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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

EUNUCOS POR CAUSA DO REINO DOS CÉUS...

EUNUCOS POR CAUSA DO REINO DOS CÉUS: REFLEXÕES SOBRE O CELIBATO CLERICAL À LUZ DA HISTÓRIA DA IGREJA

Um dos temas mais discutidos na Igreja Católica nas últimas décadas tem sido a questão do celibato obrigatório de seus religiosos. A ausência de um claro fundamento bíblico para essa prática e a grande falta de sacerdotes para dar assistência aos fiéis católicos têm levado um número crescente de pessoas, tanto leigos quanto religiosos, a reivindicarem uma mudança dessa norma restritiva. Muitos católicos olham para os clérigos ortodoxos e para os pastores protestantes e constatam que o fato de eles se casarem não constitui um entrave para o seu trabalho pastoral. Todavia, os pontífices romanos consistentemente têm se pronunciado de modo contrário a essa reconsideração. A questão do celibato é importante porque está ligada a outros temas fundamentais, como o significado cristão do ministério, da sexualidade, do casamento e da família.

1. Considerações preliminares

O celibato clerical relaciona-se com dois fenômenos que se manifestaram no cristianismo a partir do período antigo: o ascetismo e o monasticismo. À medida que a Igreja foi se tornando majoritária no mundo greco-romano, com o conseqüente declínio dos seus padrões espirituais e éticos, surgiu no íntimo de muitos cristãos o anseio por uma vida mais disciplinada e consagrada a Cristo. Essa aspiração intensificou-se a partir do quarto século, numa reação contra o aumento do poder, riqueza e opulência da instituição eclesiástica resultante das suas ligações com o estado romano. Eventualmente, surgiu o entendimento de que havia duas categorias de cristãos: aqueles que se contentavam com uma vida espiritual inferior e aqueles que aspiravam à perfeição (Mt 19.21).

A ascese ou autodisciplina cristã inspirou-se tanto nas Escrituras quanto na cultura e filosofia gregas. A vida celibatária de João Batista, Jesus e Paulo, bem como certas afirmações destes últimos preservadas no Novo Testamento, exerceram forte influência sobre muitas mentes. Jesus afirmou que alguns indivíduos recebem o dom de se tornarem “eunucos” – renunciar ao casamento – por causa do reino dos céus (Mt 19.11-12) e Paulo recomendou que as pessoas dessem preferência ao estado em que ele mesmo vivia (1 Co 7.8). Além disso, o dualismo platônico tão arraigado na mentalidade grega, com a sua distinção entre espírito e matéria (e a tendência de valorizar aquele em detrimento desta), também contribuiu para certas ênfases dadas à vida religiosa.

Os ascetas e os monges foram vistos como os continuadores da antiga e gloriosa tradição do martírio. Eles eram os “mártires vivos” que, com a sua renúncia aos prazeres da carne podiam de maneira mais livre e desimpedida dedicar-se ao serviço de Deus. Essa renúncia era considerada especialmente significativa na área da sexualidade e desde cedo na história da Igreja houve a tendência de se valorizar extraordinariamente a virgindade e a castidade como condições que contribuíam de modo singular para a vida de santidade. Um bom exemplo dessa preocupação pode ser visto nos escritos de Tertuliano, que viveu em torno do ano 200. É digno de nota que, ao fazerem isso, tais cristãos afastavam-se de uma ampla corrente de ensinos bíblicos, inclusive neotestamentários, que apontavam em uma direção oposta – a valorização do casamento e da vida em família, inclusive para os líderes da Igreja (ver Mt 8.14; 1 Co 9.4-5; 1 Tm 3.1-5; Tt 1.5-6).

2. A institucionalização do celibato

Apesar desses ensinos, a partir do segundo ou do terceiro século surgiu o entendimento de que o celibato era uma condição preferível para os líderes da Igreja. No quarto século, quase todos os bispos da Grécia, Egito e Europa ocidental eram solteiros ou, se casados, costumavam deixar as suas esposas após a consagração episcopal. Todavia, os sacerdotes e diáconos se casavam, não havendo nos primeiros séculos nenhuma lei que proibisse o casamento do clero. Eventualmente, os dois grandes setores da Igreja – oriental e ocidental – desenvolveram normas diferentes quanto ao celibato.

Na Igreja Grega ou Oriental, surgiram leis nos séculos sexto e sétimo proibindo expressamente o casamento dos bispos e determinando que, se já haviam se casado previamente, a esposa devia ser enviada para um convento distante. Todavia, as ordens inferiores do clero tinham permissão de casar-se, prática essa que continua a ser seguida até o presente. Ironicamente, a Igreja ocidental, em teoria menos influenciada pelo dualismo platônico do que a sua congênere grega, acabou adotando normas mais rígidas quanto ao celibato, impondo-o a todos os religiosos, inclusive ao clero inferior. Parece que isso resultou mais de considerações práticas do que propriamente teológicas.

No Ocidente, o celibato tornou-se uma obrigação canônica para o clero através dos esforços combinados de papas e concílios regionais. A mais antiga estipulação sobre o assunto, o cânone 33 do Concílio de Elvira, na Espanha (por volta do ano 305), declara o seguinte: “Decretamos que todos os bispos, sacerdotes e diáconos, e todos os clérigos envolvidos com o ministério, sejam totalmente proibidos de viverem com esposas e gerarem filhos. Quem assim o fizer será deposto da dignidade clerical”. Pouco tempo depois, o bispo Ósio de Córdova tentou sem sucesso fazer com que esse decreto fosse aprovado pelo Concílio de Nicéia (325). Isso acabou sendo feito por vários bispos de Roma nos séculos quarto e quinto – Dâmaso, Sirício, Inocêncio e Leão – que, mediante decretais, impuseram ao clero o celibato compulsório. Na África, França e Itália, alguns concílios regionais emitiram decretos no sentido de assegurar essa prática.

3. A experiência medieval e a Reforma

Em todas as épocas da história da Igreja, a observância do celibato, e especialmente da castidade pressuposta pelo mesmo, foi desrespeitada com maior ou menor intensidade. Um dos períodos em que isso ocorreu de modo mais acentuado foi após a queda do império de Carlos Magno, nos séculos nono e décimo. Nessa época, em certos casos os próprios papas tiveram esposas e filhos, alguns dos quais ocuparam posições de destaque na administração da Igreja. Entre o clero inferior, o casamento, ou pelo menos o concubinato, tornou-se bastante comum, o que não significava que esses clérigos viviam vidas imorais. Muitos deles eram homens honrados que tinham as suas famílias e ao mesmo tempo serviam à Igreja.

Ao mesmo tempo, com a fundação do célebre mosteiro de Cluny, na França central, em 909, surgiu um movimento voltado para a reforma moral e administrativa da Igreja que teve entre seus principais objetivos a luta contra a “simonia”, isto é, a compra e venda de cargos eclesiásticos, e o “nicolaísmo”, ou seja, o casamento clerical. Esse movimento chegou ao seu ápice no pontificado de Hildebrando ou Gregório VII (1073-1085), que se esforçou tenazmente para restaurar o ideal monástico do celibato, visto como algo muito útil para os interesses da Igreja. Ele e outros papas reformadores tornaram o celibato clerical mais amplamente aceito na Igreja ocidental do que jamais havia sido.

Os reformadores protestantes, com sua ênfase na precedência das Escrituras em relação à tradição eclesiástica, rejeitaram o celibato compulsório por considerá-lo carente de fundamentação bíblica. Os principais reformadores, homens como Lutero, Zuínglio e Calvino, eventualmente se casaram, sem que isso em nada tenha prejudicado o seu trabalho como líderes religiosos. Refletindo sobre essa nova realidade, o historiador Steven Ozment observou que “nenhuma mudança institucional produzida pela Reforma foi mais visível, mais sensível aos clamores de reforma do final da Idade Média e mais responsável por novas atitudes sociais do que o casamento dos clérigos protestantes. Também não houve outro aspecto do programa protestante em que a teologia e a prática se harmonizaram com maior êxito”. O casamento, inclusive dos ministros de Deus, foi visto não somente como uma afirmação da dádiva divina da sexualidade, mas acima de tudo como o contexto para a criação de uma nova consciência da comunidade humana, com todas as suas dores e alegrias. Como parte da Contra-Reforma e da reforma católica, o Concílio de Trento (1545-1563) reafirmou o celibato clerical, mas declarou que o mesmo era imposto ao clero pela lei da Igreja, e não pela lei de Deus.

4. A Igreja brasileira

Em virtude do fenômeno conhecido como padroado, no período colonial e no Império, a Igreja Católica brasileira foi fortemente controlada pelo Estado, recebendo relativamente pouca influência de Roma. Os papas tiveram muita dificuldade em aplicar no Brasil as normas da lei canônica, inclusive no que se refere ao celibato dos sacerdotes. Essa restrição, aliada ao ambiente cultural permissivo dos trópicos, contribuiu para que muitos padres “seculares” (isto é, não filiados a ordens religiosas) tivessem suas companheiras e filhos, não somente nas cidades, mas também no ambiente patriarcal dos engenhos de açúcar. Preocupado com essa situação constrangedora, Diogo Antônio Feijó, um sacerdote liberal que ocupou altos cargos na administração do Império na década de 1830, quando deputado em São Paulo chegou a propor que aquela província autorizasse o casamento clerical e escreveu um tratado sobre essa questão.

No longo pontificado de Pio IX (1846-1878), Roma foi assumindo gradativamente um maior grau de controle sobre a Igreja brasileira. Todavia, por um bom tempo uma parcela do clero secular continuou arredia à aceitação do celibato. É muito interessante a esse respeito o testemunho do Rev. John Boyle, um missionário presbiteriano pioneiro que trabalhou por cerca de dez anos no Triângulo Mineiro e em Goiás. Em 1888, ele esteve em uma cidade goiana no dia em que se casou a filha do padre local. O missionário soube que o casamento foi oficiado pelo vigário vizinho e que os dois velhos sacerdotes sempre batizavam e casavam os filhos um do outro. E esse caso não era excepcional. Em toda a região e em todo o país multiplicavam-se os casos de padres amancebados, variando a atitude dos bispos em relação aos mesmos.

Foi somente algumas décadas após a Proclamação da República, com a revitalização da Igreja Católica brasileira e sua maior submissão a Roma, que o celibato clerical passou a ser amplamente exigido e observado. Isso agravou um problema: o número relativamente pequeno de vocações para o sacerdócio, visto que não muitos jovens estavam dispostos a abrir mão da possibilidade de se casarem. Essa foi uma das razões pelas quais sempre houve no Brasil, “o maior país católico do mundo”, um número desproporcional de sacerdotes estrangeiros.

Historicamente, a imposição forçada do celibato aos sacerdotes tem causado grandes problemas para a Igreja Católica, como os numerosos casos de pedofilia noticiados pela imprensa nas últimas décadas, tanto no Brasil como em outros países. Isso sem contar os casos que não vêm a público, por diferentes razões. A Igreja Romana precisa ter a sensibilidade pastoral para entender que muitos indivíduos possuidores de uma vocação religiosa não possuem concomitantemente o dom da vida celibatária. Já que a própria Igreja reconhece que essa norma é uma lei da Igreja, e não uma lei de Deus, seria sensato tornar o celibato uma condição opcional para os seus sacerdotes e freiras, embora seja inegável que o peso da tradição e da história milita fortemente contra essa possibilidade.

Perguntas para reflexão:

1. O Novo Testamento admite o celibato voluntário como opção legítima para alguns cristãos? Em que circunstâncias?
2. Por que não aceitar o celibato compulsório, visto que parece contribuir para uma vida de maior disciplina e dedicação a Deus?
3. O celibato não seria um mal menor quando se considera a permissividade sexual e as altas taxas de divórcio no mundo contemporâneo?
4. O que a insistência no celibato e na castidade pode indicar em relação à sexualidade, ao casamento e à família?
5. Se os padres fossem livres para se casar, isso seria bom para a Igreja Católica?

Sugestões bibliográficas:

· DALARUN, Jacques. Amor e celibato na igreja medieval. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
· OLIVER JR., O. G. Celibato. Em ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1988-1990. Vol. I, p. 270s.
· RANKE-HEINEMANN, Uta. Eunucos pelo reino de Deus: mulheres, sexualidade e a igreja católica. Rosa dos Tempos, 1996.

domingo, 1 de dezembro de 2013

O CRISTIANISMO E O ISLAMISMO NO OCIDENTE MEDIEVAL

Objetivo geral

Permitir uma reflexão sobre a relação entre o Cristianismo e o Islamismo durante o processo de difusão deste último no Ocidente Medieval.

Objetivos específicos
- Destacar a importância do tema para o conhecimento do período medieval.
- Acompanhar o processo de formação das duas religiões, traçando diferenças e semelhanças do ponto de vista teológico.
- Mostrar as explicações para os conflitos que marcaram uma fase importante da Idade Média - as Cruzadas.
- Destacar o papel das Cruzadas no sentido de impedir uma maior influência islâmica no Ocidente.
- Ressaltar a contribuição árabe/muçulmana em países como Espanha e Portugal.

1. Conceitos introdutórios
As religiões "mundiais" (antigas religiões históricas) e sua importância. Tiveram origem em três regiões da Ásia:
- Oriente Médio - judaísmo, cristianismo e islamismo;
- Índia - hinduísmo, budismo, jainismo e sikhismo;
- Extremo Oriente - confucianismo, taoísmo e xintoísmo.

As religiões monoteístas do Oriente Próximo:
- Convergências e divergências; continuidades e descontinuidades;
- Judaísmo e cristianismo;
- Judaísmo e islamismo;
- Cristianismo e islamismo.

Periodização: a interação mais importante entre o cristianismo e o islamismo coincidiu com o período medieval (desde uma perspectiva ocidental). Períodos da história do Ocidente:

Período Antigo - desde o início da era cristã até a "queda" de Roma (em 476, o general germânico Odoacro depôs o último imperador romano ocidental, Rômulo Augústulo) ou o pontificado de Gregório Magno (590-604).

Período Medieval - do final do período antigo até a Reforma Protestante. Daí a designação "Idade Média", ou seja, entre a Antiga e a Moderna. Preconceitos: época de barbarismo, ignorância, superstição; a "Idade das Trevas".

- Por sua vez, o período medieval se subdivide em três: (a) Idade Média Antiga: colapso final da velha civilização romana; (b) Alta Idade Média ou período gótico: reconstrução, surgimento de uma nova civilização; (c) Idade Média Posterior: a partir de 1300; novas crises e transformações.

Bibliografia acadêmica

- História da Europa (Império Romano, invasões bárbaras, reconfiguração política e social)
- História do cristianismo (Igreja antiga e medieval, papado, Igreja e estado)
- História medieval (feudalismo, Sacro Império, surgimento das nações-estado)
- História do islamismo (surgimento, expansão, califados, cultura)
- História do cristianismo e islamismo (influências mútuas; quatro períodos de conflitos: séculos VII-VIII, séculos IX-X, séculos XI-XIII, séculos XIV-XV)
- História das cruzadas (antecedentes, motivações, conflitos armados, conseqüências)

Eixos de discussão:

- Aspecto geopolítico;
- Aspecto religioso e ideológico;
- Tendências da pesquisa: defesa da posição cristã ou islâmica;
- Multiculturalismo; revisão crítica da história do Ocidente;
- Temas: tolerância e intolerância, diálogo inter-religioso, fundamentalismo religioso;
- A questão da subjetividade/objetividade histórica;
- Necessidade de equilíbrio e simpatia em relação ao tema, especialmente à luz dos acontecimentos atuais (pós 11 de setembro de 2001).

2. Trajetórias cristã e muçulmana no Ocidente

2.1 Origens cristãs
O cristianismo não nasceu em um vácuo, mas sofreu a influência decisiva de uma tradição religiosa anterior - o judaísmo. Ao mesmo tempo, afastou-se dessa tradição religiosa matricial de maneiras significativas.

Como várias outras das chamadas religiões mundiais, o cristianismo teve um "fundador", uma personalidade criativa inicial, Jesus de Nazaré ou Jesus Cristo, ainda que ele nunca tivesse pretendido fundar uma nova religião.

Do judaísmo, Jesus e seus primeiros seguidores herdaram vários valores importantes: o monoteísmo, a ética elevada e as Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento), embora a versão mais usada nos primeiros tempos tenha sido a Septuaginta grega (LXX).

Os dois séculos e meio que vão de Nero até Diocleciano foram um período de conflitos de duração e intensidade variável entre o estado romano e os cristãos. Essa época ficou gravada no imaginário cristão como o período heróico das perseguições contra a Igreja Primitiva. Além da perseguição de Nero (c. 64), bem-atestada por autores cristãos e não-cristãos, destacaram-se aquelas promovidas por Domiciano (95), Marco Aurélio (177), Septímio Severo (202), Décio (250) e especialmente Diocleciano e Galério (305-311). Os mártires derem origem ao culto dos santos.

2.2 Origens islâmicasCerca de um ano após a morte de Maomé, Abu Bakr, seu sucessor, ordenou a compilação dos ensinos do profeta; mais tarde, por causa das variantes e confusões surgidas, Otman, o terceiro califa (644-656), ordenou uma revisão final do texto e a destruição de todas as cópias anteriores.

Doutrinas essenciais
    1. Crença em um único Deus (Alá) - monoteísmo radical.
    2. Crença no Corão - Alá deu aos homens vários livros - a Lei a Moisés, os Salmos a Davi, o Evangelho a Jesus e o Corão a Maomé. Judeus e cristãos são os "povos do livro".
    3. Crença nos profetas de Alá - o Corão menciona 28 profetas; 22 pertencem ao Antigo Testamento e três ao Novo Testamento (Zacarias, João Batista e Jesus); outro é Alexandre, o Grande. Maomé é o último e maior dos profetas.
    4. Crença nos anjos: intercedem pelos homens junto a Alá; Gabriel é o arcanjo (é chamado o "Espírito Santo"); jinns ou gênios são espíritos intermediários entre os homens e os anjos; um dos jinn é o diabo (Shaitin ou Iblis); é acompanhado de shaiyatin, demônios.
    5. Crença no juízo final, paraíso e inferno: no fim do mundo haverá uma ressurreição geral. O paraíso é descrito com abundantes prazeres para os sentidos (rios e jardins, ricas iguarias e diversos deleites sensuais). O inferno também é descrito com muito realismo.
    6. Crença no destino (kismet): tudo está predestinado por ordem de Alá; fatalismo absoluto.
Deveres essenciais (os pilares do islamismo)
    1. Recitação diária da confissão (Shahadah): "Não existe deus senão Alá e Maomé é o seu profeta". A simples repetição desse credo é aceita como prova de conversão ao islamismo.
    2. Oração (Salat): os fiéis devem orar cinco vezes ao dia, de preferência em uma mesquita ou então sobre um tapete, voltados para Meca, a cidade sagrada do Islã, na Arábia Saudita. Nas sextas-feiras realizam-se cerimônias especiais.
    3. Esmolas (Zakat): a conversão ao islamismo supõe claramente o pagamento desse imposto de 2,5% dos rendimentos para os pobres e necessitados.
    4. Jejum (Sawm): especialmente no mês sagrada de Ramadã (9º mês), durante o dia.
    5. Peregrinação a Meca (Hajj): pelo menos uma vez durante a vida, para caminhar ao redor da mesquita sagrada e beijar a pedra da Ka'ba sete vezes; em caso de impossibilidade, pode-se mandar um substituto.
    6. Jihad: alguns consideram como outro pilar a luta espiritual particular ou o esforço em prol da expansão do islã por todo o mundo. Às vezes é entendida como defesa do território muçulmano e agressão militar ("guerra santa").
Maomé e o cristianismo: a falta de familiaridade de Maomé com o cristianismo ortodoxo e com a Bíblia fica evidente no Corão. O livro refuta as afirmações cristãs de que Jesus morreu na cruz (Sura 4:157), de que ele era o filho de Deus e de que Deus é um ser triúno, mas também questiona afirmações que os cristãos nunca fizeram, como a de que Maria era irmã de Arão e Moisés (Sura 19:28) e era parte da Trindade.

No ano 711, os omêiades atravessaram o estreito de Gibraltar sob o comando de Tarik (daí Gibraltar = Jebel al-Tarik = "rocha de Tarik") e invadiram a Península Ibérica, ocupando a maior parte do território até 716. Os sobreviventes cristãos se retiraram para as montanhas do noroeste, onde se prepararam para resistir ao invasor. Em seguida, os mouros ou sarracenos atravessaram os montes Pirineus e entraram na França, mas foram finalmente derrotados por um exército cristão comandado por Carlos "Martelo", avô do futuro imperador Carlos Magno (Batalha de Tours ou Poitiers, 732). (Ver Crônica de S. Dinis, CH, p. 22.)

Continuando o seu ataque contra a cristandade em seus dois extremos, quase ao mesmo tempo os muçulmanos marcharam contra o Império Bizantino. Em 717-718 eles desembarcaram na Ásia Menor e cercaram Constantinopla. Se tivessem tomado a cidade, poderiam ter conquistado todo o continente. Mas os bizantinos resistiram. Sua capital só iria cair diante do islã muitos séculos mais tarde. Em 750, estava encerrado o primeiro grande período de expansão islâmica.

A maior parte dos muçulmanos crêem que Maomé era sem pecado, mas não divino, e que era analfabeto. Seu status profético não pode ser questionado. Ele constitui o maior exemplo para todos os aspectos da vida. Alá lhe deu permissão para ter 12 esposas, ao contrário dos outros muçulmanos (4).

Fundador
: Maomé (Muhammad, c. 570-632). As tradições sobre ele são conhecidas como hadith. Sua vida pode ser dividida nos seguintes períodos: - Um árabe comum(até 35 anos) - nasceu em Meca, principal cidade da Arábia, centro de animismo e idolatria; foi criado pelo tio Abu Talib; dedicou-se a atividades de pastoreio e comércio (caravanas); visitou a Síria e a Palestina, onde teve alguns contatos com judeus e cristãos, dos quais teria recebido suas concepções monoteístas; casou-se com uma rica viúva, Kadijah, com a qual teve a filha Fátima.

Em busca de luz religiosa (35-40 anos) - resolveu um conflito entre três sheikhs no templo de Meca (Ka'ba); concluiu que podia ser um grande líder religioso de seu povo, então muito dividido; estava descontente com as condições sociais e morais existentes.

Visões e prédicas sem êxito (40-52 anos) - em um período de crise, sentiu-se chamado pelo anjo Gabriel a pregar a religião de um Deus absoluto, criador, poderoso e juiz do mundo; continuou a ter visões por doze anos; sua mensagem de monoteísmo e juízo futuro e sua denúncia da idolatria e do infanticídio tiveram pouca repercussão em Meca. Aos 50 anos (620), segundo o Corão, Alá confirmou o seu chamado levando-o à noite para Jerusalém (Cúpula da Rocha), onde ele conversou com Jesus, Moisés e Abraão. A seguir, ele e o anjo subiram por uma escada ao sétimo céu.

Fuga ou emigração - Hégira (52 anos) - com apenas um companheiro, Abu Bakr, fugiu de Meca para salvar a vida, indo para Yatrib (depois Medina = "a cidade do profeta"), 370 km ao norte. Ponto de partida do calendário muçulmano: 622 d.C.

Evolução teocrática em Medina (52-60 anos): estabeleceu o governo de Alá; implantou todo um sistema religioso, político e social com base nos princípios da nova fé. A primeira vitória contra os inimigos de Meca ocorreu na Batalha da Badr (624). À medida que se fortalecia como líder, adotou novas práticas na sua política e modo de viver (postura na oração, jejum no Ramadã, atitude quanto aos judeus, poligamia).

Soberania absoluta em Meca (60-62 anos): com a capitulação de Meca, estendeu a sua soberania política sobre toda a Arábia. Destruiu os ídolos da Ka'ba, exceto as imagens de Jesus e Maria. Morreu em Medina em 8 de junho de 632, após uma rápida febre, nos braços de Aisha, a esposa favorita do seu harém.

A atividade principal era o pastoreio e o comércio através das caravanas; os árabes controlavam o comércio entre o Oceano Índico e o Mar Mediterrâneo. Foi nesse contexto que surgiu o islamismo.

Todavia, as cidades do noroeste da Arábia ("Hijaz") permaneceram isoladas da difusão do cristianismo entre os árabes sírios. Além de alguns poucos cristãos, havia algumas comunidades judaicas na Arábia. A forma religiosa predominante era o politeísmo animista, mas parece que também existia a crença em uma divindade suprema acima dos muitos deuses O cristianismo teve um efeito aglutinador semelhante e no final do quarto século já havia surgido uma cultura cristã árabe amadurecida. O desenvolvimento dessa cultura foi facilitado no quinto século pela difusão do nestorianismo e do monofisismo, que tinham em comum a oposição à Igreja Bizantina Oficial.

A aliança com Bizâncio acelerou o surgimento de um senso de identidade nacional árabe e a elevação do seu idioma à categoria de uma língua literária. A inscrição de Namara, a mais antiga ocorrência conhecida de uma forma lingüística que pode ser identificada como arábica, é o epitáfio de Imru' al-Qays (m.328), no qual ele se identifica como "Rei de Todos os Árabes.

Geopoliticamente, os árabes estavam na periferia de dois grandes impérios, o Império Bizantino (Síria e Egito) e o Império Sassânida (Pérsia e Mesopotâmia), dos persas zoroastrianos. A terra em que habitavam incluía o deserto da Síria, ao norte, e a Península Arábica, ao sul. Os sírios tinham estreitas ligações com os bizantinos, dos quais receberam dois importantes elementos - o cristianismo e a monarquia centralizada.

Um dado final é a questão geopolítica. No quarto século, o Império Romano havia se dividido em dois por razões administrativas: Império Ocidental, com sede na Itália, e Império Oriental, com sua capital em Constantinopla. No século quinto, com a contínua infiltração germânica, o império ocidental chegou ao fim. No entanto, o Império Oriental haveria de perdurar por mais mil anos, com o nome de Império Bizantino. Foi esse o império que mais sofreu com a eventual expansão do islamismo.

Às vésperas de surgir o islamismo, a Igreja Cristã estava solidamente estabelecida em quase toda a orla do Mediterrâneo, em algumas regiões já há vários séculos. A fé cristã também se expandia entre os povos bárbaros que ocuparam progressivamente a Europa, como os visigodos (arianos) e os francos (católicos.

Esse período continuou a ser marcado por dissidências ou "heresias", como foi o caso do arianismo, do nestorianismo, do monofisismo, do donatismo, do maniqueísmo e do pelagianismo, entre outras.

Esses séculos também marcaram a chamada "idade de ouro da patrística", ou seja, o período em que viveram os maiores Pais da Igreja: no Oriente grego, vultos como Atanásio de Alexandria, Eusébio de Cesaréia, os três capadócios (Basílio de Cesaréia, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo) e João Crisóstomo; no Ocidente latino, Ambrósio de Milão, Jerônimo e o maior de todos, Agostinho de Hipona.

A "Igreja Católica", legalizada por Constantino e declarada oficial por Teodósio (380), preocupou-se também em definir o seu corpo doutrinário, especialmente no tocante ao ser de Deus. O quarto e o quinto séculos foram a época dos primeiros concílios ecumênicos da Igreja: os de Nicéia (325) e Constantinopla (381) definiram a doutrina da trindade e os de Éfeso (431) e Calcedônia (451) articularam o entendimento da pessoa de Cristo em suas duas naturezas, divina e humana.

A chamada "Igreja Imperial" aperfeiçoou extraordinariamente a sua estrutura, fundada sobre a hierarquia, tendo no alto os bispos; o bispo de Roma adquiriu status cada vez mais elevado, até o desenvolvimento completo do papado, no quinto século - Leão Magno (440-461) é considerado o primeiro papa no pleno sentido da palavra.

No início do quarto século, com o surgimento do primeiro imperador romano cristão, Constantino (313), a história da Igreja iniciou um período radicalmente diferente. De uma comunidade reprimida, a Igreja, devido à sua associação com o estado, passou a ser uma instituição privilegiada, rica e influente. Ao mesmo tempo, surgiu uma série de escritores e intelectuais cristãos que se propuseram a articular, expor e defender a fé cristã contra seus contestadores internos e externos. São os primeiros "Pais da Igreja", vultos como Inácio de Antioquia, Justino Mártir, Irineu de Lião, Tertuliano de Cartago (pai da teologia latina), Clemente de Alexandria, Orígenes e Cipriano de Cartago.

Esse período também foi marcado por grande fermentação na área teológica, com o surgimento de vários movimentos dissidentes, formas alternativas de cristianismo. As mais conhecidas são o docetismo, o gnosticismo, o marcionismo, o montanismo e o monarquianismo. A igreja majoritária denominava-se "católica" e caracterizava-se por três elementos de coesão: o episcopado, o credo e o cânon.

Com isso, a fé cristã inseriu-se de modo profundo no mundo greco-romano, na civilização helênica que vinha desde a época de Alexandre, o Grande. Logo o grego se tornou a língua predominante dos cristãos, o que fez com que todo o Novo Testamento tenha sido escrito nesse idioma (e somado ao Antigo Testamento também em grego). De modo espontâneo e informal, o cristianismo se expandiu em todas as direções a partir da Palestina. Todavia, a direção principal do crescimento foi na direção do noroeste, ou seja, da Europa. Progressivamente, foram alcançados, no Oriente Médio, a Síria, a Ásia Menor (atual Turquia) e mais tarde a Armênia e a Mesopotâmia; no norte da África, o Egito, a Etiópia, a Líbia e mais adiante a Numídia (Cartago); na Europa, a Península Balcânica (Grécia, Macedônia), a Itália, a Gália (França) e a Britânia.

Inicialmente judaico, o movimento cristão teve de enfrentar um grande desafio ao decidir o que fazer com os elementos não-judaicos (gentios) que buscavam filiação. A decisão em favor da abertura aos não-judeus, registrada em Atos dos Apóstolos, capítulo 15, teve vastas conseqüências para o cristianismo, permitindo que viesse a se tornar uma religião internacional, multi-étnica e multicultural.

Os ensinos, ações e experiências de Jesus, bem como as experiências dos seus primeiros seguidores e suas reflexões acerca da mensagem e pessoa de Jesus eventualmente se cristalizaram em uma série de documentos que vieram a constituir o conjunto de 27 livros sagrados especificamente cristãos - o Novo Testamento -, com suas três coleções de escritos: os evangelhos (sinóticos e João), as cartas de Paulo (tendo Atos dos Apóstolos como elo de ligação) e as chamadas cartas gerais (mais o Apocalipse).

Ao mesmo tempo, Jesus deixou claro que ele também era parte da sua mensagem, da nova proposta de relacionamento das pessoas com Deus (o Pai) e umas com as outras. As primeiras tradições acerca de Jesus (os evangelhos) deixam claro que ele se considerava o Filho de Deus, o Messias prometido, e que tanto a sua vida e ensinos quanto especialmente a sua morte e ressurreição tinham um sentido reconciliador, redentor.

O conceito básico da sua mensagem foi o "Reino de Deus" (o evangelho ou boas novas do reino), uma nova realidade em que a soberania de Deus é reconhecida e aceita e onde toda a vida e relacionamentos são transformados mediante a adoção dos novos valores.

Jesus reinterpretou e aprofundou os ensinos do Antigo Testamento, dando ênfase especial a alguns de seus elementos mais significativos como a igualdade fundamental de todos os seres humanos e uma ética baseada no amor e na solidariedade.
Nos anos 691-694, os muçulmanos construíram em Jerusalém, na esplanada do antigo templo, a Mesquita Al-Aqsa e a Cúpula da Rocha, no local em que Maomé teria subido ao sétimo céu. Os muçulmanos conquistaram a Armênia em 693, dominando-a até 862. Após a conquista do Oriente Médio e do Egito, os exércitos islâmicos marcharam ao longo da costa mediterrânea da África. Cartago foi conquistada em 698 e em seguida o restante do norte da África. Jeremy Johns aponta uma diferença entre as conquistas dos primeiros califas e as dos omêiades, atribuindo-a ao fermento ideológico que levara o islã à maturidade (p. 169).

Durante o califado de 'Umar, os exércitos islâmicos conquistaram sucessivamente a Síria, a Palestina, o Iraque e o Egito. Jerusalém foi tomada em 638 e Cairo (Fustat) foi fundada em 641. (Ver Pacto de Omar, CH, p.18.) O objetivo dessas conquistas foi mais político (a união dos povos árabes) do que ideológico. Damasco passou a ser a sede do califado omêiade (660-750), que incluiria a Síria, o norte da África e a Espanha.Divisões políticas: - Califado omêiade (660-750): de 'Umar; Síria, Norte da África e Espanha- Califado abássida (750-1258): de Abul Abbas; Bagdá- Califado espanhol: Córdova (755-1031) e Granada (1238-1492)- Califado fatímida (910-1171): de Fátima; Egito e norte da África- Califado otomano (1281-1924): tomou Constantinopla em 1453 e o Egito em 1517.

Principais seitas:

(a) Sunitas: grupo majoritário; insistem no sunna (caminho) que vem do fundador sem interrupção. Afirmam que os quatro califas foram sucessores legítimos de Maomé.
(b) Xiitas: sustentam que os legítimos sucessores são os familiares de Maomé, a começar do seu primo e genro Ali. Esses sucessores (em número de 7 ou 12) são conhecidos como "imãs". Os xiitas estão principalmente no Irã e na África. Shia = "seita".
(c) Sufis (de suf = veste de lã tosca): místicos com tendência panteísta; concentram-se no Irã e na Índia.História posterior: Maomé morreu sem deixar um sucessor designado. Por 28 anos, a liderança foi exercida por quatro companheiros pessoas do profeta, os califas (= representantes ou sucessores): Abu Bakr (632-634), 'Umar (634-644), Otman (644-656) e Ali (656-660), cujo assassinato dividiu o islamismo para sempre em seitas.Maomé se considerava um herdeiro das tradições judaica e cristã e a parte inicial do Corão expressam a esperança de que os "povos do Livro" aceitem Maomé como profeta. Partes posteriores do livro fazem forte polêmica contra os dois grupos. Mesmo assim, Maomé manteve uma atitude positiva para com os cristãos em geral e decretou que eles (e os judeus) deviam receber proteção sob o domínio islâmico.

Segundo o islã, Jesus era um profeta de Deus, porém inferior a Maomé. Ele nasceu da virgem Maria e realizou muitos milagres, mas foi protegido da morte por crucificação e não ressuscitou dentre os mortos. Ele subiu ao céu após a morte e retornará à terra. Era um muçulmano fiel ou seguidor de Alá.O Corão é constituído de 114 capítulos ou "suras", que formam um volume um pouco menor que o Novo Testamento.

O primeiro capítulo contém uma breve oração inicial, a famosa Fatiha. Em seguida, os capítulos estão dispostos segundo o seu tamanho, desde o maior, com 286 versículos, até os mais breves no final, dos quais o menor tem apenas três versículos. Todos os capítulos, exceto o nono, começam com uma fórmula: "Em nome de Alá, o Compassivo, o Misericordioso".Livro sagrado: Corão (Qur'an = "recitação"). O islamismo é a única religião mundial cujos livros sagrados declaram ser a revelação do próprio Deus ao fundador, considerado o último e maior dos profetas. Quem fala no Corão é principalmente Alá. Os muçulmanos crêem que o Corão foi revelado a Maomé pelo arcanjo Gabriel.
Os séculos IX e X testemunharam várias incursões muçulmanas no Mediterrâneo cristão. A conquista de Creta (823) preparou o caminho para a invasão da Sicília (827), cuja conquista foi concluída em 902. Nessa ocasião, um exército islâmico invadiu a Itália e fez nova tentativa frustrada de atacar Constantinopla a partir do oeste.

A Sicília permaneceu nas mãos dos árabes até 1092 e ao longo dos séculos IX e X serviu de base para ataques contra as duas costas da Itália. Em 846, a própria Roma foi atacada.No ano 1000, a maior parte da população da Terra Santa talvez ainda fosse cristã. Isso começou a mudar por duas razões. Primeiro, um novo líder muçulmano local, o califa el-Hakim, perseguiu ferozmente cristãos e judeus, e ordenou a destruição da Igreja do Santo Sepulcro (1009), que havia sido reconstruída (também perseguiu os coptas no Egito).Em segundo lugar, os turcos seljúcidas, nômades pagãos das estepes da Ásia central, invadiram o Oriente Médio. Em 1055, eles capturaram Bagdá, ganhando o controle do califado abássida (750-1258). Ironicamente, ao conquistarem os árabes, os rudes turcos se converteram ao islã. Eles ocuparam a Palestina de 1071 a 1098, quando foi retomada pela dinastia fatímida xiita do Egito.

Nesse período, os turcos perseguiram os cristãos locais.Os bizantinos haviam por um século reconquistado a Armênia e boa parte da Síria. Agora, os turcos penetraram fundo na Armênia, Geórgia e Anatólia, até derrotar completamente os bizantinos em Manzikert (1071), nas cercanias do lago Van. Com isso, estes perderam definitivamente a Ásia Menor, o celeiro e campo de recrutamento do império. Bizâncio apelou várias vezes à cristandade latina em busca de socorro contra os turcos. Vinte e cinco anos depois, a Europa ocidental respondeu com a Primeira Cruzada.

Conseqüências: as conquistas muçulmanas foram um rude golpe para o cristianismo, principalmente para a Igreja Oriental. Grande parte dos mais antigos e florescentes centros cristãos foram perdidos definitivamente: Palestina, Síria, Ásia Menor, Egito, Numídia. Todavia, várias igrejas minoritárias conseguiram sobreviver nos novos domínios islâmicos (monofisitas sírios, coptas, armênios, nestorianos). Estes últimos chegaram até Pequim (monumento nestoriano em Sianfu, do ano 781, refere-se a um missionário que ali esteve 146 anos antes).A cristandade européia estava em crise e sem condições de enfrentar os invasores islâmicos. Aprofundava-se cada vez mais o fosso entre cristãos romanos e gregos. O papado experimentou longos períodos de decadência, como no século X (ver Duffy, Santos e pecadores, 83, 86).

Depois do reinado de Carlos Magno, tardou a surgir uma autoridade central forte. A Europa estava fragmentada política e territorialmente.3. As CruzadasEm 1095, o Ocidente finalmente respondeu ao drama dos cristãos orientais organizando a primeira cruzada. Cruzadas = campanhas militares movidas pelos cristãos europeus com o objetivo de repelir o avanço turco e libertar a Terra Santa das mãos dos infiéis.Motivações das cruzadas (mistura de motivos religiosos e profanos):

a) Libertar os locais sagrados das origens do cristianismo.
b) Facilitar as peregrinações à Palestina (os primeiros cruzados se consideravam peregrinos).
c) Lutar contra os infiéis: iniciativa do papado reformista.- Adaptação e ampliação da doutrina da guerra justa (Agostinho): promessa de vida eterna em caso de morte (mártir) ou de indulgência plenária; contrato com Deus.

- Canalizar as energias ociosas da classe guerreira (Trégua de Deus ou Paz de Deus); surgimento dos cavaleiros cristãos (militia Christi).d) Benefícios materiais: apropriar-se das terras ocupadas, atração do saque ou pilhagem, aventura no Oriente exótico e misterioso.

1ª Cruzada (1096-1099): pregada pelo papa Urbano II no Concílio de Clermont (novembro de 1095): "Deus vult". Foi estimulada por uma ofensiva dos turcos seljúcidas na Ásia Menor, que pressionava a fronteira oriental de Bizâncio. Em 1099, Jerusalém foi capturada, em meio a horrível massacre da população (muçulmanos, judeus e árabes cristãos). Foi criado o Reino Latino de Jerusalém (1099-1187, 1229-1244). Nos vinte anos seguintes, uma série de estados cruzados foi estabelecida no Oriente. As cruzadas subseqüentes foram instigadas para defender esses reinos.Em 1118, foi criada a ordem dos Cavaleiros Templários para proteger os peregrinos; depois surgiram os Hospitalários e os Cavaleiros Teutônicos (monges guerreiros).
Os templários foram destruídos em 1312 por pressão de Filipe IV da França sobre o papa Clemente V.

2ª Cruzada (1147-1149): Bernardo de Claraval proclamou a necessidade de nova cruzada para libertar Edessa, que havia sido tomada pelo sultão de Alepo em 1144. Essa cruzada fracassada teve como líderes os reis Luís VII da França e Conrado III da Alemanha. Vinte anos depois, subiu ao poder no Egito o grande sultão Saladino (1169-1193), que liderou uma contra-ofensiva islâmica. Ele capturou Jerusalém em 1187, destruindo o exército cruzado.

3ª Cruzada (1189-1192): a tomada de Jerusalém levou à convocação de nova cruzada, que falhou no intento de libertar a Cidade Santa. Foi liderada pelo inglês Ricardo Coração de Leão, pelo alemão Frederico Barba Roxa e pelo francês Filipe II (Augusto).

4ª Cruzada (1202-1204): os bizantinos tinham uma postura dúbia; precisavam de auxílio militar contra os turcos, mas ao mesmo tempo se ressentiam com a criação dos estados cruzados. A rixa Oriente-Ocidente levou a uma nova cruzada, em que um exército de venezianos, franceses e flamengos saqueou Constantinopla (ver Noll, Momentos Decisivos, 146). Foi estabelecido um império latino com sede naquela cidade (1204-1261). Alguns anos depois, ocorreu a infame Cruzadas das Crianças (1212).O saque de Constantinopla envenenou de maneira profunda as relações entre o Oriente e o Ocidente e foi a causa principal da ruptura definitiva das duas grandes tradições cristãs (Igrejas Grega e Latina).

Outras cruzadas:(a) 5ª Cruzada (1217-1221): foi liderada pelo "rei de Jerusalém" (João de Brienne) contra Damieta, no Egito, e terminou em fracasso.
(b) 6ª Cruzada (1228-1229): liderada pelo imperador excomungado Frederico II, libertou Jerusalém mediante um acordo com o sultão; Jerusalém seria perdida definitivamente em 1244.
(c) 7ª e 8ª Cruzadas (1248-1254, 1270): liderada por Luís IX, que morreu vitimado pela febre em Túnis, na Tunísia (1270); foi canonizado em 1297. Os cruzados se retiraram definitivamente da Palestina em 1291, com a queda de Acre.4. ConseqüênciasAs cruzadas deixaram junto aos muçulmanos e bizantinos uma imagem de barbarismo. Elas nunca representaram uma ameaça militar para o islã, mas a própria existência dos estados cruzados causou grave ofensa aos muçulmanos: a profanação da Cidade Santa, a redução da população islâmica à condição de súditos inferiores, a interferência no hajj e outras obrigações religiosas, tudo isso representou uma afronta à dignidade coletiva do islã.

A expulsão dos cruzados também constituiu uma humilhação duradoura e amarga para o orgulho cristão. Essas velhas feridas seriam reabertas nos séculos XIX e XX. Para outras conseqüências, ver González, Story of Christianity, I:298-300).O único ganho militar duradouro das cruzadas para a cristandade foi o controle naval do Mediterrâneo e suas ilhas. A principal conseqüência estratégica de longo prazo foi interna: a 4ª Cruzada destruiu as defesas bizantinas da fronteira oriental da Europa, abrindo caminho para a conquista islâmica dos Bálcãs, da Grécia e da Europa oriental.

Os otomanos: no século XIII, uma nova força muçulmana surgiu na Ásia Menor: os turcos otomanos. Em 1300, o sultão Osman I fundou o Império Otomano na atual Turquia. As nações cristãs dos Bálcãs começaram a cair diante do avanço da nova potência: Sérvia (1ª batalha de Kosovo, 1389), Bulgária (1393), Hungria (2ª batalha de Kosovo, 1448).Os bizantinos ficaram apenas com a cidade de Constantinopla, que finalmente foi tomada em 1453 (com a morte do último imperador, Constantino XI).

A monumental igreja de Hagia Sophia (dedicada pelo imperador Justiniano em 27-01-537) foi transformada em uma mesquita. [Depois que a Turquia tornou-se uma república secular, em 1924, o templo passou a ser um museu cultural e os historiadores da arte puderam restaurar muitos elementos cristãos.Nos 200 anos seguintes, a Europa suplantou progressivamente o podes islâmico. Os muçulmanos perderam o controle do comércio asiático terrestre e nunca desenvolveram a tecnologia naval para concorrer com os europeus no mar.Em 1683, os otomanos lançaram o seu último ataque contra a Europa, fazendo o segundo cerco de Viena (o primeiro havia sido em 1529). A cidade foi salva por um exército polonês. O mundo islâmico estava caindo em um longo período de declínio do qual só iria despertar no século XX.

Além da guerra, houve outras respostas cristãs ao islã na Idade Média, na forma de polêmica escrita e tentativas de conversão. - Pedro, o Venerável, abade de Cluny, promoveu o estudo do islamismo e a tradução do Corão para o latim (1143). Em 1219, durante o cerca de Damieta, no Egito, Francisco de Assis tentou pregar ao sobrinho de Saladino, o sultão Malik al-Kamil.- Tomás de Aquino escreveu a Summa Contra Gentiles (1238), uma apologética contra o islã.- O maior missionário medieval aos muçulmanos foi o espanhol Raimundo Lull, morto por uma turba na Argélia em 1315.

A Península Ibérica: o antigo reino visigótico da Espanha havia sido destruído pelos muçulmanos no século VIII e somente alguns resquícios do mesmo continuaram a ter precária existência na região das Astúrias, ao norte. Mais tarde, os francos firmaram sua influência no leste. Desses dois pontos partiu a longa luta conhecida como Reconquista.Na unificação da Espanha cristã, a "descoberta" do túmulo de São Tiago desempenhou um papel importante. No século IX, ele havia se tornado um dos principais locais de peregrinação para os cristãos da Europa ocidental. Eventualmente, Santiago tornou-se o padroeiro da luta contra os muçulmanos - Santiago Matamoros.

Em 1002, morreu o último dos grandes califas de Córdoba e as terras muçulmanas foram divididas em muitos pequenos reinos. Foi isso que deu ímpeto à Reconquista. Em 1248, o único estado mouro na península era o Reino de Granada, que sobreviveu pagando tributo ao rei de Castela e finalmente foi vencido pelos reis católicos Fernando e Isabel em 1492, o ano em que Colombo chegou à América.Os muçulmanos souberam integrar ou preservar as populações cristãs que viviam entre eles. Até hoje, existem antigas comunidades cristãs em vários países árabes (igreja copta do Egito, etc.). Os cristãos não tiveram a mesma preocupação, revelando-se hostis contras as comunidades muçulmanas.

Na Espanha, as ações estatais e eclesiásticas contra os mouros e os judeus foram facilitadas pela criação da Inquisição Espanhola, mediante aprovação papal, em 1479.Foi no contexto da reconquista que nasceu Portugal. Afonso Henriques, o fundador da primeira dinastia portuguesa, a Casa de Borgonha (1139), tomou Lisboa dos sarracenos em 1147, com a ajuda de cruzados ingleses e franceses. Finalmente, os muçulmanos entregaram o Algarve, em 1249.Gilberto Freyre analisa a enorme influência moura na formação da identidade lusitana (aspectos étnico, econômico e cultural) e seus reflexos diretos na colonização do Brasil. (Ver Casa-grande e senzala, 274-287) 5.

Realizações e contribuições culturais dos muçulmanos:
Arquitetura: Grande Mesquita de Damasco (705s);
Mesquita Azul de Córdova (786s);
Mesquita de Ibn Tulan, em Cairo (878);
Alcázar de Sevilha (1181s);
Alhambra (1248s).

Filosofia: filósofos mutazilitas (757-847);
Al-Kindi (803s); Al-Farabi (870-950);
Ibn Sina (Avicena, 980-1037);
Ibn Rush (Averróis, 1126-1198).
J. Johns: "A contribuição da sabedoria grega, transmitida através do islã, para o desenvolvimento da filosofia cristã, é tão grande que não pode ser quantificada" (p. 189).
As traduções do grego para o árabe começaram c. 800 em Bagdá e continuaram nos séculos IX e X.

Outras áreas:
medicina, história, geografia, ciência, física, teologia, poesia.

Outros nomes:
Al-Ghazali (teólogo, 1058-1111),
Omar Khayyam (poeta, 1038-1123)

Outras contribuições: algarismos arábicos (tomados dos indianos c. 750, que os haviam inventado c. 150 anos antes), cavalos, xadrez, utensílios, vocabulário:Sura 4:157: "E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o apóstolo de Deus, embora não sendo na realidade certo que o mataram nem o crucificaram, senão que isso lhes foi simulado.

E aqueles que discordam quanto a isso estão na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente em conjecturas; porém, em realidade, não o mataram". Sura 19:34-35: "Este é Jesus, filho de Maria; é a pura verdade, da qual duvidam. É inadmissível que Deus tenha tido um filho. Glorificado seja!"

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ATÉ AOS CONFINS DA TERRA...

ATÉ AOS CONFINS DA TERRA: AS MISSÕES MORÁVIAS

Com o seu zelo por Cristo, os irmãos morávios escreveram uma das páginas mais nobres das missões cristãs em todos os tempos. Nenhum grupo protestante teve maior consciência do dever missionário e nenhum demonstrou tamanha consagração a esse serviço em proporção ao número de seus membros. Seu grande líder inicial e incentivador na obra missionária foi o piedoso conde alemão Nikolaus Ludwig Von Zinzendorf (1700-1760).

1. Um notável organizador
Numa viagem a Copenhague para assistir a coroação do rei dinamarquês Cristiano VI, o conde Zinzendorf conheceu alguns nativos das Índias Ocidentais e da Groenlândia. Regressou a Herrnhut, na Saxônia, a sede do movimento, cheio de fervor missionário e, em conseqüência disso, dois obreiros, Leonhard Dober e David Nitschmann, iniciaram uma missão aos escravos africanos em Saint Thomas, nas Ilhas Virgens, em 1732. Christian David e outros missionários foram para a Groenlândia no ano seguinte.

Em 1734, um grupo liderado por August Gottlieb Spangenberg (1704-1792) começou a trabalhar na Geórgia, no sul dos futuros Estados Unidos. No Natal de 1741, o próprio Zinzendorf visitou a América e deu o nome de Bethlehem (Belém) à colônia que os morávios da Geórgia estavam criando mais ao norte, na Pensilvânia. Essa cidade se tornaria a sede americana do movimento. O mais famoso missionário morávio aos índios norte-americanos foi David Zeisberger (1721-1808), que trabalhou entre os creeks da Geórgia a partir de 1740 e entre os iroqueses desde 1743 até a sua morte.

Herrnhut, na Alemanha, tornou-se um vigoroso centro de atividade missionária, iniciando missões no Suriname, Costa do Ouro, África do Sul, Argélia, Guiana, Jamaica, Antigua e outros locais. Em 1748, foi iniciada uma missão aos judeus em Amsterdã. Até 1760, o ano da morte de Zinzendorf, os morávios haviam enviado 226 missionários a dez países e cerca de 3.000 mil conversos tinham sido batizados. Outros locais alcançados posteriormente foram o Egito, Labrador, Espanha, Ceilão, Romênia e Constantinopla.

Em 1832, havia 42 estações missionárias morávias ao redor do mundo. Os nomes dos primeiros campos missionários mostram uma característica do trabalho morávio: em geral eram locais difíceis e inóspitos, exigindo uma paciência e dedicação toda especial, traço que até hoje caracteriza o trabalho missionário desse grupo.

2. Uma reunião de oração excepcional
O renascimento da igreja morávia, em maio de 1727, havia resultado em grande parte de uma forte ênfase na oração. Nos meses seguintes, um espírito de oração tomou conta da pequena comunidade evangélica. No dia 27 de agosto daquele ano, 24 homens e 24 mulheres comprometeram-se a orar uma hora por dia de forma seqüencial, de modo que sempre houve alguém orando por missões.

Essa “vigília de oração” sensibilizou Zinzendorf e a comunidade morávia a tentarem alcançar outros para Cristo. Seis meses após o início da vigília, o conde desafiou os companheiros a evangelizarem as Índias Ocidentais, a Groenlândia, a Turquia e a Lapônia. No dia seguinte, 26 morávios se ofereceram como voluntários para as missões mundiais, aonde quer que Deus quisesse levá-los.

A vigília de oração prosseguiu sem interrupção, vinte e quatro horas por dia, durante mais de 100 anos. Em 1792, sessenta e cinco anos após o início da vigília, a pequena comunidade morávia havia enviado 300 missionários até os confins da terra.

3. A teoria de missões de Zinzendorf
Zinzendorf estabeleceu alguns princípios que deveriam nortear a atividade missionária dos morávios. Eles são os seguintes:

a) Busquem os primeiros frutos. Zinzendorf dizia aos voluntários que partiam de Herrnhut: “Não tenham como alvo a conversão de nações inteiras. Simplesmente procurem pessoas interessadas pela verdade, que, como o eunuco etíope, pareçam prontas para abraçar o evangelho” (ver Atos 8.27-28). Assim, os missionários morávios não saíam para o campo com expectativas exageradas. Isso os capacitava a enfrentar muitas situações em que os frutos surgiam lentamente, mas também lhes proporcionava profunda alegria quando grandes números de pessoas estavam prontas para abraçar a Cristo. Associada a isso estava a sua dependência do Espírito Santo, que, como o verdadeiro evangelista, os conduziria a almas como Cornélio ou o eunuco.

b) Preguem a Cristo. “Em segundo lugar”, instruía Zinzendorf, “vocês devem ser objetivos e falar-lhes sobre a vida e a morte de Cristo”. Alguns missionários haviam ido para culturas pagãs e tinham tentado em vão ensinar teologia ou começar com verdades sobre Deus. Zinzendorf partia do pressuposto de que os pagãos já sabiam sobre Deus, mas precisavam conhecer sobre o Salvador, especialmente seus sofrimentos sobre a cruz.

c) Vão para os povos esquecidos. As primeiras pessoas buscadas pelos morávios foram os escravos negros. Nos anos seguintes eles foram para os leprosos, os esquimós, os índios, os africanos, e parecem ter sido os primeiros a buscarem sistematicamente a conversão dos judeus.

d) Pelo reino de Cristo. Os morávios têm buscado aumentar o reino de Cristo, e não a sua própria expansão denominacional. Inúmeras sociedades de cristãos zelosos das igrejas tradicionais da Europa e da Inglaterra oraram, contribuíram e forneceram voluntários para a causa missionária mundial dos morávios no século 18.

e) Sejam auto-sustentados. Hutton observou que, na missão das Índias Ocidentais, “por mais de cem anos ninguém recebeu um centavo da Igreja Morávia por seus serviços; cada um... primeiro tinha de ganhar o seu próprio sustento”. Essa política era seguida em toda parte. Na década de 1750, uma carta do Suriname dizia: “O irmão Kam está colhendo café; o irmão Wenzel conserta sapatos; o irmão Schmidt está fazendo uma roupa para um freguês”.

Conclusão
Com seu heroísmo, apego às Escrituras e consagração a Deus, os irmãos morávios, embora pouco numerosos, exerceram uma forte influência espiritual sobre outros grupos e movimentos protestantes, especialmente na Inglaterra.

A convivência com alguns morávios causou profundo impacto em João Wesley e contribuiu para a sua conversão e o surgimento do metodismo. William Carey, o pioneiro das missões batistas, os admirava grandemente e apelou para o seu exemplo de obediência. Eles também inspiraram a criação de duas das primeiras agências protestantes de missões – a Sociedade Missionária de Londres (1795) e a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804).

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