Ele descreve sua abordagem em termos do Realismo Crítico proposto por Bernard Lonergan e adotado por Ben F. Meyer e N. T. Wright ( “J.R.”, p. 110 nota 11 ).   [5] 

Emerge daí uma figura de Jesus com forte preocupação escatológica, com acentos apocalípticos para sua principal pregação, o “Reino de Deus”, em que na verdade chegara a passar por uma frustração por chegar a prever que sua vinda estava em iminência, mas que perseverara até o fim na coerência com sua missão para este Reino.

O futuro reino que Jesus anuncia estar próximo será uma das inversões escatológicas ( “J.R.” p.412, nota 17 ): haverá uma inversão de status, e os mais pobres herdarão o reino; o discipulado envolve força de vontade entre as dificuldades e um compromisso total; haverá um julgamento, sendo que é o juízo final que está explicitamente em vista ( “J.R.”, p.425).

As lembranças mais antigas nas quais Dunn se baseia com mais ênfase remetem a um círculo mais amplo de discípulos do que os Doze (pg. 239, nota 43). Ele considera que houve professores cristãos que serviram como o repositório de tradições congregadas por via oral (“J.R.” p. 176) [grifo meu], mas estes parecem terem sido referenciados como tais depois do ministério de Jesus. Dunn tem extrema cautela quanto a traçar os ensinamentos de volta para o grupo interno dos Doze e , em seguida, ao próprio Jesus, como se tivesse sido cuidadosamente controlada por meio de ensino memorização não parece explicar a divergências na tradição como tem chegado até nós.

Não só o núcleo estável, mas também a diversidade de performances pode voltar para múltiplas performances de Jesus ou das várias testemunhas no início (“J.R.” pg. 532, nota 34 , nota 42 , 660). O processo da tradição “precisa ser distinto da memória individual, ainda que pudesse ser descrita como uma memória corporativa que proporciona identidade ao grupo que assim recorda”. (“J.R.” p. 173). “Ao concentrar atenção particular sobre o caráter comunal do processo de transmissão primitivo, não deveríamos descartar a ênfase mais tradicional sobre a figura da autoridade individual, respeitada pela própria associação dele ou dela com Jesus durante os dias de sua missão”. (“J.R.”, p 243). “Onde mais os evangelistas encontraram a tradição? Armazenada, ociosa, em uma velha caixa, no fundo da casa de algum mestre? Armazenada, não recitada, na memória falha de um velho apóstolo?! Dificilmente.” (“J.R.” pg 250) [6] 


Assim, James D.G. Dunn acredita que "os primeiros transmissores dentro das igrejas cristãs [eram] preservadores mais inovadores... procurando transmitir, recontar, explicar, interpretar, elaborar, mas não criar de novo... Com o corpo principal da tradição sinóptica, creio eu, temos na maioria dos casos o acesso direto ao ensino e ministério de Jesus como foi lembrado [grifo meu] desde o início do processo de transmissão (que muitas vezes antecede a Páscoa) e de acesso de modo bastante direto ao ministério e ensino de Jesus através dos olhos e ouvidos daqueles que andavam com ele" (em "Messianic Ideas and Their Influence on the Jesus of History", in The Messiah, ed. James H. Charlesworth. pp. 371-372, citado em “J.R.” pg 653)


A transmissão da memória sobre Jesus fora marcada pelo dilema dos primeiros cristãos, sendo que à medida que ia se ficando mais amplamente nítido que se constituíam um grupo religioso à parte, “quase certamente teriam exigido uma história (ou histórias) fundacionais para explicar, a si mesmos tanto quanto a outros, porque haviam formado grupos sociais distintos” (“J.R.” p. 175). Isto reflete para ele, principalmente, nas passagens sobre atritos com os grupos judaicos. Ele aprofunda mais a respeito desta questão em "Jews and Christians: The Parting of the Ways, A. D. 70 to 135".

Dale C. Allison Jr. - " Este não é apenas um livro mais sobre Jesus, mas sim uma ampla apresentação, por parte de um estudioso renomado, das conclusões a que chegou durante a vida de reflexão e crítica bem informada. É cheio de bom senso e de muito aprendizado. Como sempre, o trabalho de James Dunn é caracterizado não só por uma familiaridade com o mundo judaico real de Jesus do primeiro século, mas também por um conhecimento sem igual da vasta literatura secundária. Especialmente sugestivo é o apelo consistente em continuar a tradição oral, o qual frequentemente parece justificado."

John P. Meier - " Durante décadas, James D.G. Dunn tem sido um líder no estudo sério e equilibrado de ambos: cristologia e história da pesquisa sobre Jesus. Tenho aproveitado muito de seus muitos livros e artigos e tenho o prazer de ler esta destilação maciça de seus muitos anos de reflexão e publicação sobre o Jesus histórico. Eu recomendo altamente “Jesus Remembered” para todos aqueles interessados ​​em uma abordagem séria e metodologicamente sofisticada para as grandes questões que atormentam e estimulam a pesquisa do Jesus histórico hoje."

Jonathan L. Reed - " 'Jesus Remembered' fornece um olhar fresco e completo das origens cristãs que é provocante e ao mesmo tempo criterioso em suas avaliações. James Dunn está igualmente em casa na história da pesquisa, nos detalhes dos Evangelhos, na matriz de fontes não bíblicas e na arqueologia do mundo de Jesus; e ele tece-os em um relato coerente e credível das tradições de Jesus."

NOTAS:

[ 1] para aprofundar mais, de forma acessível a iniciantes, indico “Literary Forms in the New Testament”, de James L Bailey e Lyle D. Vandeer Broek. 

[2] Por Bailey: As narrativas históricas importantes para a vida do indivíduo da aldeia também se enquadram neste segundo nível de flexibilidade que prevê a continuidade e liberdade para a interpretação individual da tradição. Mais uma vez um exemplo ajudará a esclarecer esse aspecto do nosso tema. Há vinte e cinco anos atrás Makhiel Pai da aldeia de Dayr Abu Hennis contou-me sobre fundação da sua aldeia. Os romanos chegaram no século II e construiram a cidade de Antinopolis. 

Mais tarde, monges cristãos construíram um mosteiro na periferia da cidade para o fim específico de testemunhar sua fé na cidade pagã. Para sustentar-se eles fizeram cestas de folhas de palmeira para trabalhadores, mas ao invés de conferir às cestas as funcionais duas alças , os monges colocaram uma terceira alça ao lado. Como eles vendiam as cestas no mercado da cidade , os clientes foram atraídos pela qualidade e preço, mas ficavam surpresos com as três alças. 

" Por que você colocou três alças nestas cestas ? eles perguntavam . 

"Vejam bem", os monges respondiam” isso tem a ver com o que cremos". 

“Que interessante. Em que é que você crê?” vinham os questionamentos. 

 "Bem, nós sabemos que Deus é três em um , assim como esta cesta é uma cesta e ainda tem três alças", os monges poderiam responder. ("Informal Controlled” p. 8) 

Para Bailey, após a Queda de Jerusalém, houvera um colapso em estruturas de reprodução social de diversos povoados na Palestina, de forma se sentira necessidade de impetrar um maior controle formal sobre a tradição.

[3] tradição acadêmica fundamentada nos clássicos trabalhos de John Kloppenborg 

[4] Ver também Samuel Byrsokog “Jesus the Only Teacher”. Stockholm: Almqvist anda Wiksell, 1994.

[5] A reflexão de Lonergan quanto ao realismo crítico se dá no âmbito de um inquérito filosófico-teológico; ele afirma que o Realismo Crítico reconhece a distinção entre o mundo da experiência sensorial imediata e do mundo como mediado pelo significado (que é o mundo real), procurando conhecer o mundo sabendo que este conhecimento é mediado pelo significado.

Lonergan observa que "a mesma operação não só intenta um objeto, mas também revela um pretendido assunto", em que atentando para com o conhecimento, o conhecedor pode, de acordo com a própria estrutura do atentar, decidir "operar de acordo com as normas imanentes no relacionamento espontâneo do que foi vivido, compreendido, afirmado experimentar , compreender, julgar e decidir " ( Method in Theology, p. 15).

"É admitido que, uma vez que a verdade seja alcançada, é intencionalmente independente do sujeito que a alcançou: que é a auto-transcendente e meta da investigação. Mas o lar ontológico da verdade é o assunto. O objetivo não é alcançado à parte de um processo exigente, como a busca da verdade revela-se no indagar, transforma-se de indagação em indagação e de questionamento em resposta-questionamento, solicita reflexão sobre as respostas, e chega ao clímax no ato de julgar-se ser com certeza ou provavelmente verdadeira ou falsa. Todas estas são atividades do sujeito e não há objetividade sem todas elas. Verdade, decerto, amadurece na árvore do assunto, e a objetividade é o fruto da subjetividade na sua forma mais intensa e persistente" - Ben F. Meyer, ( Critical realism and the New Testament , pgs.139-140)

Esta [ i.e., o Realismo Crítico] é uma maneira de descrever o processo de "saber" que reconhece a realidade da coisa conhecida, como algo diferente do que é o conhecedor (daí o ‘realismo’), enquanto também reconhecendo plenamente que o único acesso que temos a esta realidade encontra-se ao longo do trajeto em espiral de diálogo adequado ou uma conversa entre o conhecedor e a coisa conhecida (daí o 'crítico’). Este caminho leva à reflexão crítica sobre os produtos do nosso inquérito sobre a ‘realidade’, para que nossas afirmações sobre ela reconheçam a sua própria provisoriedade. O conhecimento, em outras palavras, embora em princípio concebe a realidade independente da mediação do conhecedor, nunca é em si mesmo independente do conhecedor. - N.T.Wright, (The New Testament and the People of God, p. 35)

[6] O famoso erudito neotestamentário Charles H. Dodd realizou uma consistente arguição de que Atos 10, 34-43 constitui um quadro geral da pitoresca tradição narrativa oral de Pedro, em “Apostolic Preachings and it’s Developmens” (1944), abrindo um campo fecundo de pesquisa que ainda perdura entre os estudiosos, ainda que com variações de conclusões. Dentre este labor de identificar fontes de narrativas, quadros e tradições entre discípulos de Jesus, possuímos exemplos prolíficos e amplos, variando desde fontes entre mulheres, como Carla Ricci em “Mary Magdalene and Many Others: Women Who Followed Jesus”, 1994, em que, dentre outros postulados instigantes, vemos Joana (Lucas 8,3) como provável fonte, no material lucano (Atos e “L” em Lucas – além das complementações em materiais marcanos e em “Q” ou “Mateus” dependendo da teoria de fontes), no que se refere à corte e membros da corte herodiana; outros materiais derivariam de Tiago, como postulado por Bruce Chilton e Jacob Neusner em “The Brother of Jesus: James the Just and His Mission”, 2001.  

Fonte de referência, estudos e pesquisa:
 http://adcummulus.blogspot.com.br/

sábado, 2 de julho de 2016

Papa: Sobre esta pedra?



Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: …tu és Pedro [petros] e sobre esta pedra [petra] edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. – Mateus 16.16-18
Apascenta os meus cordeiros… Pastoreia as minhas ovelhas… Apascenta as minhas ovelhas”. – João 21.15-17
Após a confissão de fé de Pedro, ele [Cristo] determinou que sobre ele construiria a sua Igreja; a ele prometeu as chaves do reino dos céus… – Vaticano II 
Um papa infalível como sucessor de Pedro, que tem as chaves do reino do céu, sendo o vigário de Cristo? Antes foi a declaração arrogante de que a pompa e os poderes foram herdados de Constantino. Hoje afirma-se que a declaração de Cristo a Pedro fez dele o primeiro papa, a pedra sobre a qual “a única Igreja verdadeira” foi construída, e todos os que o seguiram nesse ofício têm sido seus sucessores, não importa a violência e as fraudes que usaram para consegui-lo, nem suas atitudes malignas. A autoridade que o papa possui hoje e a religião católica que ele lidera estão ancoradas sobre essa afirmação.
O papa é a Igreja Católica. Sem ele a Igreja não poderia funcionar e nem mesmo existir. Por isso é importante estudarmos esse assunto mais a fundo. Pouco importa o que o fiel católico comum pense ou faça. Mas as doutrinas e os feitos da hierarquia e principalmente dos papas continuam controlando a Igreja. É aí que o nosso foco deve estar, não na opinião de alguns católicos que dizem não acreditar na metade do que a Igreja ensina. (Essas pessoas não deveria se chamar “católicas”. Por que confiar numa Igreja para obter a salvação eterna se ela nem é digna de confiança em assuntos menos importantes?)
E que dizer da declaração de Cristo a Pedro: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja?”(Mateus 16.18). Os protestantes argumentam que existe um jogo de palavras no verso chave acima. No grego, “Pedro” é petros, uma pedrinha, enquanto “pedra” no grego é uma petra,como a rocha de Gibraltar, por exemplo. Uma petra tão imensa obviamente só poderia ser o próprio Cristo e a confissão de que Jesus é o Cristo, que Pedro acabara de fazer.
Os apologistas católicos modernos respondem que Cristo estava provavelmente falando em aramaico, o que elimina o jogo de palavras e deixa Pedro como a pedra sobre a qual a Igreja foi edificada. Essa posição, contudo, certamente nega uma das doutrinas básicas do catolicismo romano, a profissão de fé tridentina. Ela exige que todos os clérigos, a partir do papa Pio IV (1559-1565), aceitem a interpretação das Sagradas Escrituras somente de acordo com o consenso unânime dos Pais [da Igreja].
O Testemunho dos Pais da Igreja
Como os “Pais da Igreja” (líderes da Igreja até o papa Gregório, o Grande, que morreu em 604) interpretam esta passagem? Acontece que neste assunto em particular eles são unânimes em concordar com a posição dos protestantes. Nenhum deles interpreta essa passagem como os católicos são ensinados a entendê-la atualmente.
Para estar de acordo com o ensino unânime dos Pais da Igreja, um católico teria de rejeitar o dogma de que Pedro foi o primeiro papa, que ele era infalível e que transmitiu sua autoridade a sucessores. O historiador e católico devoto Von Dollinger lembra fatos inegáveis:
De todos os Pais que interpretam estas passagens nos Evangelhos (Mateus 16.18, João 21.17), nenhum as aplica ao bispo de Roma como sucessor de Pedro.Quantos Pais se ocuparam com estes textos, mas nenhum daqueles cujos comentários possuímos – Orígenes, Crisóstomo, Hilário, Agostinho, Cirilo, Teodoro e aqueles cujas interpretações são coletadas às centenas – têm sequer insinuado que o primado de Roma é a conseqüência da comissão e promessa feita a Pedro!
Nenhum deles explicou que a pedra ou fundamento sobre o qual Cristo construiria a sua Igreja seria o ofício dado a Pedro que devia ser transmitido aos seus sucessores, mas entenderam que se tratava do próprio Cristo ou da confissão de fé de Pedro sobre Cristo; muitas vezes afirmando que eram as duas coisas juntas.[2]
Em outras palavras, ao contrário do que a maioria dos católicos tem aprendido, os Pais da Igreja Católica Romana posicionaram-se unanimemente contra a interpretação católica atual. E é um católico devoto, uma autoridade da história eclesiástica e que ama a sua Igreja, quem aponta para esses fatos.
Outros historiadores católicos concordam com Von Dollinger. Peter de Rosa, também católico devoto, habilmente contesta a supremacia e a linha contínua de sucessão papal desde Pedro:
Pode ser um choque para eles [católicos] saber que os grandes Pais da Igreja não viam conexão alguma entre a declaração [Mateus 16.18] e o papa. Nenhum deles aplica “Tu és Pedro” a alguém mais senão a Pedro. Um após outro, todos analisaram-na: Cipriano, Orígenes, Cirilo, Hilário, Jerônimo, Ambrósio, Agostinho. E eles não são protestantes.
Nenhum deles chama o bispo de Roma de “pedra” ou aplica especificamente a ele a promessa das chaves do reino. Isso é tão surpreendente para os católicos, como se eles não pudessem encontrar menção alguma dos Pais sobre o Espírito Santo e a ressurreição dos mortos…
Para os Pais é a fé de Pedro – ou o Senhor em quem Pedro deposita sua fé – que é chamado de “pedra” e não Pedro. Todos os concílios da Igreja, de Nicéia, no século IV, ao de Constância, no século XV, concordam que o próprio Cristo é o único fundamento da Igreja, isto é, a pedra sobre a qual a Igreja se sustém.
…nenhum dos Pais fala de uma transferência de poder de Pedro aos que o sucederam …Não há indicação alguma de um ofício petrino permanente.
Então a Igreja primitiva não olhava para Pedro como bispo de Roma, nem, por conseguinte, pensava que todo bispo de Roma seria o seu sucessor… Os evangelhos não criaram o papado; porém o papado buscou apoio nos Evangelhos [mesmo que isso não seja possível].[3]
O fato dos papas durante séculos terem se baseado em documentos fraudulentos (A Doação de Constantino e os Falsos Decretos) para justificar sua pompa e poder, mesmo após terem sido expostos como deliberadas falsificações, mostra como esses “vigários de Cristo” não apreciavam a verdade. Também nos mostram que naqueles dias os papas não baseavam suas justificativas para a sua autoridade papal e a suposta sucessão apostólica desde Pedro em Mateus 16.18. Se isso ocorresse eles não precisariam de documentos falsos para autenticar sua posição. Tal aplicação para as palavras “Tu és Pedro” foi inventada muito mais tarde.
Quem é a Pedra?
A verdade sobre o assunto não depende da questionada interpretação de alguns versículos, mas sim da totalidade das Escrituras. O próprio Deus é claramente descrito como a “pedra” ou “rocha” infalível de nossa salvação através de todo o Antigo Testamento. (Deuteronômio 32.3,4; Salmo 62.1,2, etc.). Na verdade a Bíblia declara que Deus é a única pedra: “Pois quem é Deus, senão o SENHOR? E quem é rochedo, senão o nosso Deus?” (Salmo 18.31).
O Novo Testamento torna igualmente claro que Jesus Cristo é a pedra sobre a qual a Igreja é construída, e que Ele, sendo Deus e um com o Pai, é, portanto, a Pedra. Cristo e Seus ensinamentos (Mateus 7.24-29) são rocha onde o “homem prudente edifica a sua casa”, e não Pedro. O próprio apóstolo Pedro frisa que Cristo é a “pedra angular” sobre a qual a Igreja é construída (1 Pedro 2.6-8). E ele cita uma passagem do Antigo Testamento para enfatizar isso.
Paulo, do mesmo modo, chama Cristo “a pedra angular” da Igreja e declara que a Igreja também é edificada “sobre o fundamento dos [todos] apóstolos e profetas” (Efésios 2.20). Esta declaração nega claramente que Pedro tenha uma posição especial no fundamento da Igreja.
Pedro Não Recebeu Promessa Alguma
Quando Cristo deu a Pedro “as chaves do reino dos Céus” (Mateus 16.19), Ele explicou o que aquilo significava: “o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus”. A mesma promessa foi renovada a todos os discípulos em Mateus 18.18, assim como em João 20.23, com a especial aplicação, neste contexto, ao perdão de pecados.
A chave para ligar e desligar e remir ou reter pecados foi claramente dada a todos, não só a Pedro. Portanto, não é certo afirmar que Pedro tinha poder e autoridade especial sobre os demais apóstolos. Tal conceito não se encontra em parte alguma do Novo Testamento e era desconhecido mesmo para a Igreja Católica Romana até alguns séculos mais tarde. A Pedro foi dado o privilégio especial de pregar o Evangelho, primeiro aos judeus (Atos 2.14-41) e depois aos gentios (Atos 10.34-48), mas ele não recebeu nenhuma autoridade especial.
Os apologistas católicos alegam que as palavras de Cristo a Pedro em João 21.15-47 (“apascenta meus cordeiros”, “pastoreia as minhas ovelhas”) deu-lhe autoridade única. Pelo contrário, o próprio Pedro aplicou esse mandamento a todos os anciãos (1 Pedro 5.2) do mesmo modo que Paulo fez (Atos 20.28). Novamente é Von Dollinger quem nos informa:
Nenhuma das antigas confissões de fé, nenhum catecismo, nenhum dos escritos patrísticos, que visavam instruir o povo, contém uma sílaba sequer sobre o papa, nem sequer uma indicação mínima sobre o fato de toda certeza da fé e doutrina depender dele…
Os Pais da Igreja nem ao menos puderam reconhecer no poder das chaves, e no poder de ligar e desligar, qualquer prerrogativa ou senhorio do bispo de Roma, tanto mais que – o que à primeira vista fica óbvio para qualquer um – eles não viram um poder dado primeiramente a Pedro, e em seguida repetindo precisamente as mesmas palavras a todos os apóstolos, como algo que fosse peculiar a ele, ou uma herança para a linhagem dos bispos de Roma, e eles usavam o símbolo das chaves significando exatamente o mesmo que a expressão figurada de ligar e desligar…
O poder das chaves ou de ligar e desligar, foi universalmente reconhecido como pertencente a outros bispos, tanto quanto ao bispo de Roma.[4]
Nenhum Poder Especial Foi Dado a Pedro
A autoridade especial que tem sido alegada pelos papas católicos romanos, que afirmam ser os supostos sucessores de Pedro, jamais foi exercida por Pedro. Em suas epístolas o apóstolo exorta seus iguais; não dá ordens a subordinados. “Aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles…” (1 Pedro 5.1). Ele não oferece base em seus escritos para nenhuma posição ou poder eclesiástico oficial e exaltado. Pedro declara ser simplesmente “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (1 Pedro 5.1) junto com todos os apóstolos, que foram “testemunhas oculares da sua majestade” (2 Pedro 1.16). Ele não faz uma única afirmação em seu favor, simplesmente se coloca entre os outros apóstolos.
A reunião de “apóstolos e anciãos” em Jerusalém por volta de 45-60 d.C. descrita em Atos 15.4-29 foi organizada por iniciativa de Paulo, não de Pedro. (Não foi “o primeiro Concílio da Igreja”, como alguns afirmam. Não havia hierarquia na Igreja, nenhuma delegação de fora, todos os presentes residiam em Jerusalém.) Além do mais, foi Tiago, e não Pedro, quem parece ter tomado a liderança. Conquanto Pedro tenha feito uma declaração importante, ela não foi doutrinária, sendo apenas um resumo de sua experiência ao levar o Evangelho primeiro aos gentios. Tiago, contudo, discorreu sobre as Escrituras e argumentou sobre um ponto de vista doutrinário. Além do mais, foi Tiago quem disse: “Pelo que julgo eu… [meu veredito é]” (Atos 15.19) e sua declaração tornou-se a base da carta oficial enviada a Antioquia.
Não há evidências de que Pedro tenha intimidado os outros, mas Tiago o intimidou. O temor de Tiago e sua influência e liderança levaram Pedro a se voltar à tradicional separação dos gentios. Como resultado, Paulo, que escreveu muito mais do Novo Testamento do que Pedro, e cujo ministério foi muito mais abrangente, censurou Pedro publicamente por seu erro (Gálatas 2.11-14). Certamente Pedro não agia como papa, nem era tratado assim pelos outros.
Os Verdadeiros Sucessores dos Apóstolos
Cristo mandou que os apóstolos fizessem discípulos através da pregação do Evangelho. Ele acrescentou que cada pessoa que cresse no Evangelho deveria ser ensinada a obedecer a todas as coisas que Ele havia ensinado. A declaração: “ensinando-os [aos discípulos que se converterão] a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mateus 28.20), não pode ser atribuída exclusivamente a uma liderança hierárquica. Esperava-se que todos aqueles que se tornaram discípulos de Cristo através da pregação dos discípulos originais obedecessem a tudo que Cristo havia ordenado aos apóstolos. Para que pudessem fazer tudo que os 11 foram comissionados, cada discípulo comum precisava ter a mesma autoridade e o mesmo poder procedentes de Cristo que os apóstolos tinham.
Quaisquer que tenham sido os mandamentos e poderes que os apóstolos receberam de Cristo, eles foram passados a todos os que creram no Evangelho (ou seja, seus próprios discípulos), os quais, por sua vez, ensinaram esses mandamentos aos seus conversos, e assim por diante, até o presente. Portanto fica evidente que não somente uma classe especial de bispos, arcebispos, cardeais, papas ou um Magistério, são sucessores dos apóstolos, mas todos os cristãos.
A história da Igreja primitiva apresentada no Novo Testamento diz isso. Os apóstolos obedeceram ao que Cristo mandou: fizeram discípulos aos milhares e ensinaram a eles todos os mandamentos de Cristo; e o próprio Cristo, do céu, capacitava seus novos discípulos para desempenharem esta grande comissão. Os cristãos se multiplicaram e as igrejas foram estabelecidas em todo o Império Romano.
Não havia catedrais. A igreja local se reunia nas casas. Sua liderança era um grupo de anciãos piedosos, mais velhos e maduros na fé e que viviam vidas exemplares. Não havia hierarquia, nem local ou tampouco sobre um território maior, que tivesse de ser obedecida por causa de seu ofício ou título. Não havia classe seleta de sacerdotes que possuísse autoridade especial para agir como intermediária entre Deus e o povo. Isso se aplicava ao sacerdócio judaico, que era uma sombra das coisas que haveriam de vir (Hebreus 7.11-28; 10.1-22) mas tornou-se terrivelmente corrupto e teve seu fim no sacrifício feito na cruz.
Todos os crentes foram encorajados a orar e profetizar nas reuniões da Igreja. Paulo deixou isto bem claro: “Quando vos reunis [como Igreja], um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação. No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois, ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete… Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro [a fim de que o outro fale]. Porque todos podereis profetizar um após outro, para todos aprenderem e serem consolados… Portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais o falar em outras línguas” (1 Coríntios 14.26-40).
Não Havia uma Classe de Elite
Nenhuma das promessas de Cristo aos apóstolos foi somente para eles ou para uma classe de elite. Por exemplo: “Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa, que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus” (Mateus 18.19). “Tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei…” (João 14.13) e novamente: “Se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome” (João 16.23). Todos os cristãos que crêem na Bíblia oram em nome de Cristo, embora a promessa tenha sido dada ao Seu círculo íntimo de apóstolos. Todos os católicos tomam o pão e o vinho na missa, mesmo que Cristo tenha dito a todos os apóstolos: “Fazei isto em memória de mim” (Lucas 22.19).
Está claro que tudo o que Cristo determinou a seus amigos mais chegados se aplicava a todos os convertidos e a todos os cristãos de hoje. Isso quer dizer que se dois cristãos concordarem sobre alguma coisa em oração esta lhes será concedida, ou que tudo o que um cristão pedir ao Pai, em nome de Cristo, lhe será dado? Sim. Então, por que nem toda oração é respondida? Todas elas são respondidas, mas para algumas a resposta é “não” e para outras, “mais tarde”. O “nome” de Cristo não é uma fórmula mágica, que, se adicionada à oração, assegura uma resposta automática positiva. Pedir em Seu nome significa pedir como Ele pediria, para Sua honra e glória, não para a nossa.
Nesse ponto a Igreja tem decepcionado tremendamente os católicos sinceros. Cada oração que um padre católico faz não é respondida automaticamente mais do que aquelas feitas pelos católicos comuns, ministros protestantes ou leigos. Isso é obvio. Ainda assim diz-se que um membro do clero católico tem um poder especial sobre qualquer coisa que ele pronunciar usando o nome de Cristo – o que for ligado ou desligado, ou o perdão de pecados – ocorre automaticamente. Não é assim. É desonesto dizer que o desligamento do pecado (que não pode ser verificado) ocorre a cada vez que o sacerdote o pronuncia, se desligar da doença ou do débito (algo que pode ser verificado) raramente acontece quando ele pronuncia o desligamento.
A implicação é clara: qualquer coisa que se obtenha através da oração ao Pai em nome de Cristo, ou qualquer graça obtida quando dois cristãos concordam, ligar e desligar ou perdoar pecados, não acontecem automaticamente, pela mera expressão de uma fórmula, mas é feito somente através de Cristo trabalhando por meio de vasos escolhidos, quando, onde e como Lhe agrada.
Nenhuma dessas promessas era cumprida automaticamente, sob a direção única de Pedro ou qualquer um dos outros apóstolos. Nem são concedidas instantaneamente a um membro da Igreja Católica Romana ou de qualquer hierarquia religiosa. Esses dogmas falsos têm posto aqueles que acreditam neles sob o poder de Roma, levando-os a procurar num sacerdote aquilo que é a herança de todo discípulo verdadeiro de Cristo.
Os Tiranos do Passado e o Magistério de Hoje
O grande apóstolo Paulo escreveu que desde que os governantes civis não ordenem algo contrário à vontade Deus, todo cristão, inclusive os próprios apóstolos, devem obedecer suas ordens (Romanos 13.1-7). Devemos orar “pelos reis e por todos os que estãoinvestidos de autoridade” (1 Timóteo 2.1-3). Todos os cristãos devem estar sujeitos “aos que governam, às autoridades…” (Tito 3.1).
Paulo escreveu aos cristãos: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei como soberano, quer às autoridades como enviadas por ele…” (1 Pedro 3.13-14). Os papas ensinaram exatamente o contrário: que eles eram os supremos soberanos e que somente suas leis deveriam ser obedecidas, inclusive pelos reis. A submissão total que Roma exige tem sido expressa por muitos papas, mas nenhum deles as expressou mais claramente do que Nicolau I (858-867):
É evidente que os papas não podem estar ligados nem tampouco sujeitos aos poderes terrenos, nem mesmo aos do apóstolo [Pedro], se ele voltasse à terra; desde que Constantino, o Grande, reconheceu que os pontífices representam o poder de Deus na terra, a divindade não pode ser julgada por nenhum homem. Somos, portanto, infalíveis, e quaisquer que sejam nossos atos, não precisamos prestar contas deles a ninguém mais do que a nós mesmos.[5]
Fica claro, tanto na história como nos dogmas oficias da Igreja ainda vigentes, que Nicolau não estava expressando apenas o seu fanatismo, mas a visão de todos os papas, que acabou se tornando a doutrina católica. Conforme o Vaticano II, a ninguém é permitido sequer questionar o Magistério em assuntos de fé e moral. Somente a hierarquia pode interpretar a Bíblia, e os fiéis devem aceitar essa interpretação como se fosse vinda do próprio Deus. Todos devem obedecer ao papa, mesmo quando ele não fala ex catedra. Tais exigências de fé cega são vestígios atuais da atuação tirânica dos papas através dos séculos.
O Fracasso do “Primeiro Papa”
Se as palavras de Cristo a Pedro em Mateus 16.18 fizeram dele o primeiro papa infalível, então temos outro problema sério. As palavras seguintes na boca de Pedro negam o cerne do Evangelho cristão ao declarar que Cristo não precisava ir até a cruz: “…Tem compaixão de ti, Senhor; isso [a morte na cruz] de modo algum te acontecerá” (Mateus 16.22). Ao que o Senhor respondeu imediatamente: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das obras dos homens” (Mateus 16.23). Esta foi a primeira declaração ex catedra de Pedro a toda a Igreja (conforme registra a Bíblia) em matéria de fé e moral (ela tem a ver com o meio de salvação) – e não era infalível, mas pura heresia!
No próximo capítulo Pedro comete um erro sério, com outro pronunciamento herético. Ele coloca Cristo no mesmo nível de Moisés e Elias: “Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias” (Mateus 17.4).Desta vez é o próprio Deus quem censura, do céu, o “novo papa”: “Este é o meu Filho amado em quem me comprazo; a ele ouvi” (v. 5).
Mais tarde, temendo por sua vida, Pedro nega, pragueja e jura não conhecer Jesus – novamente uma declaração de “fé e moral” a toda a Igreja que nega o próprio Cristo. Mesmo se os papas fossem seus sucessores, Pedro dificilmente poderia ter-lhes passado uma infalibilidade que, obviamente, não possuía.
Base Bíblica para a Infalibilidade?
Hans Küng, teólogo católico contemporâneo, disse: “A principal prova citada pelo Vaticano I para a infalibilidade papal, Lucas 22.32 (“Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”), jamais foi usada, nem mesmo pelos canonistas medievais, para documentar esse dogma – o que é correto. Nessa passagem Jesus não prometeu a Pedro que este não erraria mais, porém deu-lhe a graça de perseverar na fé até o fim”.[6] Von Dollinger concorda plenamente:
Todos conhecem a clássica passagem da Escritura sobre a qual o edifício da infalibilidade papal tem se escorado “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça, tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (Lucas 22.32). Essas palavras referem-se especificamente a Pedro, à sua negação de Cristo e sua conversão…
É totalmente contrário ao sentido original da passagem… encontrar nela uma promessa de infalibilidade futura a uma sucessão de papas… Até o final do século XVII nenhum escritor sonharia com tal interpretação; todos eles, sem exceção – num total de 18 – explicam-na apenas como uma oração de Cristo para que o seu apóstolo não sucumbisse e perdesse inteiramente a sua fé na prova que teria de enfrentar em breve.[7]
Muitos outros eminentes historiadores e teólogos católicos poderiam ser citados do mesmo modo. Peter de Rosa acrescenta sua própria visão:
De acordo com os Pais [da Igreja], Pedro não tinha sucessor algum. Eles viam todos os bispos como sucessores dos apóstolos, não um bispo sucedendo um apóstolo apenas, neste caso, Pedro. Logo, eles não poderiam sequer ter aceito a alegação de que “o sucessor de Pedro” deveria dirigir a Sé em Roma.
Também já vimos que todas as declarações de doutrina, especialmente os credos, não vieram dos papas, mas dos concílios. Nos primeiros séculos jamais ocorreu aos bispos de Roma que eles pudessem definir doutrinas para toda a Igreja.[8]
Pedras Instáveis
Depois de ter prometido a Cristo na última ceia que preferia morrer a negá-lo, Pedro fez exatamente o contrário. “Então, começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem!” (Mateus 26.74). Essa é uma negação completa do próprio Cristo e do cristianismo como um todo. Pedro era uma “pedra” muito instável para Cristo ter construído sobre ele a sua Igreja! Porém seus supostos sucessores foram culpados de coisas ainda piores.
Já mencionamos uma porção deles. Consideremos brevemente mais um exemplo: o papa Júlio II (1503-1513), sifilítico e infame mulherengo, pai de inúmeros bastardos. Ele comprou sua posição no papado. Durante a Quaresma, enquanto os bons católicos faziam dietas rigorosas, ele se deleitava com ricas iguarias. Usando sua armadura, Júlio muitas vezes conduziu pessoalmente seus exércitos para a conquista de cidades e territórios, com o objetivo de expandir os Estados papais. Como poderia ser ele o vigário de Cristo, que afirmou que o Seu reino não era deste mundo e que por isso os Seus súditos não lutariam? Dizer tal coisa é zombar de Cristo e de Seus ensinos.
Sucessores de Imperadores
Lembre-se que nos primeiros tempos da Igreja a infalibilidade não era atribuída ao bispo de Roma, mas ao seu superior, o imperador. O papa Leão I (440-461), por exemplo, concedeu a um imperador incrédulo a mesma infalibilidade que Pio IX persuadiu os membros do Vaticano I a declararem ter sido sempre o poder exclusivo dos papas. Leão I disse: “Pela inspiração do Espírito Santo o imperador não necessita de instrução humana e é incapaz de cometer erros doutrinários”.[9]
O rasgado louvor que transcrevemos a seguir soa como aquele que hoje é dado aos papas, mas trata-se de um discurso de Eusébio, honrando o imperador pagão Constantino depois que este assumiu a liderança da Igreja:
Deixemos, então, que apenas o Imperador… seja declarado digno… livre… estando acima da sede de riquezas, superior ao desejo sexual… que dominou as paixões que sobrecarregam o restante dos homens; cujo caráter é formado conforme o original divino do Supremo Soberano, e cuja mente reflete, como num espelho, a radiação de Suas virtudes. Além disso, o nosso imperador é perfeito em prudência, bondade, justiça, coragem, piedade, devoção a Deus…”[10]
Esse louvor era apenas para o imperador, que o colocava acima do bispo de Roma, o qual lhe era subordinado. Assim, Constantino chamou a si mesmo “bispo dos bispos”. Hoje os papas que ostentam os títulos de Constantino e desfrutam de suas regalias são seus legítimos sucessores e não os sucessores de Pedro. O historiador Will Durant mostra que “durante a duração de seu reinado, ele [Constantino] tratava seus bispos como auxiliares políticos; os convocava, presidia seus Concílios e concordava em apoiar qualquer opinião que a sua maioria formulasse”.[11]
A doutrina nada significava para Constantino – apenas que os bispos deveriam concordar com ele pelo bem da unidade imperial. Peter de Rosa cita um bispo do século IV: “A Igreja [naquele tempo] fazia parte do Estado”. Ele continua explicando:
Mesmo o bispo de Roma – que não foi chamado de “papa” por muitos séculos – era, em comparação [com Constantino], uma pessoa sem importância. Em termos civis, era um vassalo do imperador; em termos espirituais, quando comparado a Constantino, era um bispo de segunda classe…
Não o papa, mas ele [Constantino], assim como Carlos Magno mais tarde, era o cabeça da Igreja, sua fonte de unidade, diante de quem o bispo de Roma tinha de se prostrar e declarar lealdade. Todos os bispos concordavam que ele [o Imperador] era o “oráculo inspirado da sabedoria da Igreja”.
Portanto, era Constantino e não o bispo de Roma quem ditava o tempo e o local dos sínodos da Igreja e até mesmo estipulava como os votos seriam dados. Sem a sua aprovação, eles não seriam legalizados; ele era o único legislador do Império.[12]
A Herança Pagã do Papado
A idéia de um Concílio da Igreja foi inventada por Constantino, o qual, apesar de sua professa “conversão” a Cristo, continuou sendo pagão. Ele jamais renunciou à sua lealdade aos deuses pagãos, jamais aboliu o altar pagão de Vitória, no Senado, nem o das virgens Vestais; e o deus-Sol, não Cristo, continuou a ser honrado nas moedas imperiais. Ele só foi batizado pouco antes de sua morte, e mesmo assim, por Eusébio, um sacerdote ariano herege. Durant nos revela que durante toda sua vida “cristã” Constantino usava tanto os ritos pagãos como os cristãos e continuava a confiar em “fórmulas mágicas para proteger as colheitas e curar doenças”.[13]
O fato de Constantino ter assassinado todos os que pleiteavam o seu trono [notoriamente seu filho Crispo, um sobrinho e um cunhado] é uma evidência ainda maior que sua “conversão” ao cristianismo era, como têm sugerido os historiadores, uma astuta manobra política. O historiador e padre católico Philip Hughes nos lembra: “Em seus atos, ele [Constantino] permaneceu sendo até o final de sua vida o mesmo pagão de sempre. Seus ataques de fúria, a crueldade que, uma vez despertada, não poupava nem a vida de suas esposas e filhos, são… um desagradável testemunho da imperfeição de sua conversão”.[14]
Os três filhos “cristãos” de Constantino (Constantino II, Constâncio II e Constanço), asseguraram, após a morte de seu pai, a posse de suas regiões separadas do império depois de um massacre implacável da família. Eles conseguiram levar a “cristianização” do Império a um patamar ainda maior. Foram eles, (e não Pedro) os antecessores dos papas da atualidade.
Como já foi dito, Constantino convocou, estabeleceu o que seria discutido, fez o discurso de abertura e desempenhou um papel proeminente no primeiro Concílio Ecumênico da Igreja, o Concílio de Nicéia, e também em uma porção de concílios, assim como faria Carlos Magno, 500 anos depois. Tendo em vista que os imperadores convocavam os concílios, não é de admirar que nenhum dos que foram realizados nos primeiros 1000 anos tenha reconhecido o bispo de Roma como cabeça da Igreja.
Cristo exemplificou a humildade e serviço aos outros. Ele disse aos Seus discípulos: “Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve” (Lucas 22.25-26). Esquecendo essa admoestação, os papas imitaram os imperadores pagãos, de quem herdaram sua posição e poder.
Cristo também condenou a posição autoritária exercida pelos rabinos em Seus dias. Suas palavras aos líderes da religião judaica são deveras apropriadas à hierarquia católica romana:
Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus…
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia… por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade” (Mateus 23.6-9; 27-28).
Notas
  1. Austin Flannery, O.P., (editor geral), Vatican Council II: The Conciliar and Post Conciliar Documents (Costello Publishing, 1988, Revised Edition) vol 1, p. 454.
  2. J. H. Ignaz von Dollinger, The Pope and the Council (London, 1869), p. 74.
  3. Peter de Rosa, Vicars of Christ: The Dark Side of the Papacy (Crown Publishers, 1988), pp. 24-25.
  4. Dollinger, op. cit., pp. 53, 66, 74.
  5. Cormenin, History oft he Popes, p. 243, citado em R.W. Thompson, The Papacy and the Civil Power (New York, 1876), p. 248.
  6. August Bernhard Hasler, How the Pope Became Infallible (Doubleday & Co., Inc., 1981), p. 8 da introdução.
  7. Dollinger, op. cit., pp. 65-66.
  8. De Rosa, op. cit., p. 250.
  9. H. Chadwick, The Early Church (Wm. B. Eerdmans, 1976), p. 245.
  10. Eusebius, Oration on the Tricennalia of Constantine, 5.4.
  11. Will Durant, The Story of Civilization (Simon and Schuster, 1950), Part III “Caesar and Christ, p. 656.
  12. De Rosa, op. cit., p. 43.
  13. Durant, op. cit., Part III, p. 656.
  14. Philip Hughes, A History of the Church (London, 1934), vol. 1, p. 198.
  15. Fonte de referência, estudos e pesquisa: (Dave Hunt - http://www.chamada.com.br)

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